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DDB Moçambique e MMA burlam Gabriel Chiau

DDB Moçambique e MMA burlam Gabriel Chiau

Desde Outubro de 2013 que – num evento público – a DDB Moçambique, no contexto do Mozambique Music Awards, resolveu prestar homenagem ao conceituado músico moçambicano, Gabriel Chiau, e, ao mesmo tempo, oferecer-lhe 50 mil meticais a fim de apoiá-lo no tratamento do cancro de próstata de que sofre. O problema é que o artista ainda não recebeu o dinheiro, decorridos cinco meses. @Verdade conversou com o compositor e intérprete de “Wene a Uni Tenderi” sobre o assunto. Acompanhe…

@Verdade: Uma das razões que me fazem visitá-lo tem a ver com o facto de, em Outubro de 2013, Gabriel Chiau ter sido homenageado pela DDB Moçambique, no âmbito do programa Mozambique Music Awards, tendo-lhe sido feita a promessa de que iria beneficiar de 50 mil meticais. Fiquei a saber que ainda não recebeu o dinheiro. É verdade?

Gabriel Chiau: Quais foram as vias que lhe possibilitaram saber que o prémio ainda não me foi entregue? Eu não trabalho às escondidas. Tens toda a razão, ainda não recebi o dinheiro. Realmente, em Outubro do ano passado, essas organizações criaram um evento – onde fui homenageado – em que me entregaram um cheque gigante. Mas até os dias actuais, Fevereiro de 2014, ainda não recebi o montante. Eu não queria que se explorasse a minha situação como doente, porque estou a padecer de um mal que me apoquenta continuamente.

Felizmente, tenho tido o apoio de gente que – sempre que aparece na minha casa – me dá o calor que me fortalece mais do que a medicação. Daí que constato que há pessoas que possuem um sentimento de boa comunhão na vida. Nesse sentido, não gostaria que houvesse gente que – possuindo más intenções – se aproveita da minha situação de enfermo para materializar os seus intentos.

Não digo essas palavras para denegrir a imagem de ninguém – porque quem promete, efectivamente, deve. Além do mais, a par desse evento, há uma causa abraçada que tem a ver com a necessidade de se apoiar o doente que sou. Infelizmente, nem sempre podemos entender as reais intenções das pessoas para poder inibi-las de certas práticas.

De todos os modos, é preciso que fique claro que não estou desesperado com a situação. Quero acreditar que terá havido uma situação que deturpou estas boas intenções da DDB. Mas, de facto, até aqui, ainda não recebi nada. A realidade é preocupante porque não sei o que está por detrás disto. Eu já vi muitos artistas como, por exemplo, Fany Mpfumo, Alexandre Langa, ainda que postumamente, a serem homenageados a fim de que esse gesto favorecesse os seus familiares.

Portanto, em qualquer circunstância da vida, quando praticada, a solidariedade é sempre bem-vinda. Não posso dizer que eu sou o primeiro a ser vítima de situações similares, mas isso de se aproveitar de alguém, enganando-o, é muito baixo, reles, rudimentar e sem nenhum para garantir a sua segurança. Portanto, estamos numa vida a boiar de um lado para o outro.

@Verdade: Desde Outubro de 2013 a esta parte tem havido alguma comunicação entre a DDB e Gabriel Chiau sobre o assunto? Qual tem sido?

Gabriel Chiau: Eu coloquei-te uma pergunta. Como é que chegou, até vós, a informação de que eu ainda não havia recebido o dinheiro?

@Verdade: Nós somos um órgão de comunicação cuja especialidade é fazer pesquisas sociais. Nesse sentido, é natural que informações desta ou de outra natureza nos cheguem à Redacção.

Gabriel Chiau: Está bem! Eu quero saber porque, finalmente, ainda se pode denegrir a minha imagem dizendo- se que eu coloquei a informação na Imprensa, lamentando a falta da entrega do dinheiro. De facto, esse valor está a fazer-me falta, porque não se deve prometer algo para depois não se cumprir. Mesmo que alguém diga que te vai dar porrada, muitas vezes costuma-se ficar à espera, embora não se saiba de onde é que a pancada há-de vir.

Ou seja, há sempre uma expectativa. De qualquer modo, eu não queria que se usasse o meu nome como se eu tivesse recorrido à Imprensa para publicar essa informação. Não tenho essa ousadia de proliferar esse facto a nível da comunicação social porque, penso, isso seria absurdo. Recordo-me de que – e isso é uma das coisas que eu não gostaria de dizer – uma mulher me telefonou a informar que eu seria homenageado pela DDB.

Mas também quem me garante que a pessoa é dessa instituição? Não me lembro o nome da moça porque eu estava conturbado por causa da doença. Mas ela pediu o meu número de conta bancária e o NUIT. Disse que era para enviar o dinheiro. Entretanto, porque eles fizeram uma cerimónia pública que foi vista por várias pessoas – incluindo a comunicação social – recordo-me de que eu disse palavras e palavras de gratidão naquele dia. Para quê? Para nada, porque quando penso nas coisas que me aconteceram, mais adiante, percebo que se acabou por criar as condições para aumentar a minha dor.

É o mesmo que prometer uma medicação a uma pessoa agonizada, mas, na prática, fazendo-a uivar. Isso é grave. Agora a verdade vai ser publicada, embora eu não queria que se envolvesse o meu nome no assunto, porque as pessoas que – dentro dessa minha situação – se prontificaram a apoiar-me, e não são poucas, têm-me ajudado muito. E estou grato a elas. Agradeço e peço a Deus para que lhes conceda bênçãos, multiplicando a sua riqueza. Somos humanos, por isso, eu também gostaria de poder ajudar aos outros sempre que puder.

@Verdade: Quero perceber se desde Outubro de 2013, quando se realizou a cerimónia pública, até os dias actuais, a DDB terá telefonado para si para falar sobre o assunto?

Gabriel Chiau: O pessoal da DDB nunca mais me telefonou. Recordo-me de que na altura recebi o – primeiro e único – telefonema de uma senhora cujo nome não me lembro.

@Verdade: Só para ter uma ideia: a pessoa que lhe solicitou o número da conta bancária e o NUIT disse-lhe quanto tempo levaria o processo para que se disponibilizasse o dinheiro?

Gabriel Chiau: Não faço ideia porque os mecanismos de transferência bancária são feitos e regidos por eles. Mas é um processo que leva algumas horas. Por isso, esse procedimento não devia levar muito tempo – como está a acontecer. Provavelmente, alguém, com más intenções, acabou por desviar o rumo dos acontecimentos.

@Verdade: Pensa que a organização lhe terá “explorado” para – ao realizar o referido evento – projectar a sua imagem, como uma instituição socialmente responsável?

Gabriel Chiau: Não sei. Não sei qual é que foi a intenção. Eu sou doente e foi a propósito da minha doença que eles quiseram contribuir para que, efectivamente, me pudesse safar do mal que tenho. Até agora estou em tratamento. Há muita gente que me está a assistir.

A situação em que me encontro é muito difícil porque estou em tratamento médico. Não consigo locomover-me. Por isso, penso que esse dinheiro iria ajudar-me de certa forma – para o transporte daqui para o Hospital Central de Maputo – porque não tenho meio de transporte pessoal.

É a partir daí que começo a pensar que há pessoas que atentam contra a vida de outrem dessa maneira. De uma ou de outra forma, eu não gostaria que se criasse polémica sobre isso, envolvendo o meu nome. Penso que se houvesse uma forma de fazer com que – pacificamente – se fizesse chegar o dinheiro às minhas mãos seria bom, porque, de facto, estou a necessitar dele.

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