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Desgraça do milénio…no Zimpeto

Desgraça do milénio...no Zimpeto

O “Espectáculo do século”, presenciado por uma assistência de cerca de 5 mil pessoas, ficou marcado por duas surpresas: uma agradável; a outra, uma desilusão. A organização foi fraquinha e gorou as expectativas quando anuncio, sem justificação convincente, a ausência dos P Square. Nos antípodas, os artistas presentes deram o máximo. Mas a noite foi também uma demonstração da selvajaria dos agentes da lei e ordem…

Era o concerto-expectativa do ano e acabou por ser o concerto-desilusão do ano. A Moz Celeb trouxe, com excepção dos P Square, todos artistas convidados. O que faltou? Organização e respeito pelo público pagante e até pelos artistas. No final poucas eram as bocas que não falavam em “playback”. Custa a crer, mas o que menos se ouviu, em certas actuações foi a voz dos artistas.

Isto de “showbizz”, dos concertos de encher o olho em vez do ouvido, é coisa para outros quadrantes. Moçambique gosta mais de emoções, de sentir a proximidade do artista e, enfim, de se sentir uma paragem especial. Este espectáculo, apesar do aparato, foi apenas mais um.

Pouca comunicação houve entre o palco e as mais de 5 mil pessoas presentes no recinto. O “suspense” era imenso antes de o show começar, o que aconteceu pouco depois das 18. Porém, às 23horas, Eunice Andrade, uma das apresentadoras informou que os P Square não iriam tocar. Falou de um problema no África do Sul. Logo aqui se percebe que há alguma coisa errada: ou a organização foi mesmo muito má – deviam devolver parte do preço pago pelo público – ou estamos diante de mais uma burla. O resto da explicação confirmou a segunda hipótese.

Nova dúvida: para que serve um bilhete VIP se as pessoas circulavam livremente por todos lugares? Seja como for, o show do milénio esteve longe de encher as medidas. Os artistas bem tentaram. Exibiram dotes que substituíram a desorganização: garra e firmeza no palco. Entre actuações magistrais e desafinações aberrantes houve espaço para a polícia mostrar o músculo. Resultado final? Um espectáculo de plástico, sem lugar para qualquer tipo de espontaneidade. Uma organização aprisionada dentro de um formato cada vez mais moçambicano. Ir ao Estádio Nacional do Zimpeto foi perder tempo. Era melhor comprar um disco pirata e ouvir as músicas.

Os artistas

Não se pode falar do espectáculo de domingo no Estádio Nacional do Zimpeto, sem falar da actuação de Angelina Luís. É certo que o show devia ter começado às 15, mas começou 3horas e 12 minutos depois quando um anjo vestido de branco entrou em cena. Com uma forte presença que se não lhe conhecia e com o profissionalismo inusitado para quem há pouco fez desta estrada a vida, Angelina Luís abriu o intitulado “Espectáculo do Milénio” com uma actuação memorável. Em grande forma – timbre dócil –, Angelina assinou uma promessa de permanência indiscutível no presente e futuro da música moçambicana.

A vida depois do programa televisivo de “divulgação” de talentos não continua: cresce a cada música e a cada actuação que escreve a solo. E a cada concerto. Como este. Cantou três músicas que fizeram vibrar um público que ficou separado dos artistas pelas bancadas, polícias e organização. São canções que já conhecemos: orelhudas o suficiente para cativar o ouvido menos dado a melomanias, mas suficientemente jazzísticas, experimentais e exóticas para agradar aos entendidos.

Gabriela

Geralmente, quando um artista aposta tanto em músicas mais recentes, corre o risco de não obter a reacção mais entusiasta. Aqui o caso é outro: as atenções ficam focadas nela o tempo todo, mesmo que a temperatura desça por vezes para a zona morna do termómetro, principalmente em momentos de divagações musicais pelo meio do concerto. Mas, no geral, a aprovação do público é avassaladora. E que visão tão especial é vê-la nos coros e braços erguidos da plateia…

Turma do Exagero

O troféu de “momentos-da-noite” vai directo para a “Turma do Exagero.” Foram apresentados como um grupo que exagera na qualidade do traje. Porém, a única coisa na qual o grupo exagera é na gritante ausência de talento. Zico Convocado para abrir o caminho aos americanos, Zico esteve igual a si próprio – que é afinal o seu grande triunfo para a fidelidade dos fãs. Profissionalismo, na cumplicidade de bons músicos, e a atenção do público para os lugares musicais do costume foram as marcas de uma actuação sem surpresas.??Não faltaram à chamada temas tão conhecidos – e cantados – como “Whos is Back”, “Fala a verdade”, guardado para um muito aplaudido final.

Cabeças de cartaz

Estavam cerca de 5 mil pessoas no Estádio Nacional do Zimpeto. Pouco público para a capacidade do estádio. Passam trinta minutos da meia-noite quando Fat Joe deixa o palco mundo. Estamos a uma actuação do final do concerto e acabámos de renovar a alma, trazida em doses maciças pelo rapper norte-americano.

Quando Fat Joe veio ao país não sabia que tinha fãs em Moçambique. E na sua estreia em solo pátrio, fãs não faltaram. Outros ter-se-ão convertido aqui mesmo a esta voz e simpatia desmedidas.? Depois Ciara, vestida de negro, é toda ela sorrisos, entrega e sedução. Quase sempre ao ritmo eléctrico, com uma voz melódica que transforma as músicas e imprime ao ambiente ora explosões de euforia contagiantes (como as do arranque do concerto), ora um intimismo avassalador em tom confessional. E isto quantas vezes na mesma canção, estendida aos limites da criatividade e da reconstrução que o palco permite.

As canções vêm de “Like a Boy”, mas também “Love You Better”. Depois de abrir com “Can’t Leave Him Alone”, segue para “promessa”, exemplo perfeito da capacidade de dar novos trajes às músicas: começa igual, deriva em novos arranjos e desagua em ritmos funk, latinos e toques azuis de jazz. Sem nunca perder de vista essa tal de soul. ?? Pelos rasgos de contorcionismo da sua voz – de seda mas rouca o suficiente para ser, mais do que sensual, afrodisíaca – escorrem canções. Sem esquecer, claro, “Like a Boy”, o rastilho do sucesso e, simultaneamente, o ponto mais alto desta actuação brilhante de Ciara.

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