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É proibido ajudar?

É proibido ajudar?

Isabel António Sambo, de 54 anos de idade, não quis acreditar quando recebeu a intimação. Ela, que nunca cometerá crime algum, estava ser chamada para prestar declarações pelo Secretariado Administrativo do bairro Albazine, do Distrito Municipal no 4. Depois que recobrou o espanto pelo inusitado convite, a voluntária da associação Tzu Chi Foundation, percebeu o seu pecado: ela e mais um grupo de membros daquela organização de caridade ofereceram 6400 quilogramas de arroz aos residentes dos quarteirões 7, 8 e 9 daquele bairro sem “informar” as autoridades locais.

A notificação que chegou no dia 20 e apanhou Sambo, residente de Albazine, de surpresa exigia a sua presença em menos de 24 horas no local. A voluntária não se deixou intimidar e fez-se ao local na hora marcada: 10 horas.

A acusada faz parte de uma associação que ajuda pessoas carenciadas, pobres, enfermos e órfãos sem ganhar nenhum valor monetário em troca. Em depoimento prestado ao @Verdade, no calor da indignação, afirmou que “o país é dirigido por ladrões e gananciosos que não têm interesse nenhum pelo bem estar das pessoas”. Retirando, do seu discurso, as generalizações é incompreensível o teor da notificação e ainda mais o facto de um acto de caridade ter produzido tanta inquietação nas estruturas dos bairros.

O Secretariado Administrativo do Bairro Albazine, Distrito Municipal no 4, acusou Isabel Sambo, de distribuir arroz aos residentes locais sem informar as autoridades competentes. Entretanto, Isabel Sambo alega que tal comportamento é estranho, uma vez que tal processo decorreu com anuência do chefe do quarteirão 9, João Cossa, o qual autorizou o procedimento. Aliás, para Sambo trata-se de “perseguição de pessoas de má fé” que pretendiam servir de intermediários entre a associação e as populações carenciadas. Uma coisa que “não funciona porque, desse modo, o produto a ser doado acaba sempre em mãos erradas. Ou seja, o arroz iria cair nas mãos de quem não precisa e acabaria por ser vendido nos mercados informais”, assegura convicta.

“São pessoas habituadas a tirar dividendos em tudo, acrescenta para depois concluir que “nós ajudamos e continuaremos a ajudar os que mais precisam de apoio. Esta é a nossa vocação e ninguém poderá impedir-nos de continuar a amar o próximo”.

O porta-voz e também voluntário da associação, Paulo Massingue, mostrou-se indignado com a açcão das autoridades locais: “não faz sentido intimarem alguém porque predispôs-se a ajudar pessoas necessitadas. Curiosamente, o chefe da polícia local, Zacarias Ali, chegou a dizer que condenava o nosso acto por não termos distribuído arroz nos 58 quarteirões do Bairro Albazine,” contou chocado.

Paulo Massingue referiu que a acção beneficente, naquela bairro, teve lugar no ano passado no campo do quarteirão 9, no qual várias pessoas necessitadas de todos os quarteirões se fizeram presentes. Foram contempladas 320 famílias, sendo que cada agregado beneficiou de 20 quilogramas de arroz. No total foram distribuídos 6400 quilogramas.

Massingue não percebe a necessidade da notificação e muito menos o facto da polícia ter se imiscuído num acto de caridade. “Para mim é estranha a notificação e penso que se trata de má fé ou de excesso de zelo”, referiu.

Autoridades

@Verdade falou com o Adjunto do Secretariado Administrativo do Bairro Albazine, Distrito Municipal no 4, José Paz, que se pronunciou nos seguintes termos: ” Queríamos saber se eles tem credencial para distribuir arroz naqueles quarteirões porque os chefes locais não deram qualquer tipo de informação e garantiram que estavam à par das actividades da associação,” justificou.

“Então tomámos a liberdade de convocar a Isabel Sambo para nos esclarecer. Ficámos espantados quando vimos muitas pessoas a acompanhar a convocada. As pessoas não entendem que tudo têm regras e que as autoridades devem estar sempre a par de tudo que acontece”, acrescentou.

Os voluntários da associação, que estavam aglomerados no pátio do local do inquérito, mostraram-se apreensivos com a atitude das autoridades.”Nós ajudamos os carentes, cuidamos dos doentes abandonados, dos órfãos e fazemos isso sem ajuda de nenhuma estrutura governamental. Se não querem ajudar deviam, ao menos, não atrapalhar”, disse uma anciã que sintetizou o pesar de quem tanto faz para ajudar o próximo. “Afinal é proibido ajudar”, questionarem em coro.

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