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Desformatando a arte

Desformatando a arte

Está desde ontem patente, no Instituto Camões de Maputo, a exposição de arte plástica “À procura de espaço”, da autoria de Branislava Stojanovic, a sérvia que há dois anos vive em Maputo apaixonada pela capulana e pelo mar. Nesta mostra, Brana, como é conhecida no meio artístico, ‘desmoldura’ as peças e coloca-as à vontade no espaço.

 

 

Quando, esta quarta-feira, ao final da manhã, chegámos ao Instituto Camões, em Maputo, Branislava Stojanovic – Brana para o mundo artístico – estava literalmente a fazer o que diz o título da sua próxima exposição: “À procura de espaço”.

Mas se este é o nome da sua mostra que foi inaugurada no dia seguinte (ontem), Brana, nesse momento, encontrava-se a tentar achar o melhor local para colocar as cerca de 40 obras para a exposição.

“Trouxe 45 trabalhos, mas já sei que não vou ser todos montados”, esclarece Brana, pintora sérvia que chegou há dois anos a Maputo com o seu namorado que trabalha no corpo diplomático italiano.

Mais adiante, refere: “O título tem a ver com o meu desejo de descobrir o meu espaço artístico, o meu espaço material e também um espaço que está dentro de mim. Descobri o espaço material quando encontrei diferentes materiais, como a capulana. O espaço que estou a descobrir dentro de mim é aquele em que estou a sair do formato à procura de outros espaços.”

Por isso, nesta exposição é difícil encontrar o formato tradicional de quadro rectangular. “Agora só estou a fazer obras fora do formato, desformatadas.”

Um exemplo disso é a obra “As Ideias” em que alguém está de perna traçada a ler um jornal “que não tem nada” mas por trás não faltam notícias de muitos jornais colados criteriosamente. Ou seja, a realidade está situada atrás.

“Nesta composição utilizei, entre outras coisas, arame, ferro, lã, capulana, gesso, cartão e papel de jornal.” Mas a grande descoberta de Brana em terras moçambicanas foi a capulana, esse tecido nacional omnipresente na indumentária feminina.

“Tem muitos símbolos e é utilizada em todos os contextos: com a criança às costas, como roupa do dia-a-dia e mesmo como traje de cerimónia.

Esteticamente é muito bonita e diz muitas coisas. Cada uma conta a sua história.” E conclui: “Depois, combina com quase tudo o que eu pinto.” Por isso, Brana usa-a como tela para os seus quadros.

“Isto é Maputo sobre a capulana, com uma composição abstracta que pode ser apresentar muitas coisas. É todo o skyline de Maputo.”

Ao centro está a majestática estação dos CFM e à sua volta Brana posicionou os must da cidade como a Fortaleza, o Mercado Central, a Casa de Ferro, o “Franco- Moçambicano” e outros mais. Mas a aplicação de tecido nacional à laia de tela não fica por aqui.

“Esta é uma composição sobre capulana, uma vez que a própria capulana já tem os peixes. Depois fiz uma composição com pescadores, ondas, uma embarcação. As ondas são de gesso.

Este país tem muito mar e por isso muita comida vem do mar que é muito rico”, refere, num tom quase pueril. “Chapa” é o nome de outra instalação que representa o quotidiano de Moçambique. A peça tem um formato de caracol, e nela, como no chapa, cabem muitas pessoas.

Ao centro, sobressai uma curiosa bóia de salvação, daquelas que se vêem nos botes salva-vidas. “Porque entrar no chapa é um grande risco.”

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