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Cinco crianças órfãs à deriva na Maganja da Costa

Cinco crianças órfãs à deriva na Maganja da Costa

Paulina Rodrigues, de 67 anos de idade e residente no bairro Bala-sede na vila municipal da Maganja da Costa, província da Zambézia, cuida de cinco netos menores de idade, desde que a morte os separou das mães. À espera de dias melhores que não chegam, os petizes vivem na incerteza do amanhã. Apesar disso, eles não deixam de sonhar com uma vida melhor.

Jacinto João, de 12 anos de idade, Osvaldo Olímpio (10), Ajanes Luis (9), Samira Manuel (7) e Bonjovi Rodrigues (6) são os menores que vivem sob o cuidado de uma anciã que, a cada dia que passa, receia o futuro das crianças por falta de apoio e condições de sobrevivência. Paulina Rodrigues deu à luz quatro filhas, porém, todas acabaram por perder a vida vítimas de doença, deixando a idosa com cinco netos. Além disso, ela não sabe do paradeiro dos seus respectivos progenitores. A anciã referiu que nunca foi chegou a conhecer os seus genros, razão pela qual se encarregara da educação das crianças.

A nossa entrevistada teme que um dia possa deixar os seus netos à deriva, uma vez que não tem ninguém que possa cuidar dos petizes. O dia-a-dia daquelas crianças é caracterizado por inúmeras dificuldades, tal como falta de alimentos. A chuva que tem vindo a cair nos últimos dias nesta região do país fez desabar a casa onde elas passavam as noites. A habitação, construída com material precário, pertencia à sua última filha que perdeu a vida no fim do ano passado. Falando à reportagem do @Verdade, ela chorou devido ao sofrimento por que os netos passam.

“Não sei qual foi o mal que cometi perante Deus. Os meus netos estão expostos a todo o tipo de desgraça aqui na terra”, desabafou. Aos cinco petizes são negados os direitos básicos, nomeadamente a educação, a saúde, a alimentação e o vestuário. Para garantir o sustento diário, a anciã recorre a pequenos trabalhos nas casas dos vizinhos e na machamba, apesar da sua idade avançada. O mais velho, dos cinco menores, Jacinto João, disse que para ter uma camisa tem de lavar a loiça dos vizinhos, além de limpar o chão. “Quando a nossa avó adoece, passamos por momentos difíceis na nossa vida”, afirmou.

Jacinto disse que mesmo quando a sua mãe estava viva nunca teve a oportunidade de conhecer o seu pai. Porém, o que mais o deixa triste é saber que, além da sua avó, existem alguns parentes que não querem ajudar nas despesas. “Não viveremos a nossa infância porque cada um de nós tem de lutar para cuidar da nossa avó, que batalha todos os dias para a nossa sobrevivência”, disse, tendo acrescentado que, apesar de a vida ser um autêntico martírio, vão superar todas as dificuldades.

Paulina Rodrigues luta incansavelmente para “não deixar faltar nada em casa”. Todavia, tem sido frequente não haver sequer um grão de arroz ou farinha. As folhas de mandioca e de batata-doce têm sido a salvação daquela família, que muitas vezes tem de contar com a boa vontade dos vizinhos. “Não temos apoio de ninguém, senão o da nossa avó, que luta pela nossa sobrevivência e o nosso bem-estar”, disse o Jacinto.

O futuro incerto das crianças

Osvaldo Olímpio tem 10 anos de idade e frequenta a 4ª classe na Escola Primária vila sede da Maganja da Costa. Ele tem o sonho de ser enfermeiro, mas o menor vê o seu desejo cada vez mais ofuscado, uma vez que está a ser expulso da sala de aulas pela direcção da escola, devido à falta de uniforme. “Não tenho uniforme para ir à escola. Quando informei a minha avó, ela disse que não tem dinheiro. Portanto, não tenho outra coisa a fazer, a não ser ficar em casa”, afirmou.

Osvaldo fez saber que a sua avó foi ter com a direcção da escola para dar a conhecer a situação por que passam os meninos, porém, não teve resposta satisfatória alegadamente porque a nível nacional, independentemente das condições financeiras de cada aluno, são todos obrigados a usar uniforme escolar. Nestes últimos dias, o menino viu- -se obrigado a ficar em casa. Jacinto, de 12 anos de idade, frequenta também a 4ª classe e sonha em ser membro da Polícia da República de Moçambique. À semelhança do seu irmão, não pode ir à escola por falta de uniforme. “Eu quero estudar para ajudar a minha avó e os meus irmãos”, disse.

Samira Manuel, de oito anos, frequenta a 3ª classe. Ela ainda não sabe que área vai abraçar quando for adulta. Paulina referiu que o sofrimento por que passam os petizes é do conhecimento do chefe do bairro, mas ele nada faz para apoiar as crianças. A nossa interlocutora pede incansavelmente apoio, sobretudo a construção de uma residência condigna, mesmo que seja de material precário, para que possa passar as noites ao lado dos netos.

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