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Satisfação incondicional condicionada!

Satisfação incondicional condicionada!

Compreenda as razões que tornam a segunda edição do Moments of Jazz – a primeira ocorreu em 2013 – uma fonte artística de satisfação musical incondicional condicionada.

Era uma vez, em 2013, na cidade de Maputo, um grupo de produtores de eventos culturais – incluindo algumas empresas – compreenderam que havia a necessidade de trazer conceituados artistas mundiais na área do Jazz a Maputo, a fim de que os apreciadores desse género musical, neste País da Marrabenta, consumissem as suas actuações. Nesse mesmo ano, criaram o conceito Moments of Jazz e arrancaram com as actividades.

Em Maio, o norte-americano Gerald Albright inaugurou a primeira edição. Em resultado do sucesso do arranjo, neste 2014, a iniciativa retoma as actividades e prossegue. Dada a intimidade que Albright já possui em relação à organização – pensa-se – bem como a necessidade de homenageá-lo, nesta segunda edição em que se promete trazer muitos artistas, Gerald, com o amigo Kirk Whalum – este actuou pela primeira vez em África –, protagonizaram o concerto. Também, pela primeira vez, nós, do @Verdade, tivemos convite para ver o “show”.

Gabriela, a conceituada intérprete moçambicana, cuja carreira – já há bastante tempo – mostra sinais de maturidade, estando, neste momento a enfrentar novos desafios na sua experiência artística como, por exemplo, a produção de músicas Jazz, realizou a actuação de abertura do Moments of Jazz 2014. No palco, fez-se acompanhar pelo saxofonista Orlando da Conceição, o famigerado professor de música, e realizou uma actuação esplêndida. Com uma voz poderosa, forte e presente, além da beldade das suas composições, a artista conseguiu atrair a atenção do público para o seu “show”.

De todos os modos, apesar de ser louvável a inclusão de artistas moçambicanos em eventos típicos – algumas correntes de opinião questionam os critérios. Mas a inclusão, em si, já é um bom começo. Entretanto, porque os argumentos que levaram o público local a superlotar o Centro Cultural Universitário são os norte-americanos Kirk Whalum e Gerald Albright, o nosso comentário irá recair, acentuadamente, sobre as suas actuações e sobre as reacções do público.

Este é o primeiro concerto a que, no contexto do Moments of Jazz, tivemos a oportunidade de assistir. Por isso, não temos muitas variáveis para analisá-lo, pelo menos sob o ponto de vista de comparação. Constatámos, porém, que em relação a arranjos de iluminação e do trabalho cenográfico, o palco não possuía nenhum conceito específico. A luz presente foi a necessária para garantir a materialização de um concerto comum. O mesmo aplica-se em relação ao cenário. De todos os modos, não dá para ignorar – e, consequentemente, não elogiar – a boa qualidade de som que os sonoplastas Filipe Mondlane e Paulo David Sithoe nos proporcionaram.

Obrigado Kirk Whalum

Diante da experiência que Kirk Whalum nos propiciou – incluídos o repórter e o público – começámos a pensar na palavra “Obrigado”, enquanto expressão de gratidão. Kirk não tinha razão nenhuma para nos agradecer pelas sensações agradáveis que estava prestes a proporcionar-nos. Até porque, normalmente, o ser humano só agradece depois de receber algo. Mas este artista maduro e experiente entrou no palco a dizer “muito obrigado”.

Incondicional

A partir daí e porque, com esta manifestação, se desvia um pouco do habitual, o termo ganha um sentido complexo, de difícil percepção imediata. Mas Kirk sabia – e a experiência de muitos e longos anos serve para isso – que, incansável e incondicionalmente, o público iria aplaudi-lo, em resultado da satisfação total e completa que – com a composição “Unconditional” – lhes estava a criar.

Para Kirk Whalum, as razões para o bem-estar que – através da música, do Jazz – se estava a instalar, naquele Centro Cultural Universitário, no seio daquelas pessoas, não eram e não são diminutas: “Finalmente, estamos juntos. Com tudo bom. Vamos ter bons momentos”, prometia o artista que se congratula por, pela primeira vez, pisar o solo deste país africano.

