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Eleições na Índia: crise mundial ofusca milagre econômico indiano

Após seis anos de crescimento fenomenal, a Índia, que realiza suas eleições legislativas de 16 de abril a 13 de maio, teme que a crise vinda do Ocidente enterre definitivamente o “milagre” econômico que enriqueceu centenas de milhões de seus cidadãos.

Para escapar à sanção das urnas, o Partido do Congresso no poder e seu concorrente, o Partido do Povo indiano (BJP, direita hindu), evitam cuidadosamente falar da famosa “Índia que brilha”, dos anos 2000, comprometendo-se, antes de mais nada, a melhorar a vida de 1,17 bilhão de indianos, dos quais mais da metade vivem abaixo do nível de pobreza.

No papel, no entanto, o governo de centro esquerda administrado desde 2004 pelo Partido do Congresso pode se gabar de ter conseguido até 2008 um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 9% ao ano, em média, colocando a Índia no décimo lugar do ranking mundial. Mas a máquina emperrou ano passado, depois que a crise nos EUA e na Europa contaminou o peso-pesado asiático.

“Diante da recessão no Ocidente, a Índia não está protegida nem imune”, admitiu nas últimas semanas o muito otimista ministro do Comércio, Kamal Nath. “Durante muito tempo, as elites políticas e econômicas negaram isso, mas está claro agora que a Índia não escapou ao marasmo do resto do planeta”, confirmou Joshi, economista da agência de notificação Crisil em Mumbai.

“A recessão começa a fazer realmente mal”, declarou. De fato, o PIB cresceu apenas 5,3% em um ano entre outubro e dezembro e esta taxa deve ser inferior a 7% em 2008-2009 (exercício encerrado no fim de março), o pior desempenho em seis anos. Pior, o Banco Mundial previu 5,5% e 4% em 2009-2010, muito longe de uma taxa de crescimento de dois dígitos que tiraria do subdesenvolvimento 620 milhões de indianos que vivem cada um com menos de 1,35 dólar por dia.

Inúmeros indicadores já estão no vermelho. A produção industrial, que representa 28% do PIB, vem se contraindo desde dezembro, algo que não ocorria havia 15 anos. As vendas de carros, bens de equipamentos e moradia estão estagnados e a deflação ameaça, enquanto o imenso mercado interno da Índia, e sua centena de milhões de residências das classes médias, é o motor do crescimento.

Quanto às exportações (15% do PIB), elas caíram ainda mais em fevereiro, dando continuidade à sua desaceleração iniciada em outubro. Ficaram em 170 bilhões de dólares em 2008-2009, quando o governo esperava 200 bilhões.

Então, a Índia perdeu dez milhões de empregos este ano nos setores exportadores como o artesanal e o têxtil, segundo a Federação das organizações exportadoras indianas. Enquanto isso, para não ter o mesmo destino que o BJP –humilhado nas eleições de 2004 com seu slogan “Índia que brilha”, o Partido do Congresso promete medidas para o indiano médio das cidades e principalmente do campo, onde vivem dois terços da população.

Ele comprometeu-se a conceder empréstimos para a agricultura, cuja produção manteve um crescimento de 4% ao ano nos últimos cinco anos, a fornecer ajudas ao emprego e à educação e 35kg de arroz por mês a três rúpias o quilo para cada família pobre.

O BJP respondeu oferecendo a mesma quantidade de cereais a duas rúpias. Os pobres pensam primeiro em pagar a comida, as contas da eletricidade e as passagens, explicou Sanjay Kumar, do Centro de Estudos das Sociedades em Desenvolvimento de Nova Délhi. “Os homens políticos sabem que falar em crescimento econômico não garante votos”, concluiu.

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