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Bitonga Blues – Uma empregada doméstica com porte de rainha

Se Deus nos ama, não será pelo nosso mérito Um pastor iluminado Vi-te, esbelta, pela primeira vez, no mercado do bairro T3, nos arredores da cidade de Maputo, onde eu também moro. Estavas sozinha e vestias uma capulana linda, que parecia estar a sair da mala onde estivera meticulosamente arrumada, depois de engomada com cuidado, a ferro. Na cabeça, não trazias lenço, como adoram fazêlo as mulheres moçambicanas, porém, a tua carapinha lisa, bem tratada, rente ao coro cabeludo, oferecia-nos o espectáculo de uma cabeça redonda, bem talhada. Nas tuas orelhas fui a tempo de ver dois brinquinhos resplandecentes, que entravam em harmonia com os olhos e a boca, em cujos lábios estava a marca de um batom castanho-claro, tornando-os apetitosos por demais.

Dos teus seios então não vou falar, porque eles irão completar uma escultura que ainda está para vir. Movias-te como uma galaxina. Olhei para o teu traseiro e quase que entrava em colapso. Todos os teus movimentos eram feitos com a liberdade e a elegância de uma orca: esse grande cetáceo e carnívoro voraz, que pode transformar a sua beleza em fúria dos mares. Parecias uma rainha que sai à rua para ver o povo e amedrontá-lo com a beleza e o poder. Caminhavas distante, porque, mesmo estando perto de nós, te distanciavas como se distanciam todas as rainhas do mundo.

Que têm o poder de fazer tudo o que querem. Mesmo que tudo isso venha a signifi car uma blasfémia contra Deus. Todos olhavam para ti. Todos se calaram para te ver a fazer compras no mercado do bairro T3, nos arredores da cidade de Maputo, onde moro. Trazias um cesto enorme, que foste enchendo aos poucos e poucos, sem regatear o preço. Parecias uma rainha. Uma imperadora. Enchias o mercado com a tua beleza e o teu silêncio. E o teu poder. Depois vi-te, na marcha derradeira, a ires-te embora, como um matador que tortura a vítima até a morte e depois ruge como um leão depois da lauta refeição completada com água do rio. E tu torturaste-nos com a tua beleza e o teu poder, até a morte.

Porque eu, particularmente, fi quei paralisado. Fiquei petrifi cado ainda quando me disseram que eras empregada doméstica. Mas como é que pode, uma mulher tão linda como tu, tão forte, tão arrebatadora, tão investida de poderes, pode ser empregada doméstica!? Tu devias estar no trono, onde todos te iríamos prestar vassalagem. Tinhas que ser tu, a chamar os teus servidores para te fazerem as vontades.

E tu sentada numa poltrona de veludo. Porém, estás aí, pior que um súbdito. Através de ti, quando me disseram que eras empregada doméstica, revoltei-me a favor de todas as outras tuas colegas. Sei, minha querida, e isso repugna-me, que a patroa te vai entregar as suas cuecas para lavares com as mãos que depois irão afagar a face do homem que amas.

É mais repelente ainda e doloroso que essas cuecas estejam salpicadas de sangue da menstruação da patroa, que, maldosamente, vai atirar para o chão e dirá: “Olha, dona Salwa, lavar bem as minhas calcinhas, ouviste?” E tu, aviltada, responderás: “Sim, patroa, vou lavar bem”. Mas porque tens de lavar as cuecas dessas mulheres que são iguais a ti, que nasceram de um ventre sagrado como tu também nasceste?! O teu patrão, também, virá por cima de ti.

Primeiro vai-te assediar, vai-te puxar para a cama na ausência da patroa, e tu não terás força para recusar. Primeiro, porque terás medo de perder o emprego, depois porque o patrão vai-te aliciar com dinheiro e outros bens que te enfraquecerão. Oh, minha querida, não tenho nada para te dizer! Tudo isto que eu disse é por culpa da tua estonteante beleza.

Um beijo!

por : Alexandre Chaúque 

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