E a ideia de acordo com a qual “Finally, we gonna have good times” não é casual. Há muitas coisas – a partir do alinhamento, ou da sequência temática das músicas que foram apresentadas – incríveis no trabalho deste artista. Estávamos diante de um concerto progressivo, ou melhor “um espectáculo em desenvolvimento”, ou, acordando ao sentido do tema seguinte – Ascencion – um “show” ascendente.

É incrível a harmonia que existe no seio da banda, dos instrumentistas – o baixista Mark Walker, o guitarrista Adam Hawley, o teclista Arlingtson Jones e o percussionista Joel – que acompanharam Kirk Whalum e Gerald Albright. Cada um dos músicos, com um gesto e estilo próprio, conecta-se ao outro e, todos, como um conjunto, ao mesmo tempo, formam uma família com o público. Percebemos que eles perseguem um objectivo comum. O que se quer é que todos – através da música, do Jazz – experimentemos, vivamos, ou tenhamos bons tempos.

Depois de todos os presentes, induzidos por Kirk, ascenderem a uma dimensão – que só eles, em dimensão individual, podem explicar, mesmo em forma de música – não haveria uma questão pertinente, por formular, diferente desta: “Do you feel me?” Ao interpretar esta composição, consciente de que a música também atrai a atenção das pessoas, e porque queria que o público entrasse na sua adrenalina e “ o sentisse”, Kirk Whalum esclarece a sua pergunta: “Não estou a perguntar se vocês estão a escutar-me.

Mas se estão a sentir-me”. Não havia nem podia haver dúvidas de que, conforme prometeu, “I’ll be there” – Kirk já estava connosco em Moçambique. Por essa razão, e sempre de forma alegre e animada, na composição seguinte, “Africa Jesus Africa”, o instrumentista fez preces para que Deus abençoasse o encontro que, finalmente, pela primeira vez, se estava a materializar. Trata-se, aliás, de uma música que produziu uma espécie de comunhão entre os músicos e o público.

Kirk Whalum é um intérprete que consegue estabelecer uma forte conexão com as pessoas, sobretudo as que demandam e consomem as suas obras. Por exemplo, este instrumentista é capaz de se introduzir, naturalmente, nos rituais africanos e, de certa forma, tornar-se africano. Só um artista com esta sensibilidade – este sentido muito alto – quando afirma que “I will always love you”, é convivente. Esta música é uma plena declaração de amor entre os Homens – enquanto humanidade – e o seu Criador.

A menos de uma música para terminar a sua actuação, Kirk Whalum apresentou a composição “Falling in love with Jesus”, a partir da qual, ao garantir que o público combinasse as suas vozes em coro, produzisse a harmonia capaz de fazê-los compreender que – todos –, independentemente do lugar onde se encontram ou têm origem, são seres humanos e têm a mesma origem.

A música – indiscriminadamente – é uma linguagem universal e una como o Criador. A actuação de Kik Whalum é uma narrativa única que, fazendo jus ao “All I do”, o seu último tema exposto, não somente merece um tratamento isolado – cada concerto é um concerto –, como também, primeiro, explica a exclusão, nessa matéria, da análise em relação ao “show” de Gerald Albright. Faltam-nos, mais uma vez, espaço e tempo neste jornal para o efeito. Segundo e último, o mesmo concerto é um argumento para se compreender a dualidade de sentido que se produziu nesse artigo – essa ideia da satisfação (in)condicional.

Mas tem condição

No Moments of Jazz – até porque essa é a sua missão –, incondicionalmente, os artistas proporcionam aos presentes pleno aprazimento. Compreende-se, talvez, por aí, as razões de – para a ala VIP – os ingressos custarem quatro mil meticais, enquanto o bilhete normal estava condicionado ao desembolso de dois mil meticais. A pergunta que se coloca é quem, entre a maioria dos moçambicanos, está em condições de pagar pelo concerto.

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