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Bélgica realiza eleições legislativas que podem aprofundar crise

A Bélgica realiza este domingo eleições legislativas antecipadas que poderão aprofundar a crise política que vive o reino, caso seja confirmado o avanço eleitoral dos flamencos radicais, defensores da separação do sul francófono. O governo de coalizão, liderado pelo democrata-cristão flamenco Yves Leterme, apresentou sua renúncia no dia 22 de abril, obrigado pelo decisão de um de seus aliados, os flamencos liberais, que abandonaram a maioria por um novo conflito linguístico com os francófonos.

Depois das últimas eleições de junho de 2009, o reino, de em torno de 10 milhões de habitantes, passa por uma grave crise política, reflexo de como os flamencos do próspero norte e os francófonos do empobrecido sul deram as costas uns aos outros até o ponto de se questionarem sobre o sentido de continuar vivendo juntos.

Nas eleições de domingo, quase tudo dependerá dos votos que a comunidade de Flandres, que representa 60% da população belga, destine aos separatistas flamencos. Segundo uma pesquisa publicada na quinta-feira, o partido separatista Nouvelle Alliance (NVA), liderado por Bart de Wever, deve substituir os democrata-cristãos como primeira força política flamenca, com cerca de 25% dos votos, ou seja, em torno de 23 cadeiras das 150 do Parlamento belga.

Em Valônia, os socialistas venceriam com 34,2% dos votos, informa a mesma pesquisa. Mas o avanço dos radicais flamencos não bastará para provocar a divisão da Bélgica, sua vitória em Flandres acrescentaria outro ganho de espaço, o que os belgas veem como cada vez mais inevitável no médio prazo. Criado em 1831 como um Estado católico tendo o francês como língua oficial, apesar de a maioria de sua população falar flamenco, o reino parecia ter encontrado a receita da convivência que necessitava com a federalização aprovada em 1992.

Mas esta fórmula levou as principais comunidades a se instalarem cada uma em seu lado, com “modos de funcionamento diferentes”, explica Eric Corijn, sociólogo da Universidade Livre Flamenca de Bruxelas, ao justificar a brutal desconexão entre as duas comunidades que dividem o mesmo território. Depois destas eleições, o campo flamenco prevê exigir poderes suplementares para Flandes.

O líder flamenco separatista De Wever está “seguro” de que o reino “desaparecerá pouco a pouco”, conforme as competências forem sendo transferidas às regiões e à União Europeia. “As novas eleições que ocorrerão neste fim de semana dificilmente darão estabilidade política rapidamente”, afirma Rayner Guntermann, analista da Commerzbank.

O jornal francófono Le Soir há meses prevê o pior: “o medo do separatismo paralisa a nação”, publicou recentemente. Em um país sem partidos políticos nacionais, será inevitável a formação de um governo de coalizão que agrupe ambas as comunidades, isto é, uma união paritária de ministros flamencos e francófonos com um programa comum, algo que com toda probabilidade irá requerer diversos meses de batalhas políticas.

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