Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

É possível relançar a indústria vidreira?

É possível relançar a indústria vidreira?

Com a venda da empresa Vidreira e Cristalaria de Moçambique, a indústria vidreira nacional está preste a dar um novo passo. A única unidade industrial do país com capacidade para produzir garrafas prepara-se para retomar a produção depois de estar paralisada durante dez anos. Mas será desta vez que se recupera a indústria vidreira?

Fundada em 1958, a Vidreira de Moçambique foi a primeira empresa moçambicana vocacionada para o fabrico de artigos de vidros montada no país. Entre os produtos que confeccionava, contavam-se garrafas para embalagens (vasilhame), pratos, chávenas, copos, cinzeiros e outros produtos.

Para o fabrico destes artigos, as matérias fundamentais que se utilizam são areia, carbonato de sódio, feldspato, dolomite, calcário e nitrato de sódio. Durante o tempo colonial e depois da independência, em 1975, a companhia foi uma referência na produção de vidro para embalagens e loiça para cozinha, não só no país, mas em toda a região da África Austral. Nacionalizada com o advento da independência, ela deixou de funcionar com o início da guerra.

Por volta de 1984, a empresa contava com cerca de 900 trabalhadores e os artigos da fábrica estavam divididos em dois grandes sectores de produção, nomeadamente “Fábrica Um e Dois” e não se destinavam apenas ao mercado nacional. Ou seja, o país exportava para Malawi, Zimbabwe, Madagáscar, Maurícias, África de Sul e Tanzânia.

A “Fábrica Um” era o sector onde a produção era manual e semi-automática na qual se produzia pratos, copos, cinzeiros, entre outros artigos domésticos. O forno tinha uma capacidade de produzir por dia, em média, cerca de 12 toneladas de vidro. Já a “Fábrica Dois”, dedicava-se fundamentalmente à produção de garrafas para embalagens, além de pratos e chávenas, e contava com um forno que tinha capacidade de produzir 75 toneladas de vidro por dia.

Numa altura em que a Vidreira de Moçambique apresentava níveis mais altos de produção cumprindo as metas que haviam sido estabelecias, o mercado debatia-se com falta de artigos domésticos, sobretudo copos.

Problemas com equipamento da fábrica, principalmente a falta de peças e sobressalentes originaram paralisações, afectando de forma significativa a produção. Além disso, dentre outros problemas que contribuíram para a fraca produção destaca-se a instabilidade da mão-de-obra pois era frequente o abandono dos trabalhadores na empresa.

No auge da guerra civil, a empresa sofreu uma interrupção e, em Dezembro de 1996, a firma foi vendida à portuguesa Barbosa & Almeida que retomou a produção em 1998, mas dois anos depois abandonou o negócio e a actividade da firma novamente interrompida. E o Governo moçambicano viu-se obrigado assumir novamente a gestão daquela unidade fabril. Uma nova era?

O Estado vendeu a Vidreira de Moçambique à empresa SONIL Moçambique, Lda, no valor de 3,1 milhões de dólares norte-americanos que irá restaurar a mesma no prazo de um ano. A formalização da venda do património da firma àquela empresa sedeada na cidade da Beira foi feita no dia 26 de Julho do ano em curso, marcando o renascer de uma fábrica que já foi referência e se encontra paralisada durante uma década.

As negociações para a compra e venda da vidreira durou cerca de um ano e na corrida foram afastados concorrentes por não terem evidenciado capacidade para pôr em marcha o que foi definido pelo Instituto de Gestão das Participação do Estado (IGEPE).

O grupo SONIL, uma empresa do ramo familiar, dedicase ao comércio geral, desde a produção até a comercialização de tabaco. Com a aquisição da Vidreira de Moçambique, a empresa pretende abraçar o ramo de produção de embalagem de vidro. E, neste momento, decorrem trabalhos de reabilitação daquela infra-estrutura que o director técnico da fábrica, Carlos Vieira, considera “um elefante branco”, além de substituição das máquinas electrónicas na sua maioria em estado obsoleto. Aquele responsável considera que o custo de manutenção no exterior é “extremamente altos”.

