Entre os dias 5 e 10 de Maio últimos, Moçambique rendeu-se ao talento de Bruno Nhavene e de Marieta Nhamitambo, dois tenistas que, apesar da sua adolescência, provaram que têm capacidade para progredir nesta modalidade. Nesta semana, o @Verdade revela alguns pormenores da vida destes dois “meninos-prodígio” do ténis moçambicano.
No Circuito Internacional da Zona VI de África, uma prova organizada pela Federação Internacional de Ténis (ITF), disputada em duas fases e em duas cidades distintas, Bruno Nhavene ocupou a primeira posição em Maputo, tendo conquistado a medalha de prata em Gaberone. Marieta Nhamitambo, por sua vez, ocupou, nas duas rondas, o segundo e o quarto lugar, resultados que, de acordo com a Federação Moçambicana de Ténis, são extremamente positivos na medida em que realçam a posição de Moçambique no que diz respeito à formação nesta modalidade desportiva.
Bruno Nhavene, 12 anos de idade
Filho de Armindo Nhavene e de Stela Marisa Cambule, Bruno é natural da cidade de Maputo e oriundo de uma família tradicionalmente ligada ao ténis. Iniciou a carreira profissional com apenas cinco anos de idade no Clube de Ténis de Maputo. Foram necessários apenas sete anos para provar que é, de facto, a esperança desta modalidade desportiva em Moçambique quando, durante o Circuito Internacional que teve lugar na cidade de Maputo, ocupou o topo da tabela classificativa. “Eu gostava imenso de ver os meus pais a jogarem ténis. O meu sonho era o de me tornar um atleta profissional como eles”, refere Bruno Nhavene quando questionado sobre como é que descobriu que era um apaixonado por esta modalidade.
Prosseguindo com a sua história, em que assume que actualmente vive um sonho de infância, aquele tenista afirma que nunca conseguiu derrotar o seu irmão, Armindo Nhavene, por sinal o seu maior rival na actualidade. Lembra, com alguma tristeza, a derrota que averbou na final do Campeonato Nacional de Ténis sub-14, edição 2013, nos courts do Jardim do Tunduru. “Desperdicei, naquela partida, uma soberba oportunidade de derrotar pela primeira vez o meu irmão. Perdi por falta de concentração, mesmo depois de ter estado em vantagem no primeiro set”, contou.
Para todos os efeitos, não vencer o seu próprio irmão, segundo relata, é também um indicativo do seu actual nível, em que precisa de melhorar alguns aspectos importantíssimos, sobretudo no que diz respeito à concentração. Bruno Nhavene procura inspiração dentro de casa. Tal como anunciámos acima, ele nasceu no seio de uma família tradicionalmente praticante desta modalidade sendo, por isso, admirador de Armindo e Laura Nhavene. A nível internacional, conforme revela ao @Verdade, tem como ídolo Roger Federer, o actual número quatro do ranking da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP).
Mesmo com 12 anos de idade, Bruno Nhavene conta, actualmente, com um total de vinte títulos, desde nacionais a internacionais, sendo que o último foi conquistado na cidade de Maputo, no Circuito da ITF. Para além de ser praticante desta modalidade, Bruno é estudante numa das escolas de elite da capital do país, estando a frequentar neste ano a sexta classe. É igualmente apaixonado por economia e cinema. Num passado recente Bruno Nhavene participou na gravação do filme “A República dos Meninos”, cuja estreia teve lugar no dia 07 de Abril do ano em curso no Cinema Scala.
“O meu maior sonho é jogar no circuito da ATP”
Como qualquer tenista, Bruno Nhavene sonha em pisar os maiores palcos desta modalidade desportiva, nomeadamente o Grand Slam, Masters 1000, ATP 500 e 250, competições destinadas aos melhores tenistas do mundo. “Gostaria de um dia disputar uma destas competições. Acho que poderia contribuir para a revitalização do ténis em Moçambique, sabido que são provas rentáveis e que nos ajudariam a construir campos e academias”.
“Os dirigentes desportivos deviam apostar nos mais novos”
Numa outra abordagem, Bruno entende que uma das coisas que mina o desenvolvimento do desporto moçambicano é a falta de investimento nos escalões de formação. Para aquele tenista de apenas 12 anos, “os nossos dirigentes deviam apostar nos mais novos, sobretudo nas campanhas internacionais, pois é de nós que depende o futuro do ténis em Moçambique”.
Ainda neste capítulo, aquele tenista queixou-se da falta de material desportivo, na medida em que, “quando vamos competir fora, temos sido os únicos que não estão devidamente equipados com as cores e símbolo nacionais. Temos envergado as nossas próprias roupas, o que chega a ser vergonhoso”.
Marieta Nhamitambo, 14 anos de idade
É a filha mais nova do casal César Delgado Nhamitambo e Lyubov Lushynska. Sem clube e treinada pela sua própria mãe, uma tenista russa, Marieta iniciou a carreira nos courts do Jardim Tunduro aos seis anos de idade, ou seja, em 2006. Diferentemente de Bruno Nhavene, ela entrou nesta modalidade por diversão, ou seja, sem pensar que um dia se poderia sagrar vice-campeã regional do Circuito Internacional da ITF.
Inicialmente competia em torneios recreativos a nível da capital do país, tendo dado um salto gigantesco rumo ao profissionalismo com a conquista de campeonatos nacionais apesar de, até hoje, não estar filiada a nenhum clube. Quando, em 2007, a família Nhamitambo se mudou da cidade de Maputo para a Matola, Marieta não teve um espaço para treinar, obviamente por falta de campos naquela urbe, o que a forçou a parar por dois anos.
“Foi um autêntico calvário. Durante esse período passei pela pior fase da minha carreira como tenista. Eu estava habituada a jogar e isso prejudicou, sobremaneira, a minha evolução”, revelou. Em 2009, Marieta Nhamitambo voltou a ser uma menina feliz, diga-se de passagem. Regressou à cidade de Maputo e por isso voltou a treinar com alguma regularidade, como também teve a oportunidade de disputar diversos torneios recreativos e oficiais.
Bi-campeã nacional sub-14
Quatro anos depois de regressar aos courts, Marieta Nhamitambo sagrou-se campeã nacional de ténis na categoria de sub-14. Em 2013, ou seja, um ano mais tarde, revalidou o título, tendo, igualmente, terminado na segunda posição no Campeonato Nacional de Ténis de sub-18, depois de perder a final diante de Cláudia Sumaia.
Estes triunfos, de acordo com a tenista, fazem-na sonhar em chegar aos lugares cimeiros das competições continentais, sendo que o segundo lugar conquistado recentemente no Circuito Internacional da ITF serviu de ponto de partida. “Se houver patrocínios e incentivos, sobretudo do empresariado nacional, eu acho que podemos chegar mais longe a nível de África”, realçou. A tenista russa Maria Sharapova é a sua principal fonte de inspiração. Contudo, admira bastante a sua irmã Narcisa Nhamitambo.
Marieta Nhamitambo fora dos courts
Frequenta actualmente a oitava classe numa instituição de ensino privado na cidade de Maputo. É, igualmente, estudante do sexto ano numa escola russa baseada nesta urbe. Para além do ténis, Marieta é apaixonada pela matemática, factor que a faz pensar em seguir uma profissão ligada àquela disciplina.