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Cidadão perde a perna no comboio da CDN em Nampula

Desde a criação da empresa Corredor de Desenvolvimento do Norte (CDN), tem havido relatos segundo os quais certos funcionários, afectos à área de transportes e segurança, têm estado a protagonizar crueldades em relação aos passageiros durante as viagens de comboio de Nampula para Cuamba e vice-versa. Dentre as atrocidades, destacam-se agressões físicas e ameaças de morte. Lucas Francisco, de 35 anos de idade, morador do bairro de Mutauanha, é uma das vítimas dos actos macabros perpetrados por aqueles trabalhadores. Em 2007, aquele cidadão viu a sua perna esquerda amputada, após ter sido empurrado para fora de uma das carruagens em pleno movimento.

O caso deu-se, precisamente, no dia 02 de Maio de 2007, quando Lucas Francisco regressava da cidade de Cuamba, onde se dedicava a pequenos negócios. Ele adquiria electrodomésticos em Nampula para posteriormente revendê-los naquele município da província de Niassa, e, ao regresso, comprava milho e amendoim para comercializar em Maputo. Com o negócio, Francisco garantia o sustento diário da sua família. Porém, desde aquele dia do sinistro, a sua vida mudou de forma drástica, pois, além da perna esquerda, ele perdeu todo o dinheiro de que dispunha.

O cidadão conta ainda que, depois de ter sido evacuado para o hospital, não levantou as suas mercadorias. Na altura, Francisco viajava na companhia dos seus amigos que também se dedicam àquela actividade. Subitamente, um dos responsáveis pela segurança do comboio, naquele momento garantida pela empresa Moçambique Segurança (MOSEG), começou a proferir ameaças contra o jovem comerciante.

“Tu vais ver o que te vai acontecer hoje”, disse o indivíduo. Naquele instante, ele sentiu-se amedrontado e, ao mesmo tempo, perplexo, visto que não entendia o que estava por detrás da atitude daquele funcionário. “Quando vi aquele homem, fiquei assustado e sem entender o que se estava a passar. Eu tinha pago o bilhete de passagem e não havia cometido nenhuma irregularidade”, conta.

A ameaça não tardou a materializar-se. Um dos agentes de segurança da MOSEG dirigiu-se até onde estava Francisco, tendo, de seguida, feito uma vistoria aos seus bolsos. Volvidas algumas horas, nas proximidades do apeadeiro de Renti, arredores do distrito de Ribáuè, um grupo de agentes da segurança fez-se à carruagem onde se encontrava aquele cidadão e começou a espancar o comerciante. “Em algum momento, pensei que não sairia dali vivo”, afirma.

Após uma ligeira paragem, o comboio prosseguiu a viagem rumo à cidade de Nampula. Nesse instante, sem piedade, Francisco foi atirado da locomotiva em movimento. Na sequência desse acto, ele perdeu a perna esquerda, uma vez que caiu sobre os trilhos. “Fiquei desesperado e pensei que os meus dias na terra haviam terminado. Mas, mesmo assim, esforcei-me e, graças a Deus, consegui salvar a minha vida”, afirma, tendo acrescentado que “havia perdido os sentidos e só despertei no Hospital Central de Nampula”.

“Perdi os meus pertences”

Segundo Lucas Francisco, além de produtos alimentares que trazia durante a viagem, perdeu 100 mil meticais e suspeita de que os agentes da segurança se apoderaram do valor. Volvidos alguns meses, Francisco procurou a CDN, tendo sido recebido por um cidadão identificado simplesmente pelo nome de Edmundo que, numa primeira fase, se predispôs a ajudar a vítima.

O funcionário disse que escreveria uma carta endereçada à direcção daquela empresa com vista a disponibilizar apoio àquele cidadão. Segundo o nosso interlocutor, na referida carta, o lesado aparece a pedir ajuda à direcção da Corredor de Desenvolvimento do Norte e, numa das passagens, lê-se que o jovem estava sob o efeito de álcool e desequilibrou-se, tendo, posteriormente, caído sobre a linha férrea, o que, de acordo com a vítima, não constitui verdade.

Francisco levou o caso à Procuradoria da República da Província de Nampula (PRPN). No dia da acareação, o funcionário da CDN, que escreveu a carta em nome do lesado, dando conta de que, na altura do ocorrido estava sob efeito do álcool, assegurou às autoridades judiciais que o cidadão Lucas Francisco foi quem redigiu o documento. “Eu não escrevi nenhuma carta a dizer que naquele dia eu estava embriagado. Aquele indivíduo falsificou a minha assinatura e ocultou muita coisa”, explica.

“Os trabalhadores da CDN não me deixam falar com o director”

Passado algum tempo, o lesado tentou falar com o director da CDN, mas foi impedido pelos funcionários daquela empresa. Lucas Francisco não se deu por vencido, tendo levado o caso às autoridades policiais. Esgotadas as possibilidades na província de Nampula, em 2010, Francisco decidiu procurar a justiça na capital do país. Na cidade de Maputo, marcou uma audiência com um dos procuradores da República, tendo sido remetido à procuradora-chefe provincial de Nampula, Amélia Chirindza.

De regresso à cidade de Nampula, o nosso interlocutor conta que entregou a carta à procuradora provincial que recebeu do Procurador- Geral da República, tendo aquela responsável elaborado uma proposta de um projecto para Francisco concorrer ao Fundo de Desenvolvimento Urbano, vulgo sete milhões, porém, não teve sucesso. Nos finais de 2013, Francisco retomou à actividade informal, vendendo telemóveis na via pública. Mas, como um mal não vem só, no mesmo ano, os agentes da Polícia e Fiscalização Municipal apoderaram-se de 26 telefones que se encontravam na sua banca.

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