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Toma que te dou: Cairá uma chuva de bênçãos

Voltamos a encontrar-nos no mesmo lugar que nos uniu, da primeira vez, sem que antes nos tivéssemos conhecido, ou nos visto em algum lugar. Temos afinidades, e foi isso o que facilitou a nossa comunicação, o nosso entendimento. Gostamos das mesmas músicas, vimos os mesmos filmes, dentre os quais “Keoma”.

Mesmo que ele tenha lido mais do que eu, as histórias que o meu amigo conta, mais do que não me surpreenderem, comento-as ou relaciono-as com outras que ouvi ou que li noutras obras. Conhecemos muitos lugares em comum, uns pisados com os nossos pés, e outros sabidos pela informação que não nos cansamos de consumir. E mais importante do que tudo isso, a nossa fé em Deus é inabalável.

Estamos sentados frente a frente, sem preconceitos. Sem pressa de nada, porque a própria cidade onde vivemos também não oferece espaço para galopes. Estamos aqui em resposta ao chamamento do sossego. Queremos levitar em paz buscando as lembranças do tempo em que os carros eram poucos nas ruas. Mas também estamos sentados frente a frente neste lugar por coincidência.

– Acompanhaste as últimas notícias de Gorongosa?

Ele perguntava-me enquanto olhava para as águas do mar que quase nos tocam os pés. Parecia que me perguntava por perguntar. Era uma forma de espevitar a mente. Pretendia, certamente, esticar a rampa para ambos voarmos livremente, sem azimute. Planar sem nos preocuparmos com a indicação do combustível – inesgotável – nos nossos manómetros.

– Judas traiu Jesus por causa do dinheiro.

– Do maldito dinheiro!

– Sabes, meu irmão, o que me assusta mais é que estes homens não acreditam em Deus.

– Em quem acreditam?

– Ninguém sabe para onde vamos.

Na esplanada onde estamos sentados há pouca gente. Os empregados de mesa não têm trabalho. Parecem passarinhos encolhidos nos ninhos, enregelados pelo frio dos pólos. Há um tédio total naquele espaço. Desde que pedimos os nossos sumos, ainda não solicitamos mais nada até agora. Até porque o que nos chamou, por coincidência, não é o sumo, mas a vontade de sair de casa e estar num sítio sossegado, sem fazer nada.

– Achas que Afonso Dlhakama tem razão?

– Razão de quê?

– E em relação ao Presidente Guebuza o que é que tu pensas?

– Na verdade, neste momento não estou a pensar nem no senhor Afonso Dlhakama, nem no Presidente da República, Armando Guebuza. O povo está acima deles.

– Acima deles e acima do dinheiro também!

– É isso, meu irmão, acima do dinheiro também! O dinheiro que matou Jesus Cristo.

– Achas que o encontro de reconciliação ainda tem lugar neste país?

– Sou optimista. O nosso país precisa de paz, e para haver paz tem de haver perdão. Eles devem pedir perdão, não entre eles, mas ao povo. Pedir perdão por todo o sofrimento que nos causam. E se fizerem isso, cairá uma chuva de bênçãos para todos nós, incluindo eles.

É tarde de sábado, e quando abandonámos a esplanada, reparámos que éramos os únicos clientes no local. Sentimo-nos especiais.

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