O surto do Ébola na África Ocidental pode infectar 20 mil pessoas até Novembro, a menos que rigorosas medidas de prevenção da infecção sejam implementadas, e pode “permanecer” por anos num padrão inalterado, disseram os pesquisadores, esta terça-feira (23).
Num artigo publicado no New England Journal of Medicine, os especialistas da Organização Mundial da Saúde e do Imperial College disseram que as infecções vão continuar a proliferar exponencialmente a não ser que os pacientes sejam isolados, os contactos rastreados e as comunidades monitoradas.
A OMS, num planeamento inicial divulgado a 28 de Agosto, previu que o vírus poderia infectar 20 mil pessoas nos próximos nove meses. O número actualizado de mortos chega a 2.811 pessoas entre 5.864 casos identificados, de acordo com os dados da agência de saúde da ONU.
O estudo mais recente, que marca o aniversário de seis meses desde que a 23 de Março a OMS tomou conhecimento do surto do Ébola no sul da Guiné Cconacri, reflecte as projecções baseadas em dados colectados a partir de uma terceira onda de avanço do vírus na Guiné Conacri, Serra Leoa e na Libéria, o país mais afectado.
“Com o crescimento exponencial, vamos observar um aumento no número de casos por semana de modo que até a segunda semana de Novembro, nesses três países, a nossa estimativa mais optimista é de mais de 20 mil casos, entre casos suspeitos e confirmados”, disse o dr. Cristopher Dye, director de estratégia da OMS e coautor do artigo, numa conferência de imprensa.
Espera-se que 10 mil desses casos sejam registados na Libéria, 5 mil em Serra Leoa e cerca de 6 mil na Guiné Conacri, disse ele. Mas esses números somente se tonarão realidade caso não seja implementado um controle de infecção mais intenso.
“Todos estão certamente a trabalhar muito duro para garantir que isso não seja a realidade que vamos ver”, disse Dye. “Ficarei surpreso se atingirmos 20 mil (casos) até lá”, acrescentou. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, anunciou na semana passada um plano de 1 bilhão de dólares que prevê a criação de uma missão especial para combater a doença.
“Se o controle for completamente bem-sucedido, da maneira que sabemos que pode ser, o Ébola vai desaparecer da população humana da África Ocidental e provavelmente retornar ao reservatório animal”, disse Dye, indicando morcegos comedores de frutas como prováveis hospedeiros.
Mas se os esforços de controle tiverem um sucesso somente parcial, a presença do vírus letal na população humana pode se tornar “um traço permanente da vida na África Ocidental”, disse Dye.
“A possibilidade alternativa que estamos a discutir é que a epidemia simplesmente permaneça, como permanecido pelos últimos meses, ao longo dos próximos anos, na ordem de anos, em vez de meses”, acrescentou o pesquisador.
