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Biocombustíveis vítimas das companhias petrolíferas

Os biocombustíveis estão a ser alvo de críticas injustas pelas multinacionais do petróleo, alegando que os mesmos representam uma ameaça contra a segurança alimentar no mundo, considera José Bellini, coordenador para a área de agronegócios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

Bellini falaou na quinta-feira à AIM, a margem de uma conferência de dois dias, iniciada na Quarta-feira, para analisar as oportunidades de investimento na área dos biocombustíveis, particularmente na produção de álcool a partir da cana-deaçúcar em Moçambique, um evento organizado pelo Centro de Promoção de Investimentos de Moçambique (CPI), em parceria com o Governo moçambicano e empresas brasileiras integrantes do Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA).

“No fundo, do meu ponto de vista acaba sendo uma discussão das empresas petrolíferas que têm ‘lobbies’ muito fortes na arena mundial, porque o aumento do consumo dos biocombustíveis acaba reduzindo o consumo de petróleo e de combustíveis fósseis”, disse Bellini. “Se eu deixar de ser dependente, não vou permitir que os preços sejam manipulados da forma como eles desejariam. Assim, tudo isso (debates biocombustíveis/segurança alimentar) resume-se a discussões económicas”, explicou.

Segundo Bellini, os debates sobre a implicação dos biocombustíveis na segurança alimentar surge por que algumas pessoas entendem que o seu avanço, particularmente a plantação da cana-de-açúcar no Brasil para o aumento da produção de etanol, tem um impacto negativo na produção de alimentos. Contudo, disse Bellini, o Brasil acabou provando o contrário, desejando que o mesmo aconteça em Moçambique. Actualmente, o Brasil produz quase o dobro de cereais do que há 20 anos atras.

Questionado sobre a subida drástica de precos de alimentos registados em 2008 e que vários analistas atribuíam as culpas aos biocombustíveis, Bellini assevera não existir nenhum relação. “A subida drástica no preço de alimentos no mercado internacional em 2008 explica-se pelo facto de terem subido os custos de outros insumos usados na agricultura e não pelo facto de as terras estarem a ser usadas para a produção de biocombustíveis”, disse Bellini. Actualmente, o Brasil possui uma área disponível de cerca de 400 milhões de hectares de terra aravel, dos quais apenas oito milhões sao usados para a produção de etanol.

“Isso quer dizer que apenas dois por cento de hectares são usadas para a produção de etanol”, referiu. Na ocasião, Bellini frisou que grande parte das terras aráveis sao usadas para a criação de gado bovino. “Muito pouco gado é criado em espaços confinados”, disse Bellini. Assim, considerando que o Brasil possui 183 milhões de cabeça de gado bovino e que uma cabeça usa cerca de um hectare de terra, pode-se facilmente concluir que a produção de gado usa cerca de metade das terras aráveis.

“Se reduzirmos apenas 10 por cento da área ocupada para a criação de gado, para melhorar o aproveitamento das terras aráveis, seria possível triplicar a área disponível para a produção de etanol”, vincou. Bellini também fez referência a produtividade da cana-de-açúcar para a produção de açúcar ou etanol que está aumentando com as novas espécies de cana, melhoria no trato do solo, novos equipamentos e adopção de novas tecnologias para a extracção do suco da cana.

Em suma, existe um conjunto de novos desenvolvimentos que concorrem para o incremento da produção de etanol sem aumentar a área de cultivo de cana. Falando sobre o caso concreto de Moçambique, Bellini disse ser possível quadruplicar a produção de etanol pelo facto de não usar nem um décimo das terras aráveis disponíveis para a produção de alimentos. De um modo geral, Bellini considera que a produção de cereais ou de alimentos já não depende exclusivamente da extensão da terra.

“A produção depende da tecnologia e de um conjunto de factores que concorrem para um aumento de produção”, referiu. Para Bellini, os críticos podem-se apenas insurgir contra Estados Unidos que usam o milho para a produção de etanol. “Isso sim, os EUA estão usando um alimento humano ou para animais para a produção de etanol. Mas no caso da cana-de-açúcar a opção é apenas açúcar ou então etanol. Não é possível produz alimento com a cana-de-açúcar”, comentou.

Maior vantagem do etanol não é exportação

Para o caso concreto de Moçambique que importa todas as suas necessidades de petróleo, Bellini acredita que a maior vantagem do etanol não é a exportação, mas sim na redução da dependência dos combustíveis fósseis e melhoria da balança comercial. Para melhor elucidar, o interlocutor citou o caso do Brasil, que ainda usa o petróleo mas conseguiu reduzir significativamente a sua dependência.

“O Brasil é um caso interessante, pois quando começou a crise de petróleo em 75 éramos extremamente dependentes do petróleo. Hoje, já somos exportadores de petróleo, pelo facto de termos reduzido o consumo interno. Então isso traz uma melhoria na balança energética e na balança comercial do país”, disse para de seguida rematar, “esse é que é o principal ganho”.

Bellini insurge-se contra potências ocidentais

Bellini aproveitou a ocasião para se insurgir contra as potências ocidentais pelo facto de estarem a pressionar os países em desenvolvimento para reduzir a emissão de gases que contribuem para as mudanças climáticas. “Hoje não existe outra discussão. Porque é que querem que os países em desenvolvimento tenham a mesma redução de dióxido de carbono como os países desenvolvidos?.

Eles e’ que poluíram. Há 20, 30, 40, 50 anos que estão poluindo criando o efeito estufa”, disse Bellini “Porque e’ que agora que os nossos países estão em fase de desenvolvimento nós e’ que temos que pagar por eles?”, questionou.

“Quem tem que reduzir mais são eles e não nós. Nós temos que desenvolver, temos que criar a nossa capacidade produtiva, mas a discussão que se faz é que todo o mundo deve reduzir de uma forma igual. No fundo, tudo isto e’ um jogo de discussão económica”, frisou.

Com mais de sete milhões de hectares plantados, produzindo mais de 480 milhões de toneladas de cana, o Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar do mundo, assumindo a liderança mundial na tecnologia de produção de etanol. Além de matéria-prima para a produção de açúcar e álcool, seus subprodutos e resíduos são utilizados para cogeração de energia eléctrica, fabricação de ração animal e fertilizante para as lavouras.

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