Michel Temer, Henrique Meireles, Aécio Neves, José Serra, Geraldo Alckmin, Lula da Silva, Marina Silva, Ciro Gomes e Jair Bolsonaro não são candidatos nas eleições municipais brasileiras de amanhã mas todos eles, com as presidenciais de 2018 no espírito, têm a perder ou a ganhar com os resultados. E é acima do tudo o tamanho da derrota, já garantida, do Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula da Silva, apesar de tudo líder das sondagens para o sufrágio de daqui a dois anos, que mais influi nas esperanças de toda a gente.
Derrota garantida do PT, sim, porque mesmo que as urnas o punam menos do que o esperado, com a diminuição de 40960 para 21629 candidatos a vereadores (menos 47%) e de 1829 para 992 candidatos a prefeitos (menos 46%), o partido no poder federal há 13 anos já entra em campo a perder.
Por outro lado, é competitivo, com boa vontade, em quatro capitais estaduais, quando há quatro anos ganhou seis: tem apenas Rio Branco, capital do Acre, certa e segue na luta pela segunda volta no Recife, em Porto Alegre e em São Paulo. Não é por acaso que, acossado pela Lava-Jato, o ex-sindicalista não tem sido visto nas campanhas na TV – aliás, até o símbolo do PT, a estrela dourada sobre fundo vermelho, anda desaparecida dos cartazes.
É em São Paulo que o PT e a maioria dos players mais arriscam. Caso o internacionalmente elogiado, mas localmente incompreendido, prefeito petista Fernando Haddad ceda o lugar ao líder das sondagens João Doria, do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), os tucanos, como são conhecidos os militantes do partido de centro-direita, podem festejar.
Ou, pelo menos, Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, mentor da candidatura e candidato declarado a 2018. “Se Deus quiser, com nossa força, com nossa vitória, Alckmin será presidente em 2018”, disse Doria com todas as letras. Porque foi Alckmin quem o impôs aos outros barões do PSDB paulistano, o presidente de 1995 a 2003 Fernando Henrique Cardoso e o actual ministro dos Negócios Estrangeiros José Serra, que preferiam Andrea Matarazzo.
Preterido por Doria nas primárias, Matarazzo desertou para o jovem Partido da Social-Democracia (PSD), pelo qual é candidato a vice-prefeito de Marta Suplicy, que, por sua vez, trocara o PT pelo Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB).
Ora o PMDB é o partido do presidente Temer e o PSD o partido de Henrique Meirelles, titular das Finanças, ambos candidatos velados a 2018, pelo que, se a dupla de dissidentes Marta-Matarazzo vencer (por enquanto está em terceiro nas pesquisas), o duo PMDB-PSD ganha ascendência sobre os polos PSDB e PT, que vêm monopolizando as lutas presidenciais desde 1995. Mas a aposta dos dois homens mais poderosos do governo é na derrota por goleada de Haddad e do PT.
“Os novos donos do Planalto usarão o resultado para deslegitimar o discurso do golpe e dizer que apenas se anteciparam à vontade da população ao apear os petistas do poder”, nota José Roberto de Toledo, no jornal O Estado de S. Paulo. Sobra um presidenciável tucano, Aécio Neves, cuja luta local é em Belo Horizonte, onde um seu aliado, João Leite (antigo guarda-redes do Vitória de Guimarães, a propósito), está no topo.
Porém, se Doria vence São Paulo, Aécio perderá para Alckmin a dianteira na luta interna no PSDB. Ainda à direita, Jair Bolsonaro, o defensor da ditadura militar do Partido Social-Cristão, aposta numa boa prestação no Rio do filho, Flávio Bolsonaro – quinto nas pesquisas – como prévia da sua candidatura em 2018. Se à direita todos apostam no estrondo da derrota do PT, à esquerda o quadro não é diferente. Marina Silva, do Rede, quer aproveitar a submersão petista para emergir qual D. Sebastião.
Mas o Rede, que prega a “nova política”, enreda-se na velha política: tem-se coligado Brasil afora com deus e com o diabo. “A minha formação é no campo da esquerda mas tivemos de reunir forças plurais para tentar vencer as eleições”, explica-se Clécio Luís, candidato competitivo do Rede a prefeito de Macapá, com apoio dos Democratas, da direita tradicional ao trotskista Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
Ainda à esquerda, Ciro Gomes, do Partido Democrático Trabalhista, tem pretensões de a unir em 2018 em caso de fracasso petista ou impedimento legal de Lula. Experiente – já foi prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, ministro de Itamar Franco e de Lula, duas vezes candidato à presidência – e a salvo de suspeitas de corrupção, conta ainda com o trunfo de manter relação cordial com o PT.
Há também o PSOL, que aposta forte em São Paulo, com a veterana Luiza Erundina, quinta nas sondagens, e mais forte ainda no Rio de Janeiro, com o, por agora, terceiro classificado Marcelo Freixo. O partido tem causas populares à juventude e quer ser protagonista à esquerda.
Em paralelo, registo para o fenómeno do Partido Republicano Brasileiro (PRB), braço político da Igreja Universal, que luta por influência. Tem aspirações à vitória nas prefeituras do Rio, onde o bispo Marcelo Crivella segue isolado, e de São Paulo, onde o apresentador de programas de defesa do consumidor Celso Russomanno na Record, TV da IURD, aparece em segundo, depois de liderar quase toda a corrida.