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…e a Europa precisa disso!

…e a Europa precisa disso!

Mais de 40 artistas moçambicanos que exploram ritmos e géneros de música tradicional apresentam-se, a partir desta sexta-feira, 13 de Abril, no Centro Cultural Franco-Moçambicano. Os eventos, que acontecerão em diversas partes da Cidade de Maputo, até o dia 20, terão o seu ponto mais alto na Europa. Por isso, se África é o berço da humanidade, então, os ancestrais dos europeus estão aqui. Eles precisam de (re)encontrá-los…

Mais do que nunca, nos dias actuais em que o desenvolvimento tecnológico introduziu no espaço social os conceitos da globalização e da desterritorialização, a tradição e a cultura dos povos é muito determinante para que os mesmos não desapareçam. Mas, pelo contrário, sejam perpetuadas no espaço e no tempo.

Muitas vezes, tal continuidade é garantida não somente pela forma como as pessoas vivem mas também através da sua produção artístico-cultural, condição indispensável para a produção da herança cultural.

Quando nos recordarmos de que “o homem de hoje é efeito e resultado do que era na Modernidade e as conquistas de hoje são resultado das incertezas e das tentativas de ontem”, como afi rma a cientista social Elizabeth Huber Moreira, perceber-se-á (facilmente) que é essencial que se compreenda que o comportamento do homem moderno se deve basear nos riscos que produzirá para o futuro.

Como tal, na questão da produção artística, das manifestações culturais de que derivam os valores da moçambicanidade e da africanidade, Alexandra de Cadaval, uma das mentoras do Projecto hOUVE, a entidade responsável pela digressão “Rituais da Terra” que – através de parcerias firmadas entre o ARPAC, o Ministério da Cultura, o Centro Cultural Franco-Moçambicano, assim como a Cité de la Musique, na França – se encarrega da realização do respectivo evento em Moçambique e na Europa, considera:

“Vivemos um momento crucial para que os patrimónios culturais sejam protegidos. É por essa razão que, para que estas músicas sejam respeitadas, é essencial que sejam divulgadas e promovidas fora de Moçambique. Afinal elas não somente pertencem a Moçambique, são património cultural universal da humanidade”.

Ou seja, para si, “o património cultural de Moçambique, que é de uma riqueza extraordinária, precisa de ser conhecido no mundo”.

Projecto hOUVE

Antes de mais, vale a pena explicar que, de acordo com a organização da “Rituais da Terra”, o projecto hOUVE transmite a ideia de algo sucedido no passado, como também que presentemente deve ser ouvido e valorizado, no caso concreto os ritos, os rituais, a música, a tradição, o património cultural e artístico de Moçambique.

Essa é a razão e o porquê de no período compreendido entre os dias 20 e 29 de Abril, o teatro da Cité de la Musique, na capital francesa, Paris, ter de ceder espaço para a realização de uma semana cultural dedicada plenamente ao património tradicional da cultura do nosso país.

E mais, a hOUVE é uma associação que opera na área de preservação do património cultural, criando plataformas de ideias criativas sobre a produção artístico-cultural, por um lado, e desenvolvendo actividades de natureza filantrópica em que apoia as comunidades desfavorecidas no âmbito dos seus projectos.

“Foi assim que surgiu a tournée internacional intitulada “Rituais da Terra” que terá início em Maputo, e que pela primeira vez vai revelar algumas das mais ricas tradições de uma parte da África Oriental na Europa, mais concretamente em Paris.

Um total de 44 artistas tradicionais moçambicanos, divididos em quatro grupos e um individual vão actuar na maior sala de espectáculos da França, nos próximos dias 28 e 29 de Abril. Este projecto é uma homenagem à diversidade étnica e à riqueza musical do povo moçambicano”, explicam os organizadores.

Atento aos ganhos

O Ministério da Cultura (Micult) e o Instituto de Investigação Sociocultural (ARPAC) que, de certa forma, estão envolvidos na realização da digressão “Rituais da Terra” estão atentos aos benefícios que se podem explorar da iniciativa.

Ao longo do processo da pesquisa realizado por estas organizações e o projecto hOUVE para a selecção dos grupos e artistas individuais, o Micult facilitou a interacção dos pesquisadores com os governos provinciais.