A vidreira pretende integrar os antigos trabalhadores que grande parte se encontra a prestar serviços na indústria de vidro nas terras do rand. “Estamos nesse momento a procurar integrar antigos trabalhadores da empresa, ao invés de recrutarmos novas pessoas”, disse Vieira.

Antigamente, a fábrica chegou a ter 1500 funcionários e espera-se que a mesma venha empregar um pouco mais de 200 trabalhadores. “O número de trabalhadores poderá oscilar entre 150 a 200, mas cremos que será necessário mais funcionários”, adiantou Carlos Vieira.

Dos dois sectores (manual e automático) que a vidreira dispõe, apenas será accionada a “Fábrica Dois”, porque a outra o equipamento encontra-se em estado avançado de degradação.

Aliás, o responsável da fábrica comentou que a “Fábrica Um” está fora de questão e não tem razão de existir, uma vez que a empresa pretende apostar na produção de vasilhames. A empresa vai abrir um espaço que servirá como um centro de formação dos jovens, sobretudo do instituto industrial.

A fábrica terá de funcionar, no mínimo, cinco anos ininterruptos – que é o tempo de vigência da manutenção do forno, visto que o mesmo não se pode desligar pois leva cerca de duas semanas até atingir a temperatura de 1800 graus de fusão de vidro. Com efeito, a empresa será obrigado a ter pelo menos três turnos, ou seja, cada máquina, sistema e sector de controlo de produção necessitará de três homens a operarem.

A firma tem capacidade para produzir 125 toneladas de vidro diariamente, o que equivale a uma média de 350 a 450 garrafas por minutos. Outrora, a Vidreira de Moçambique produzia as mesmas quantidades, mas internamente não havia mercado.

“Temos a percepção de que há empresas no mercado nacional interessada pelo funcionamento da fábrica, é o caso das Cervejas de Moçambique” disse. A capacidade de absorção de vidro por parte das CDM, quando a fábrica começar a produzir, será de 20 semanas por ano, mas a capacidade da vidreira é 51 semanas por ano.

Vieira afirmou que estão preparados produzir o suficiente para abastecer o mercado, assim como a rejeição do produto por parte da Coca-Cola, tal como aconteceu no passado em que aquela empresa recusou comprar cerca de 900 mil garrafas – uma das razões que Vieira garante ter contribuído para a paralisação da indústria vidreira nacional.

Com a paralisação da indústria nacional, alguns países da região que importavam produtos da Vidreira de Moçambique criaram as suas próprias fábricas. A África de Sul, por exemplo, triplicou a produção de vidro.

“O vidro tem colocação no mercado internacional, está-se a chegar a conclusão de que é mais viável o uso deste produto do que plástico. Nós esperamos voltar a exportar este produto para diversas empresas”, comentou Vieira.

A fábrica vai dispor de três linhas de produção, mas em seis meses vai estar só a trabalhar com a de garrafas. Num mercado inundado por artigos chineses, Carlos Vieira revelou que “estamos a pensar em fazer alternantes à produção, fazendo blocos de vidros para construção e artigos domésticos, principalmente pratos e copos” de modo a reaproveitar o excedente.

Esperava-se que a vidreira voltasse a funcionar dentro de um ano, porém, depois de uma visita de alguns técnico verificou-se que há situações que deve ser resolvidas antes da mesma começar a operar.

O sistema de gás normal com que funcionava vai sofrer uma reconversão e passará para o gás natural, além de ter sido detectado anomalias no forno e na conduta de gás que deverá ser revisto. A chaminé, preparada para fazer o aproveitamento do ar quente para manter as temperaturas mais adequada, está danificada e sua reparação é avaliada em cerca de 1.5 milhões de euros.

Refira-se que no início afirma-se que, para reactivação da Vidreira de Moçambique, a SONIL iria investir, numa primeira fase de arranque, “acima de 2 milhões de dólares” e numa segunda fase, já de expansão e aumento da produção, “mais de sete milhões de dólares”. Hoje, Vieira diz que os custos estão acima dos previstos inicialmente.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Uma resposta

  1. Olá!!
    Respondo pelo nome, Gérson Raúl.
    Alegrar-me-ia saber em que estado se encontra a mesma Indústria, será que já alguma vez entrou em funcionamento desde que o estado a vendeu para SONIL?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!