Para salientar a sua grandeza, os moçambicanos chamam-no embondeiro, mas Gabriel Chiau é um músico que – ao longo de vários anos – criou e cantou a música “A uni tenderi”. Agora, aos 74 anos, mais de 50 dos quais dedicados à música, está doente. Padece de um cancro da próstata. Precisa de tratamento, que é caro. Será que, apesar do estatuto de embondeiro, deixá-lo-emos murchar?
“Conhecemos os embondeiros. Eles são uma espécie vegetal que se caracteriza por viver longos anos. E nós, os seres humanos, com o desenvolvimento tecnológico que criámos, agora temos mais esperança de vida. Dizem que vamos poder viver até os 150 anos”.Em princípio, estas palavras – expressas por Manuela Soeiro, a mãe do teatro em Moçambique – podem revelar alguma emoção, no sentido positivo do termo, mas, na verdade, elas contêm um desespero que se traduz nesta sentença: “Eu não me imagino sem Gabriel Chiau!”
A narrativa
A história da descoberta do cancro de próstata, de que padece, pode ser narrada, divertidamente, por Chiau da maneira seguinte:
“Todos sabemos que um bebé que não chora não mama. Então, a descoberta da minha doença surge no âmbito da minha abertura quando fui surpreendido por um jornalista – da Gungu TV – que queria fazer matérias sobre a minha obra e o meu percurso. Com ele, no decurso da conversa, falei sobre as minhas complicações de saúde. Não sabia qual é que seria o rumo desta situação. Facto, porém, é que, mais tarde, fiquei a saber de que padecia de um cancro de próstata”.
“Numa outra ocasião, o médico Domingos Mapasse – que trabalha no Hospital Central de Maputo – interessou-se pelos meus trabalhos. A sua esposa celebrava o seu aniversário. Entretanto, eu não quis tratar o assunto telefonicamente como, habitualmente, tenho feito. Fui a sua casa a fim de discutir sobre como seria o evento e como eu iria participar”.
“Depois da conversa eu – cara sem vergonha e atrevido – expliquei-lhe que não sabia de que padecia, mas sentia dores nos músculos que, por vezes, têm tido prisões. Queria saber de que modo o médico me podia ser útil”.
“Numa facilidade extraordinária, o médico orientou-me para que fosse ao Hospital Central de Maputo, onde fiz os exames. Fiquei sabendo que por causa desta doença as pessoas morrem. O cancro da próstata é uma doença fatal. Por isso, deposito muitos agradecimentos ao doutor Mapasse”.
“O médico explicou que o custo dos medicamentos que me deviam receitar varia entre 35 e 45 mil meticais em cada três meses. Mas onde é que eu iria encontrar esse dinheiro?”
Outra narrativa
No outro dia – supõe-se que seja na mesma semana que Chiau conversou com o jornalista – a estudante de comunicação, Eládia Madau, fazendo um search pelos canais televisivos, sintonizou um em que se passava a informação de que Gabriel Chiau estava doente e que o tratamento da enfermidade demandava muito dinheiro.
Entretanto, como há um ano – o tempo da sua criação – Madau já fazia parte do Movimento Solidário do Facebook (MSFB), uma organização juvenil que desenvolve acções filantrópicas e humanitárias, imediatamente, partilhou com os seus colegas a ideia de apoiar o músico enfermo. A missão foi aprovada. Ela mesma telefonou para Chiau para falar sobre a decisão.
“Há muita malandrice e oportunismo na cidade – por isso desconfiei da chamada e da sua intensão”, comenta Gabriel.
O facto mais importante – porque gerou alguma solução – é que, em pouco tempo, a informação sobre a doença de Chiau chegou a Portugal, para o conhecimento da doutora Ana Caeiro. Refira-se que o artista não conhece a referida Caeiro.
“Mas ela preocupou-se tanto em relação à minha saúde de tal sorte que já me providenciou a primeira doze dos medicamentos. Além do mais ela garantiu-me que – com o tratamento integral – esta doença é curável e eu voltarei a ser o Gabriel de sempre”.
Emoção espontânea
Na sequência de todos estes acontecimentos, narrá-los para as pessoas chega a ser uma experiência emocionante para o doente. Então, “como é que, nestas condições, eu não me posso sentir bem? Eu agradeço a iniciativa do MSFB, bem como à directora do Teatro Avenida, Manuela Soeiro que é uma pessoa muito amiga, incluindo todas as pessoas que me estão a apoiar nesta luta”.
“Em relação à doutora Ana Caeiro quero vê-la, abraçá-la e expressar-lhe os meus agradecimentos. Já estou a tomar os medicamentos disponíveis. Espero que este movimento de solidariedade se expanda para muito mais gente que precisa. Devíamos guiar-nos com base no princípio da solidariedade, tornando-nos amigos, para estabelecer a paz na nossa sociedade”.
A solução falhou?
A solução encontrada e proposta pelo MSBF é a realização de um concerto musical com a participação de vários músicos. Há um naipe de artistas conceituados que toparam a proposta. O ‘show’ – cujo dinheiro dos ingressos deve reverter na compra dos medicamentos – devia ter sido realizado na sexta-feira passada, 24 de Agosto. O problema é que Gabriel Chiau teve uma recaída. Cancelou-se o espectáculo, estando previsto que aconteça numa data a marcar.
Mas ele continua doente. Será que a solução falhou? E nós vamos admitir isso? Não! O MSFB que se voluntariou para colectar e encaminhar o dinheiro para a compra dos medicamentos não abandonou a missão. O estimado leitor – se achar, como é óbvio, que vale a pena apoiar esta causa – pode contactar o Movimento Solidário do Facebook, através do jornal e da sua respectiva página nessa rede social.
“Gabriel Chiau é um amigo de longa data. Ele tem sabido oferecer-nos a sua energia através das suas canções que nos enchem a alma de alegria. Mesmo com as dificuldades em que se encontra, ele é uma pessoa que sempre canta com muita alegria. Ou seja, não faz a música por alguma obrigação mas pelo puro prazer de cantar”, afirma Manuela Soeiro.