Volvidos sensivelmente dois meses após a denúncia de casos de corrupção no Hospital Distrital de Nacala-Porto envolvendo funcionários daquela unidade sanitária, na sua maioria a ocupar cargos de direcção, os médicos continuam, em lume brando, a fazer uso de material hospitalar alocado pelo Estado em benefício próprio. Por sua vez, a Direcção Provincial da Saúde (DPS) em Nampula continua a fazer vista grossa à situação que está a lesar dezenas de utentes naquela cidade portuária.
Em Dezembro último, o @Verdade publicou uma reporta- gem dando conta de que uma rede de funcionários do Hospital Distrital de Nacala-Porto instalou uma espécie de clínica especial naquela unidade sanitária, fazendo uso de material hospitalar alocado pelo Estado para o atendimento de indivíduos que pretendem garantir vagas nas empresas que operam naquela região do país.
Fazendo-nos passar por utente, a nossa equipa de reportagem provou que o dinheiro cobrado pelos serviços prestados, usando equipamentos do hospital público, vai parar às contas bancárias pessoais dos médicos. Volvidos dois meses após a denúncia, os profissionais da Saúde daquela unidade sanitária mantêm os actos de corrup- ção impunemente.
O @Verdade apurou que nenhum processo disciplinar foi levantado, muito menos foi aberta uma investigação por parte do sector de Inspecção da Saúde, e tão-pouco a direcção do hospital foi suspensa. Pelo contrário, os médicos mudaram apenas de esquema, passando a atender um trabalha- dor de cada vez e exigindo que o mesmo não venha uniformizado.
Refira-se que, após a denúncia em Dezembro, a clínica priva- da denominada Ekumi, à qual os médicos do Hospital Distrital de Nacala-Porto recorriam para a realização de exames médicos, como é o caso de espirometria (pulmões) e de audimetria (audição), viu-se obrigada a suspender aqueles serviços. No hospital de Nacala-Porto, o que há de particular não é apenas aquilo que os médicos fazem, mas também como o fazem.
Funciona, na verdade, naquela unidade sanitária, uma corrente de solidariedade na impunidade, que começa nas grandes empresas privadas que operam naquela Zona Económica Especial, nomeadamente a ST, Kentz, a Polar Limitada, a WBHO, a CHEC e a Odebrecht, atravessa a Direcção Distrital da Saúde, penetra nos hospitais e, por fim, anestesia a Direcção Provincial da Saúde em Nampula.
DPS em Nampula indiferente
A Direcção Provincial da Saúde em Nampula e a Procuradoria local, sustentados pelo contribuinte para fazerem valer o direito à saúde aos cidadãos e as leis, vivem na sonolência.
Ou seja, não dão conta de que são autoridades numa cidade onde a corrupção assume o rosto da normalidade. Na realidade, o que está em curso, no submundo do Hospital Distrital de Nacala-Porto, é um processo sem paralelo.
Trata-se, diga-se em abono da verdade, do amadurecimento da corrupção no Aparelho do Estado, onde as autoridades sanitárias e legais não agem e fazem vista grossa à ilegalidade, por cumplicidade e conforto.