Daí que para Luís Sevene “esta digressão insere-se nas atribuições do Ministério da Cultura com enfoque para a promoção da cultura moçambicana”.

É por essa razão que na compreensão destas instituições, a mais-valia da iniciativa é a promoção e exibição dos artistas e da cultura moçambicana no mundo, o que, na sua visão, irá contribuir para incrementar as referências de Moçambique no mundo.

Afinal, actualmente, muitas vezes, “quando se quer explicar Moçambique no mundo recorre-se à África do Sul. É esta realidade que é preciso transformar”

Como tal, a maior parte dos artistas integrados no projecto são anónimos. É neste sentido que a iniciativa é uma forma de divulgá-los e promovê- -los no mundo.

Uma possível superestrela

Foram seleccionados quatro grupos culturais e um artista que actua a título individual. Trata-se do grupo Tidziwane (da província de Tete), do grupo Xindiro (de Maputo), da Orquestra Nyanga (da comunidade M´Padue da província de Tete), da Orquestra Timbila Chopi de Chizoho (da província de Inhambane) e, por fim, do artista Liquissone Juliasse que canta e toca Pankwe e Bangwe.

Muito antes de partirem de Tete para Maputo, de onde irão seguir para a Europa, os Tidziwane Band já granjearam inúmeras simpatias em países como Dinamarca e Bélgica onde, além da França, realizarão concertos.

Isso equivale a afirmar que “teremos uma possível superestrela entre todos os grupos. Como organizadora prevejo que será com muita emoção que os Tidziwane receberão a notícia de que realizarão mais concertos na Europa além do previsto”, considera Alexandra Cadaval.

Do mundo rural para a cidade

Um documento em nosso poder, na verdade um estudo, revela que os grupos estão subdivididos em duas categorias temáticas. O primeiro dos quais é “Do mundo rural para a cidade”. Neste enquadra-se o artista Liquissone que canta Pankwe e toca Bangwe, uma espécie de cordofone dedilhado com os polegares e Nyakatangali, um arco musical.

De acordo com o investigador João Vilanculo, do ARPAC, Liquissone Juliasse é uma espécie de poeta peregrino moralista da tribo Sena e contador de estórias que, à sua maneira, retratam a vida tradicional, exaltando a sua visão poética e filosófica.

Por sua vez, os Tidziwane de N´tequesse tocam e cantam uma música popular que se chama “Canindo dos Chewa”. O referido grupo tem realizado concertos no seu espaço comunitário.

Muitas vezes, os artistas apresentam-se “armados com tábuas de madeira em forma de guitarras eléctricas, que José Redinha – um dos membros – designou ´formas bantuizadas de guitarras ´, em que as cordas são esticadas com os fios dos travões de bicicleta”.

A Companhia Xindiro é uma colectividade cultural baseada no bairro suburbano de Maxaquene, na capital do país, que explora o Xigubo, uma dança guerreira de origem Zulu.

Na ocasião da divulgação iniciativa, os dançarinos do referido conjunto que estão integrados na digressão, visivelmente emocionados, congratularam-se com o feito enfatizando que o mesmo resulta de um trabalho tenaz, árduo e sofrido.

Celebração da Natureza

O segundo grupo temático enquadra-se no tópico da “celebração da natureza”. Entre eles encontra- se a Orquestra Nyanga do bairro M´Padue, na província de Tete.

Os Nyanga exploram flautas produzidas a partir de bambus e/ou tubos de electricidade denominados nyanga. “Na dança, o contínuo pisoteio sobre a Mãe Terra evoca um ritual de fertilidade, onde faz uma homenagem aos antepassados (Chizimu) e onde se celebram as primícias da natureza, sobretudo entre a etnia Nyungwe”, refere o pesquisador João Vilanculo.

A última colectividade artística envolvida na digressão “Rituais da Terra” e que se enquadra na temática da “Celebração da Natureza” é a Orquestra Timbila Chopi de Chizoho originária do distrito de Zavala, na província da Inhambane.

Refira-se que o projecto hOUVE foi criado em 2007, com o objectivo de apoiar a preservação do Património Cultural de Moçambique, trabalhar com /e para artistas tradicionais e apoiar directamente as comunidades que vivem em grandes dificuldades. O projecto encerra, assim, duas vertentes: uma cultural outra humanitária.

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