O confronto na Síria continua, apesar dos anúncios feitos pelo governo sírio de que cumprirá uma trégua defendida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e de que retirou os soldados e as armas pesadas das cidades e dos vilarejos, disse nesta segunda-feira o chefe da ONU para assuntos políticos. Mais de 9 mil pessoas morreram na Síria durante 13 meses de confronto, deflagrado por um levante popular contra o presidente Bashar al-Assad.
Pelo menos 20 pessoas foram mortas num bombardeio nesta segunda-feira num bairro da cidade de Hama, afirmaram ativistas.
“A cessação da violência armada permanece incompleta”, disse o subsecretário para assuntos políticos da ONU, Lynn Pascoe, ao Conselho de Segurança (formado por 15 países) durante um debate sobre o Oriente Médio. “Muitas vidas foram perdidas, violações aos direitos humanos ainda são perpetradas com impunidade. A nossa esperança é que o envio de observadores ajude a pôr fim às mortes e consolidar a calma”, afirmou Pascoe.
O Conselho de Segurança da ONU adotou por unanimidade no sábado uma resolução que autoriza o envio inicial de até 300 observadores militares desarmados à Síria por três meses a fim de monitorar o frágil cessar-fogo implementado este mês.
A resolução, entretanto, condiciona o envio de observadores a uma avaliação da ONU sobre o cumprimento da trégua, o que reflete as preocupações dos EUA e da Europa com a perspectiva reduzida de sucesso diante do fracasso do governo sírio em interromper a violência, enviar as tropas de volta aos quartéis e retirar os armamentos pesados das cidades.
O chanceler sírio, Walid al-Moualem, escreveu no sábado a Kofi Annan, o enviado de paz da ONU e da Liga Árabe que promoveu a trégua, para informá-lo que o governo havia retirado as armas pesadas e as tropas das cidades sírias, segundo afirmou o enviado da ONU à Síria, Bashar Ja’afari.
Annan deve falar com o Conselho de Segurança esta terça-feira.
“É essencial que o governo da Síria implemente por completo e imediatamente suas obrigações de parar de usar armas pesadas e retirar as forças militares dos centros populacionais”, afirmou Pascoe. “As medidas tomadas pelas autoridades sírias até agora, incluindo a libertação de pessoas detidas arbitrariamente e o respeito ao direito de fazer manifestações pacíficas, são claramente insuficientes”, disse ele.
HAMA
O incidente no bairro de Arbaeen, na cidade de Hama, ocorreu um dia após observadores das Organizações das Nações Unidas (ONU), que monitoram um acordo de cessar-fogo, visitarem a cidade, um dos focos da revolta popular contra o presidente Assad.
“Começou pela manhã, com tanques e artilharia. Havia casas em chamas”, disse à Reuters por telefone um ativista da oposição na cidade, chamado Moussa.
“As forças militares entraram e atiraram nas pessoas que estavam na rua.” Pelo menos 60 pessoas ficaram feridas e outras vítimas podem ter ficado soterradas em prédios que ruíram, segundo ele.
Não houve de imediato comentários das autoridades sírias, que dizem estar comprometidas com o acordo de cessar-fogo mediado por Annan, mas se reservam o direito a responder ao que qualificam como contínuos ataques de “grupos terroristas”.