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Dormir de “olhos abertos”

Dormir de “olhos abertos”

Actualmente acordar são e salvo no bairro Polana Caniço, na cidade de Maputo, é motivo para comemorar porque as noites são, muitas vezes, de pânico e incerteza. Nos quarteirões mais problemáticos, além de dormir de ‘olhos abertos’, os residentes têm junto de si um apito pronto a tocar em casos de emergência. Um mecanismo ditado pela necessidade de sobrevivência.

“Hoje passamos pelos momentos mais horrorosos da nossa vida”, dizem alguns moradores, contactados pelo nosso jornal. Nos últimos tempos, com maior incidência desde Agosto de 2009, o cenário tornou-se dantesco com o despontar de uma série de assassínios brutais, sobretudo no alvo e nos moldes em que são executados.

“É uma situação muito triste. De lá para cá contam-se seis vítimas: quatro perderam a vida e duas ficaram feridas. Entre as feridas uma foi há 15 dias”, asseguram testemunhas.

“Todas as vítimas são mulheres com idades entre os 12 aos 22 anos. Sem que ninguém se aperceba, os criminosos entram nas casas, espancamnas violam-nas, deixando-as abandonadas”, refere Rufino Manhique, Chefe do quarteirão 15.

De acordo com Manhique, suspeita-se que os criminosos pertençam a uma quadrilha residente. Na sequência destes actos, já foram presos dois indivíduos, mas os problemas prosseguem, o que se conclui que os outros continuam a monte. “Falta-nos encontrar o líder do grupo. O povo chama-lhe Zorro, devido aos modos subtis com que age: usa catanas e é invisível. Presume-se que seja mágico ”, explica.

A história dos crimes

No bairro, concretamente nos quarteirões 11, 13, 14, 15, 17 e 22, os bandidos entraram pela primeira vez em cena às 23.00 horas do dia 8 de Agosto de 2009, no quarteirão 15. Na altura, a mãe de Filomena Ernesto deparou com a fi lha inconsciente e banhada em sangue.

A menina estava a ver televisão numa casa vizinha eram quase 22 horas. Voltando da igreja, a progenitora encontrou a miúda estatelada, seminua e inconsciente na cama. Transportada ao Hospital Central de Maputo, foi submetida à sala de reanimação, onde não resistiu e perdeu a vida dois dias depois. Tinha 12 anos de idade e era carinhosamente conhecida por Mena.

Passado poucos dias, ainda a família estava a digerir o choque da morte de Mena, quando às duas horas da madrugada da sexta-feira, 2 de Outubro, numa residência do quarteirão 14, outra garota foi brutalmente agredida, violada e abandonada à própria sorte.

Fontes próximas indicam que os agressores entraram no quarto onde a vítima dormia, arrastaram-na para fora e violentaram-na. Levada ao hospital perdeu a vida no dia seguinte. Chamava-se Marta João Baule e morreu quando completava 18 anos de idade no dia três de Outubro de 2009.

Sucessivamente, os crimes foram acontecendo da mesma forma num espaço que dista 100 metros de um posto policial. Chamada a intervir, a polícia disse desconhecer a situação. “Nós também só tomámos conhecimento através da televisão”, disse Sílvia Mahumane, Oficial de Imprensa no Comando da PRM.

No mesmo dia, Maumane garantiu que agentes da Polícia de Investigação Criminal (PIC) já estavam no terreno a efectuar diligências com vista à neutralização dos criminosos.

Efectivamente, as investidas policiais cedo culminaram com a detenção de dois homens suspeitos de agredir duas mulheres, em que uma morreu e outra contraiu graves ferimentos. Após essa prisão, uma aparente paz voltou a reinar nos becos da Polana Caniço, estava-se em finais do ano 2009.

Porém, em 2010, no mês de Setembro, a história volta a repetir-se. Os moradores do quarteirão 15 voltaram a entrar em pânico quando numa manhã encontraram uma das vizinhas estatelada no chão da própria casa com graves ferimentos.

Segundo os habitantes do bairro, os ferimentos foram executadas com objectos contundentes. O acusado foi o marido, alegadamente por ter deixado a mulher sozinha à mercê dos bandidos. Com a vítima estava apenas uma criança menor de um ano, que escapou viva.

O marido foi detido e mais tarde solto. Os residentes acreditam na sua inocência, pois entendem que os criminosos foram sempre os mesmos. “Só pode ser a quadrilha do Zorro anunciando desgraças para os próximos dias. Não faz sentido, Domingos era um homem bom. O único mal que cometeu naquele dia foi ter dado prioridade à bebedeira em detrimento da esposa”, comentam.

E quem é o Zorro?

Mas quem será este Zorro? “Ninguém o conhece, nunca foi visto”, refere um morador. Alguns relatos descrevem-no como um jovem de 22 anos e que há dois anos vivia no vizinho bairro da Maxaquene, onde foi expulso, devido a má conduta. Outros limitam-se a dizer que é invisível, acrescentam que age com recurso a métodos e fi ns supersticiosos.

“É estranho mas só ataca as mulheres indefesas, com os mesmos instrumentos (catanas e paus) e de igual modo: primeiro espanca, depois viola”, dizem.

O nome Zorro provém do senso comum. A população local inspirou-se na personagem de fi cção criada em 1919 pelo escritor norte-americano Johnston McCulley. No entanto, diferente do bandido da Polana Caniço, que mata cobarde e brutalmente as mulheres, o Zorro de Mc-Culley é um jovem membro da aristocracia da Califórnia, que defende os “fracos e oprimidos”, sob uma máscara e uma capa negra, empunhando uma espada e cavalgando um cavalo igualmente negro de nome “Tornado”.

A figura passaria a ser conhecida por “Zorro”, porque os seus movimentos e sagacidade lembrariam uma raposa (a tradução em português da palavra espanhola “zorro”).

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