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Centro Nairuco: O espaço (abandonado) das artes

Centro Nairuco: O espaço (abandonado) das artes

O Centro Nairuco – Artes, localizado no distrito de Rapale, província de Nampula, um local onde os artistas desta parcela do país desenvolviam e expunham as suas obras, encontra-se abandonado à sua própria sorte. O facto deve-se à falta de fundos para apoiar os criadores. Os que financiavam as actividades artísticas abandonaram o projecto.

Localizado numa região tipicamente turística, o Centro Nairuco – Artes tem vindo a regredir desde os meados de 2011. Os dirigentes daquele centro de arte apontam como principal causa a escassez de visitas por parte de turistas nacionais e estrangeiros. A galeria do Centro Nairuco – Artes juntava artistas de diversos pontos e turistas provenientes de vários países, com o objectivo de promover a cultura local. @Verdade soube que, devido à situação, o centro viu-se obrigado a dispensar alguns escultores.

Nos tempos em que o maior local de produção de obras de arte da região norte era movimentado por turistas, este empregava pelo menos 30 pessoas em diversas áreas, nomeadamente oleiros, artesãos, escultores, entre outros. O Centro Nairuco – Artes, que anteriormente acolhia importantes exposições, vai ficando para a história. Os artistas que trabalhavam na imortalização das artes passaram a reprimir o seu talento. Naquele local, os profissionais tinham acesso ao mercado, onde vendiam diversas peças tipicamente moçambicanas.

Nos dias que correm o mercado da arte em Nampula, que era representado pelo Centro Nairuco – Artes, tornou-se uma dor de cabeça para os artistas. Presentemente, os criadores passam os dias apenas a produzir obras. Os cidadãos de nacionalidade estrangeira que visitavam o centro para apreciar e adquirir alguns objectos de arte deixaram de fazê-lo, ou seja, a afluência de turistas ao atelier já não se faz sentir nos dias de hoje.

“Velhos tempos”

Fazendo uma retrospectiva sobre o impacto do Centro Nairuco – Artes, os artistas que ainda persistem guardam boas recordações. Na altura, os objectos artísticos rendiam bastante. As entidades patronais daquele espaço de produção artística envidavam esforços no sentido de promover exposições todas as semanas.

Em cada excursão, pelo menos 90 porcento das obras eram adquiridas pelos turistas. Flores Horácio, de 45 anos de idade, é artista há mais de vinte anos e um dos fundadores do Centro Nairuco – Artes. Nos primórdios da actividade, o negócio era rentável, uma vez que os turistas visitavam com frequência a galeria.

“Quando os turistas visitassem o centro, saíam com pelo menos duas peças de cada género produzido com na base de material local. Dentre vários trabalhos que eram expostos, as esculturas e os objectos de cerâmica eram os mais procurados”, conta.

O escultor que, apesar de falta de mercado, garante que jamais irá abandonar o ofício, continua a produzir objectos de pau-preto na sua residência. Segundo Horácio, o facto de o mercado das artes na cidade de Nampula estar, cada vez mais, a decrescer, não significa que os escultores e os demais artistas devem reprimir o talento.

Antigamente, os artistas filiados ao Centro Nairuco – Artes tinham direito a um subsídio que variava entre 500 e 1.500 meticais por mês, além de comissões na venda de cada artigo, na ordem de 50 porcento. Refira-se que a galeria do Centro Nairuco – Artes empregava pouco mais de 20 artistas que? devido ao fenómeno, abandonaram o espaço e, actualmente, persistem no ofício duas oleiras, quatro escultores e dois artistas plásticos.

Olaria

No que tange à olaria, o Centro Nairuco – Artes era considerado o celeiro das artes da cidade. Porém, as situações difíceis que assolaram aquele centro das artes obrigaram os oleiros a abandonar a actividade, uma vez que os nativos não têm o hábito de adquirir aqueles objectos.

O que se constata actualmente é que poucas pessoas se interessam por objectos de cerâmica. Os turistas, que compravam os utensílios domésticos, deixaram de o fazer. Naquela galeria, persistem no ofício duas oleiras que, desde à regressão do centro, ainda se dedicam à produção de obras de artes.

Marina Amade, de 61 anos de idade, natural da vila municipal de Mueda, província de Cabo Delgado, disse ao @Verdade que a actual situação em que o Centro Nairuco – Artes se encontra está a desencorajar os oleiros, pese embora realce que mesmo com a falta de clientes não se deve parar. Oleira desde a sua infância, a actividade já serviu de fonte de renda para o sustento da sua família.

Escultura

Os escultores que trabalhavam no Centro Nairuco – Artes acabaram por desistir do projecto, na medida em que o mercado da arte em Nampula desapareceu. Actualmente, a venda de objectos em pau-preto, entre outras variedades, reduziu significativamente. Segundo os escultores, eles passam mais de uma semana sem receber clientes.

Artes plásticas desaparecidas

Exprimir os sentimentos através das artes plásticas passou para a história. Com o desaparecimento do Centro Nairuco – Artes, a pintura ficou abandonada. Esta actividade que pouco se fala na cidade de Nampula era imortalizada naquele espaço onde se envidavam esforços no sentido de torná-la conhecida.

Centro abre uma loja de arte na cidade de Nampula

Uma das estratégias definidas pelos artistas, com o apoio dos dirigentes do Centro Nairuco – Artes, foi a criação de uma loja de arte. O objectivo era aproximar, cada vez mais, os objectos artísticos do público em geral. Situado no recinto do Museu Nacional de Etnologia em Nampula, o estabelecimento continha diversas obras em cerâmica e pau-preto, porém, subitamente, o projecto fracassou.

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