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Toma que te dou: A luta continua! (3) *

Continua a chover em torrentes e as pessoas também continuam a vibrar em harmonia com a mulher que fala com sotaque nyúngwè no palanque de ouro instalado na Praça da Independência, em Maputo. No céu, estranhamente limpo, regista-se um fenómeno nunca visto pelos populares, um arco-íris, em círculo, rodeia o sol, produzindo uma imagem espectacular que faz delirar as massas que acorreram ao lugar em obediência à voz que bramia no espaço. Chove por demais e o granizo interrompeu a sua queda inexplicável.

No intervalo das palavras de ordem, o povo canta em consonância com um maestro invisível. São canções nunca entoadas a sobressaírem da devassidão do escuro, e as vozes, afinadas em barítono, em tenor, em contrabaixo e em soprano, sublevam-se ao som da partitura da chuva. As pessoas cantam e dançam como nunca. E a mulher que está no estrado, acompanhada de conselheiros vindos de todo o país, de todos os partidos políticos moçambicanos, de todas as raças e de todas as crenças religiosas, também canta e dança fazendo esvoaçar as saias compridas e largas que traja no seu corpo escuro.

Está a chegar mais gente à Praça da Independência e cada vez que as pessoas “desaguam” ali como águas de muitos rios, a foz parece alargar-se.

– Caros compatriotas!

A voz troa por entre o som extraordinário das canções e da chuva que repentinamente parou quando a mulher fez o apelo. O povo também interrompeu os maravilhosos cantares e o que se seguiu foi um silêncio de expectativa. Todos – cansados de ouvir as mesmas palavras que saem dos discursos enfadonhos daqueles que mantêm o leme de Moçambique – prestavam atenção e queriam outro sol que possa nascer e iluminá-los.

– A luta continua!

– Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

– Independência ou morte!

– Venceremoooooooooooooooooooooosssssssssssssssss!

– Caros compatriotas, em primeiro lugar, quero agradecer a vossa disciplina. Isso demonstra que todos nós estamos conscientes de que este país precisa de nós e, para que possamos responder aos desafios da nossa terra, temos de estar organizados. Não precisamos de recorrer à violência para atingir os nossos objectivos. E o objectivo de cada um de nós deve ser orientado no sentido de construirmos um país onde todos tenham os mesmos direitos e beneficiem da imensa riqueza que Moçambique produz. Temos de lutar para que todos usufruam do bem-estar. Esta pátria tem condições para isso.

A multidão escuta atentamente o discurso feito por uma mulher que fala sem muitos gestos. Expressa-se com educação, respeitando os seus conselheiros e o povo que a acompanha.

– Não podemos continuar a assistir a este roubo descarado e abusivo das nossas riquezas, sob capa de contratos controlados por eles mesmos. O que é pior é que é inadmissível que só uma minoria de moçambicanos viva no paraíso, enquanto a maioria do povo moçambicano busca restos de comida na gandaia.

Há um silêncio absoluto no seio da multidão. Os conselheiros da mulher, sentados tranquilamente, abanam a cabeça em aprovação das palavras que ela pronuncia com sabedoria.

– Este país é de todos nós. Não precisamos de nos digladiar para dividir este maná que é uma dádiva de Deus. Mas também não podemos ficar de braços cruzados a assistir a este abuso. Vamos à luta, compatriotas. Vamos mudar o nosso país.

Não precisamos dessas armas. As armas estão na nossa inteligência. As armas estão na necessidade urgente de exigirmos justiça. A Luta continua!

– Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

– Obrigado, caros compatriotas.

* Texto imaginário do autor

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