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Crime gera temor na KaTembe

Crime gera temor na KaTembe

A morte de José Cunha, um cidadão pacato de origem portuguesa que criava aves e porcos no bairro Chali, a invasão da residência de Salomão Chongo, um pastor da Igreja Metodista Wesleyana de KaTembe, cujos pertences foram queimados no seu próprio quintal, dentre outros crimes ocasionalmente reportados a partir de diferentes pontos do Distrito Municipal de KaTembe, na cidade de Maputo, agudizaram o sentimento de insegurança.

Naquele ponto da capital moçambicana, o senso comum é de que os residentes vivem num ambiente caracterizado pela desesperança, pelo mal-estar, pela incerteza e pelo receio do desconhecido. A onda de criminalidade já é considerada um problema do dia-a-dia nos bairros de KaTembe, sobretudo em Incassane e Chali. A explicação de alguns habitantes interpelados pelo @Verdade é a de que tal facto se deve ao desenvolvimento que o distrito regista.

Na madrugada do dia 17 de Agosto, no bairro de Incassane, um bando de supostos assaltantes, composto por mais de uma dezena de indivíduos, invadiu o domicílio do pastor Salomão Chongo, do qual foram saqueadas malas de roupa a que atearam fogo no seu quintal.

Segundo a vítima, os meliantes puseram-se em fuga e encontram-se em parte incerta. Na altura em que o crime se deu, Chongo não se encontrava em casa. A sua família estava no domicílio mas ninguém sabe explicar como é que os malfeitores se introduziram na residência, pois nenhuma pessoa se apercebeu de algum movimento estranho.

Por volta das 05h:00 do mesmo dia, a família apercebeu-se de que havia estragos na casa, a porta aberta e as chaves do lado de fora. Fez-se o inventário dos danos causados e instantes depois notou-se que alguns pertences estavam a ser reduzidos a cinza.

A Polícia da 19ª esquadra no Distrito Municipal de KaTembe, que negou prestar-nos esclarecimentos em torno do caso, seguiu as peugadas dos bandidos até uma certa residência, porém, ninguém foi detido alegadamente porque isso não provava nada, contou-nos Chongo. Entretanto, as suas palavras contrastam com as da corporação. Esta refere que, graças ao auxílio dos fuzileiros, 17 indivíduos foram detidos na 11ª e 12ª esquadras e, posteriormente, transferidos para as prisões.

A calma está a desaparecer

A criminalidade está a ganhar contornos alarmantes e parece estar fora do controlo da Polícia, considerou o pastor, para quem o mais preocupante é que há casos de roubo e mortes que são reportados às autoridades, mas estas nada fazem para esclarecê-los.

Aliás, Chongo especula afirmando que algumas pessoas de má-fé estejam a usar água com a qual se dá banho aos defuntos para adormecer profundamente os proprietários das residências assaltadas. Paulatinamente, a tranquilidade que caracterizava KaTembe vai desaparecendo porque os meliantes encontraram refúgio nesta zona quando cometem desmandos noutros pontos da cidade de Maputo.

Incassane está a tornar-se um bairro inseguro

David Bambo, residente no bairro de Incassane, disse-nos que naquela área os assaltos eram raros, mas nos dias que correm tendem a aumentar. Há mais roubos nos domicílios que agressões na via pública. A falta de patrulha permanente por parte da Polícia, no período nocturno, pode ser a principal razão desse recrudescimento. A corporação anda indiferente. “Quando pedimos ajuda para estancar as acções dos meliantes, a desculpa é a de que não existem meios para o efeito”.

Criador de aves e porcos assassinado

No dia 22 de Agosto, também de madrugada, José Cunha, de origem portuguesa, de 60 anos de idade, foi assassinado na sua casa no bairro Chali, por uma gangue que invadiu o seu edifício presumivelmente com o intuito de se apoderar de uma parte das suas aves e suínos. A má notícia propagou-se como um rastilho e causou indignação nos destinatários, sobretudo nos que conheciam o falecido.

Segundo testemunhas, o presumível assassino de Cunha já esteve, no passado, detido devido ao roubo de aves na casa do morto. Aliás, cometeu outro crime, foi enclausurado e restituído à liberdade, havia 72h:00 quando novamente atacou a casa da vítima a que nos referimos.

O português era vizinho de César Hlhali. Este reconstitui o delito à nossa Reportagem e narrou que quatro indivíduos se introduziram no quintal de Cunha; uma vizinha apercebeu-se de uma movimentação estranha e correu a alertá-lo. César pegou numa catana e dirigiu-se à casa do morto para averiguar o que estava a acontecer. Infelizmente, Cunha estava estatelado e apagado.

De repente, o nosso interlocutor notou a presença de um grupo transportando animais, presumivelmente aves, num saco, tendo abordado a gangue que, como resposta, o agrediu. Nesse instante, César feriu a cabaça de um dos assaltantes com a sua catana. O instrumento com que ele se defendia caiu e ficou em poder do malfeitor. O “socorrista” pôs-se em fuga gritando por socorro, devido ao risco de vida que corria. Os vizinhos interromperam o sono, abandonaram os seus domicílios para o acudir e o suposto criminoso caiu nas mãos da população, tendo algumas pessoas o identificado como um ex-membro das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), expulso por cometimento de roubos.

A detenção do malfeitor aconteceu graças à boa-fé de um cidadão que disponibilizou a sua viatura para o efeito depois de se ter procedido à perseguição do malfeitor, que só não foi linchado graças à intervenção da Polícia que agiu logo que tomou conhecimento da ocorrência.

Outros assaltos a residências

De acordo com outros interlocutores, que não quiseram dar a cara por temerem represálias, no bairro Chali, várias casas foram assaltadas só neste mês de Agosto. E há indivíduos de conduta duvidosa que à noite vagueiam na via pública. César confirmou isso e indicou que já houve registo de agressões físicas com recurso a objectos contundentes sendo que os malfeitores andam em bandos numerosos. Apesar da patrulha da Polícia na zona, o crime está a recrudescer. Uma das razões desse problema é o aumento de locais de lazer, de empreendimentos turísticos e a existência de gente que movimenta muito dinheiro.

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