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Coisas que não compreendo no Teatro de Inverno

Se tudo ocorrer conforme prevejo, este ano eu gostaria de acompanhar todas as sessões do décimo Festival de Teatro de Inverno de Maputo. Como tal, na semana passada, tive a honra de ver as três primeiras peças exibidas pelos grupos de teatro da Escola de Comunicação e Arte (Sete Irmãos), Nkhululeko (Vinte minutos da verdade) e Makwerhinho (Kuphanda).

Tratando-se da décima edição de um evento que acompanhou o nascimento de actores, as expectativas em relação ao mesmo são grandes.

De qualquer forma, confesso que estou menos animado do que estava ao longo dos preparativos, momento em que sonhava com melhores condições técnicas sob o ponto de vista de iluminação, de sonoplastia e da divulgação. Nesse último aspecto estou a referir-me à publicação e promoção da iniciativa nos painéis das ruas de Maputo, uma cidade que se está a tornar de luz, a partir dos painéis publicitários. Isso também faz parte do apoio à cultura. É mecenato.

Entretanto, se, efectivamente, a ideia de discriminar determinados grupos em função da sua qualidade artística, nesta edição, for – como o mano Quim, o director do evento, me assegurou – dos próprios actores e grupos teatrais, ainda que me tenha emocionado com a tristeza de uma actriz adolescente pelo facto de a sua colectividade ter sido excluída, nada se pode fazer.

Mas o que é qualidade num festival cujo fundamento é criar espaço de acção a quem não o tem? Um evento que nasceu no clamor dos grupos de teatro amador em prol da existência de uma plataforma em que também se pudesse expressar?

De qualquer forma, colocando-se os constrangimentos à parte, também estou animado com o facto de este ano os dois grupos que, neste momento, constituem o edifício do teatro moçambicano – o popular Gungu, por um lado e o erudito Mutumbela Gogo, por outro – também fazerem parte da ementa do festival.

Este arranjo, bem pensando, possibilitará que muito mais pessoas possam ver espectáculos de qualidade profissional e, se quisermos, internacional – como agora, em virtude da participação dos brasileiros Mundo Teatro e dos angolanos Pitabel, pensar-se que o Teatro de Inverno caminha em direcção a tal patamar – protagonizados pelo Mutumbela Gogo e pelo Gungu.

Mas atenção, ainda que os ingressos custem 50 meticais, as obras O Inimigo do Povo e Salve-se Quem Puder pertencem a ambos os grupos e serão exibidas nas suas instalações. É aí onde começam as minhas incompreensões. Até que ponto podemos assumir que o Mutumbela Gogo e o Gungu estão integrados no Festival do Teatro de Inverno, numa situação em que as suas actuações seguirão a programação normal das suas instituições?

Para mim, sendo o Teatro Mapiko a catedral do Festival de Teatro de Inverno, é lá onde o Mutumbela e o Gungu deviam actuar. Sendo assim, criar-se-iam condições para se ceder espaço às colectividades culturais que, na realidade actual, tenham um palco convencional de teatro. Ou seja, realmente, dar-se-ia oportunidade a quem não a tem.

Aliás, seguindo essa lógica, sou impelido a reiterar que o Teatro de Inverno se funda nos palcos do Mapiko. Se existe uma casa cultural que deve ser sublimada é esta. Por isso, estou muito animado com o facto de os angolanos estarem agendados para actuar lá. Defendo que aos brasileiros se devia fazer o mesmo. É naquele palco onde se encontra a nossa realidade sem nenhum muralha de vergonha.

Inocêncio Albino

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