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É o fim do Rap em Mocuba?

É o fim do Rap em Mocuba?

Na cidade de Mocuba, província da Zambézia, pouco se ouve falar do Rap. A inexistência de rappers faz com que um dos pilares fundamentais da cultura Hip Hop desapareça naquela circunscrição geográfica. Porém, um grupo de estudantes da Faculdade de Engenharia Agronómica e Florestal (FEAF) da Universidade Zambeze pretende resgatar o estilo musical.

Nos últimos tempos, expressar emoções melódicas acompanhadas de rima e poesia na cidade de Mocuba tornou-se coisa de outro mundo. O estilo musical, com origem na Jamaica, tende a regredir a cada dia que passa. Os artistas locais apontam a falta de incentivos e a insensibilidade da população, no que tange ao consumo do material produzido pelos músicos de casa, como as principais causas que fazem com que o Rap não tenha aceitação do público. Numa altura em que maior parte dos jovens de outras jurisdições cultiva o hábito de promover eventos culturais, na cidade de Mocuba a situação é diferente.

Os artistas locais dedicam-se à produção de conteúdos sobre o quotidiano, a partir de ritmos tipicamente moçambicanos. Soubemos de alguns fazedores da cultura que existem indivíduos que se dedicam ao Rap, mas, devido à apatia do público, eles mantêm-se no anonimato. Um dos pilares mais fortes da cultura Hip Hop tem grande aceitação por parte dos jovens, sobretudo os que residem na periferia da cidade. Há anos, a maior parte dos estudantes do ensino secundário do distrito de Mocuba organizava concursos de freestyle nos quais ganhava quem apresentasse as melhores rimas.

Segundo apurámos, os referidos eventos eram realizados todas as sextas-feiras e as actividades eram encerradas nas noites de sábados com as actuações em palco dos rappers. Os locais que acolhiam as pequenas apresentações contavam com a participação massiva da camada juvenil. Sem dúvida nenhuma, a diversão para os jovens de Mocuba era garantida. Os famosos freestyles, exibidos pelos mestres de cerimónia (MC), eram acompanhados de alguns movimentos corporais.

Os FEAF MC

Nos últimos tempos, em termos culturais, Mocuba tornou-se dependente de talentos provenientes de diversos pontos de Moçambique. O simples facto de acolher jovens oriundos de outras parcelas do país confere à urbe uma posição privilegiada no leque das pequenas autarquias. Na Faculdade de Engenharia Agronómica e Florestal (FEAF) da Universidade Zambeze (UniZambeze) existem “estrelas perdidas” dos diversos pilares do Hip Hop e não só.

Fazem parte do grupo de rappers os jovens que vinham produzindo músicas de intervenção social. A turma dos MC sente-se rodeada de má sorte pelo facto de se ter instalado numa jurisdição onde não consegue lograr os seus intentos culturais, ou seja, a promoção de eventos nocturnos nos quais o prato forte é o desafio de rimas. Como forma de fazer face ao défice, os rappers, nos seus tempos livres, desenvolvem algumas competições.

Todas as quartas-feiras, na famosa hora FEAF, ouve-se apenas música com rimas e poesias, inspirada nas comunidades negras dos Estados Unidos da América. Emílio Manhique, rapper proveniente da província de Gaza, possui mais de 10 músicas. Nas suas músicas, cheios de rimas e muita poesia, ele procura transmitir conselhos às raparigas que se envolvem no negócio do sexo, os casamentos prematuros, o aborto inseguro, entre outras situações.

“Somos estudantes oriundos de vários pontos do país e um dos nossos objectivos, além de preparar o futuro, é promover a unidade e a diversidade cultural em qualquer lugar. Cada um tem o seu talento e nós pretendemos unir as habilidades de modo a tornar a nossa formação mais divertida”, disse um dos integrantes do grupo de MC da Faculdade de Engenharia Agronómica e Florestal.

Segundo o nosso interlocutor, quando chegou à cidade de Mocuba, surpreendeu-se com um cenário diferente: a não existência de incentivos para o desenvolvimento da cultura. Como forma de imortalizar o Rap, ele optou por reunir alguns colegas com talento para aquele estilo musical com vista a entreter os colegas da faculdade.

“Na minha cidade, não é fácil ser MC, pois há vários talentos no Rap. Tive que abraçar a cultura Hip Hop para ficar a par do desenvolvimento da minha cidade. Em Mocuba, conheci dois rappers que lutavam para imortalizar o estilo musical”, refere Manhique. Aquele estudante é da opinião de que a falta de estúdios de gravação de música com qualidade contribuiu, igualmente, para o desaparecimento do Rap.

“O Rap é uma escola”

De acordo com Emílio Manhique, o estilo musical em alusão proporciona a liberdade de expressão. Além disso, o músico tem a oportunidade de retratar as suas emoções. “Gosto de cantar. O Rap é uma escola. Muitos artistas de grande renome começaram pelo Rap”, disse. O programa implementado pelos artistas inclui a interpretação e a mensuração dos principais problemas que assolam a cidade de Mocuba e não só. As exibições não dispensam a companhia de um som musical de fundo, chamado beatbox.

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