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Dançar para garantir o sustento

Dançar para garantir o sustento

O grupo cultural “Noshanka”, que na língua local significa “Preocupados”, é a materialização de um sonho iniciado na Escola Primária Completa de “Namuatho A”. A colectividade é constituída por jovens que procuram o seu sustento diário por meio da dança, nomeadamente N’sope e Tufo, transmitindo conselhos sobre as doenças sexualmente transmissíveis. Vencedores do Festival de N’sope, promovido pela Universidade Lúrio, eles viram na dança uma oportunidade para ganhar a vida e custear os estudos.

Quando um professor da Escola Primária Completa de “Namuatho A”, situada no bairro de Muhala–Expansão, arredores da cidade de Nampula, decidiu organizar um grupo cultural naquele estabelecimento de ensino primário, não imaginava a dimensão do projecto sob sua responsabilidade. Aquele pedagogo, que pretendia imortalizar a dança local, seleccionou alguns estudantes com vista a integrarem o conjunto cultural. Teve a sorte de encontrar jovens apaixonados pela dança.

Os ensaios eram feitos no período da tarde e nos fins- -de-semana. A capacitação em matérias de danças tradicionais durou, pelo menos, três meses. Graças ao esforço daquele pedagogo e dos seus “discípulos”, surgiu o grupo “Noshanka”. Trata-se de uma colectividade de estudantes unidos para revitalizar a dança em Nampula. A colectividade progredia a cada dia que passava. Nos dias em que a Escola organizasse alguns eventos importantes, o conjunto era convidado para encantar o público.

Nas suas apresentações, difundia os conteúdos a serem abortados nos seminários, por exemplo, entre outros acontecimentos que aquele estabelecimento de ensino leva a cabo. Quando se festejasse o aniversário da escola, o grupo organizava coreografias que mostrassem o percurso, as dificuldades e a responsabilidades daquela escola. Volvidos alguns anos, o grupo cultural viu-se no fundo do poço, uma vez que os integrantes já estavam a concluir o ensino primário. Com a maioria dos membros nas escolas secundárias, a dificuldade era unir os bailarinos para prosseguir com o trabalho.

As sistuações que separaram os bailarinos afectaram o docente que se viu obrigado a abandonar o ofício para prosseguir os estudos a nível superior. O grupo ficou entregue à sua sorte. A direcção da escola na qual nasceu a colectividade já não tinha capacidade para gerir as actividades e, igualmente, monitorar os integrantes, devido à falta de condições financeiras para o efeito.

Mergulhado num mar de incertezas, o agrupamento organizou uma reunião com os seus membros, de modo a estudar possíveis soluções que levassem ao (re)nascimento dos”Noshanka”. Uma das hipóteses foi formar um grupo independente, que pudesse gerar fundos para o dia-a-dia de cada bailarino.

Sem o apoio da escola, os integrantes daquele agrupamento decidiram resgatar o nome do grupo e voltar a desenvolver as actividades, mas com outra perspectiva, para garantir o sustento diário das suas respectivas famílias e custear os estudos. O resurgimento da colectividade obrigou os integrantes a desenhar diversas estratégias que visavam ganhar a atenção do público, com destaque para os empresários locais e instituições públicas.

“Quando o grupo se desfez, ficámos à deriva. Porém, surgiu a ideia de voltar a praticar as danças tradicionais e incrementar o nosso esforço no trabalho, com vista a superar outras colectividades e igualmente ganhar a atenção das organizações não-governamentais (ONG´s) e públicas”, explica Caetano Domingos, líder do conjunto.

Depois de se ter materializado a ideia, o passo seguinte foi o de procurar o docente que fundou o agrupamento, com vista a ministrar aulas de danças tradicionais e igualmente ajudar na elaboração das coreografias. O professor voltou a integrar a colectividade e passou a trabalhar com aqueles jovens que procuravam o seu sustento na dança.

Com os velhos talentos reagrupados, os”Noshanka” seguiram em frente com coreografias ligadas a questões de âmbito social, nomeadamente doenças sexualmente transmissíveis, campanhas de promoção da saúde de mulher grávida e da criança, entre outros. Desta feita, o agrupamento procurou consolidar-se no mundo da cultura em Nampula. O trabalho foi-se intensificando e os integrantes começaram a enfrentar dificuldades para conciliar os estudos e a dança.

“Nas nossas apresentações, pretendemos mostrar que existe uma doença na comunidade. Primeiro, identificamos a anomalia e, seguidamente, organizamos os passos que retratarão o historial. Temos o bailado sobre SIDA, cólera e casamentos prematuros”, refere Domingos. A coreografia sobre VIH/SIDA ilustra ao público o historial da doença com base nos movimentos combinatórios do corpo. Em relação aos modos de transmissão, os artistas usam a dramaturgia para complementar os passos de dança, de modo que a mensagem chegue ao auditório.

Conquista do mercado

Dentre várias situações vividas pelos integrantes do grupo”Noshanka”, há que referir os prémios alcançados durante a caminhada, “fruto de muito empenho e dedicação”, segundo Domingos. Os referidos momentos de glória começaram nos meados de 2012, com a realização do VII Festival Nacional de Cultura na cidade de Nampula, onde conquistaram o primeiro lugar na categoria de dança.

Numa disputa nacional que acolheu mais de 100 grupos culturais provenientes de todos os cantos de Moçambique, o agrupamento de jovens que procuram o ganha-pão na dança, mostrou-se eficaz e igualmente firme na valorização da cultura do norte.

Devido à sua dedicação, os “Noshanka foram vencedores do II Festival de N’sope organizado pela Universidade Lúrio. Aqueles jovens, que actualmente caminham a passos largos para a conclusão do ensino secundário geral, amealharam prémios variados. Refira-se que o conjunto venceu a primeira e a segunda edição do Festival de N’sope.

A conquista de uma gama de competições foi o combustível para o arranque de uma nova era de trabalho. Hoje em dia, os convites não param. Foram convidados pela Direcção Provincial da Saúde (DPS) de Nampula para animar as campanhas de carácter sanitário nas comunidades, onde a mensagem é difundida a partir de coreografias bem ensaiadas.

Várias ONG´s a nível da cidade de Nampula manifestaram o interesse de trabalhar com aqueles jovens na divulgação dos seus produtos e serviços nas zonas mais recônditas. Com canções e coreografias tipicamente tradicionais, eles fazem campanhas publicitárias no distritos da província de Nampula, e não só.

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