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Dois renomados investigadores defendem diálogo entre Governo e Renamo

Dois respeitados investigadores trabalhando em igual número de universidades portuguesas defendem uma resolução negocial do imbróglio que opõe a Frelimo/Governo e a Renamo em Moçambique.

Efectivamente, o sociólogo Luca Bussotti afirmou que a situação de tensão que se vive em Moçambique, após confrontos entre antigos rebeldes da Renamo e a Polícia, deve ser resolvida através do diálogo.

“A situação de tensão não é uma novidade. A Renamo há já alguns anos que está a manifestar uma insatisfação em relação à governação da Frelimo” (Frente de Libertação de Moçambique), apontou o investigador do Centro de Estudos Africanos do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.

Na quinta-feira da semana passada, elementos da Renamo (Resistência Nacional de Moçambique), principal partido da oposição, atacaram um posto da Polícia na província de Sofala um dia depois de uma operação da Polícia moçambicana na sede da formação em Muxúngué. Quatro polícias e um elemento da Renamo morreram na refrega. 14 outras pessoas, incluindo oito polícias, ficaram feridos no mesmo confronto.

“O episódio em si ainda não está muito claro”, afirmou Bussotti, acrescentando que ainda não percebeu “se por detrás do ocorrido está uma vontade política” do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, ou se foi apenas a “reacção a uma provocação da Polícia”.

Impossível retorno à guerra

“Aquilo que me preocupa mais é a tensão estrutural que existe neste momento no país, principalmente nas zonas do Centro e Norte”, referiu. Bussotti considerou “improvável um retorno a uma guerra” semelhante à que de- vastou o país durante 16 anos e terminou com os acordos de paz de 1992.

“Mas a situação tem de ser bem avaliada e bem ponderada, principalmente no que diz respeito ao relacionamento entre as forças políticas”, afirmou o mesmo observador, apontando que “há um problema de espaço político” e que “a Frelimo não pode ocu- par na íntegra esse espaço político”.

Na sua opinião, a Renamo, “apesar de ter alguma razão quanto ao espaço político, tem de decidir se é um movimento apenas de resistência ou um partido político”.

“Até hoje, sinceramente, não estou a ver a Renamo como um partido político no sentido pleno do termo”, afirmou, considerando que pegar em armas ou mantê-las “não é um bom sinal para a democracia”. Não há condições “A única receita é o diálogo”, preconizou.

Elisabete Azevedo-Harman, professora na Universidade Católica Portuguesa e investigadora com estudos sobre Moçambique, tem acompanhado, a partir de Lisboa, os últimos acontecimentos em território moçambicano.

“O país tem estado a assistir a situações de conflito desde 8 de Março do ano passado”, afirmou em alusão a um outro episódio de violência registado em Nampula entre ex-guerrilheiros da Renamo e a Polícia.

“Não me parece que existam condições para que volte a haver uma guerra civil”, indicou, “mas num país que até 1992 viveu um período tão longo de guerra, só a ameaça de violência já é assustadora para as populações e para os investidores”, acrescentou.

Azevedo-Harman apontou também que “ainda não há uma percepção clara” do que terá levado a esta situação e lembrou que Dhlakama, que tem dado voz a ameaças de retorno à guerra, ainda não falou sobre o ocorrido em Sofala.

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