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Basquetebol: Praticantes divergem sobre a mudança de calendário

Os atletas e treinadores de basquetebol sedeados na cidade Maputo divergem quanto à introdução do novo calendário desportivo em Março de 2014. O adiamento do campeonato nacional, previsto para o mês de Dezembro, figura como a principal razão da discordância.

Estabelecido o formato da nova época do basquetebol moçambicano, cujo arranque está previsto para o mês de Março de 2014, a Liga Moçambicana de Basquetebol (LMB) decidiu adiar a realização da edição 2013 do Campeonato Nacional de Basquetebol sénior masculino marcado para o presente mês de Dezembro na cidade de Maputo.

A referida decisão, tomada em sede da assembleia- -geral daquele organismo, gerou uma onda de insatisfação no seio da família do basquetebol moçambicano, sobretudo entre os jogadores, que entendem que a Federação Moçambicana de Basquetebol (FMB) agiu mal ao ter tornado pública tal medida no meio da presente época. Questionam os basquetebolistas, por exemplo, o que impede a realização do Campeonato Nacional de Basquetebol entre os dias 10 e 22 de Dezembro conforme a previsão. Indo mais longe, perguntam: “Em que medida a entrada em vigor do novo calendário afecta a presente temporada?”.

Ermelindo Novela, base armador do Ferroviário de Maputo e campeão em título da capital do país, é da opinião de que esta mudança de calendário no decurso da presente época prejudica sobremaneira os clubes que se haviam preparado para disputar o ‘Nacional’ neste mês de Dezembro. “Tivemos a competição da cidade, as nossas direcções pagaram salários e estava tudo a postos para o certame. Em Março nenhuma das equipas estará rodada. E duvido até que haja algum certame em Março. Talvez em Setembro”, desabafou.

Por outro lado, o principal ídolo da locomotiva de Maputo entende que Março não é o mês ideal para a realização de uma competição e justifica a sua posição adiantando que a maioria dos atletas não se dedica apenas ao basquetebol. “Somos estudantes e neste período estaremos ocupados com os estudos”, sublinhou Ermelindo. Para o atleta, a Federação Moçambicana de Basquetebol (FMB) é o único organismo que vai tirar proveito do novo calendário desportivo na medida em que terá muito tempo para preparar as selecções nacionais, deixando muitos basquetebolistas de fora, ou seja, os que não forem convocados.

No mesmo diapasão alinha a capitã da equipa feminina da Liga Muçulmana, Valerdina Manhonga, que, apesar de enaltecer a mudança de calendário, não encontra motivos plausíveis para o adiamento do Campeonato Nacional de Basquetebol. “O mundo vive submerso numa crise financeira. Os clubes sentem isso pois, nos últimos dias, têm faltado os patrocínios. E quando ficámos sem competir durante 15 meses, os que garantem os nossos salários ficam desanimados”, lamentou.

Aquela jogadora da selecção alertou, deste modo, para os enormes prejuízos financeiros que este adiamento poderá causar aos cofres dos clubes em virtude de estes terem preparado afincadamente o “Nacional”. Ainda assim, Valerdina acha que “as grandes beneficiárias da introdução da época desportiva serão, sem dúvidas, as selecções nacionais que nos próximos anos não precisarão de ir a Cuba para efectuar os habituais estágios pré-competitivos. Na altura das provas internacionais nós já teremos um alto ritmo competitivo e boa rodagem”.

A poste da selecção nacional, Ana Flávia Azinheira, por sua vez, centra a sua crítica na decisão do adiamento do certame previsto para este ano. Para a jogadora da A Politécnica, 2013 será um ano negro para o basquetebol moçambicano pois não será organizada nenhuma prova de vulto a nível interno. “O novo calendário deveria ser anunciado sem criar prejuízos aos atletas e aos clubes. Temos de olhar para o lado dos que não estiveram no Afrobasket masculino e feminino. Estes jogadores estão com ‘sede’ da bola e vão terminar o ano com a mesma ansiedade de disputar um campeonato”, fundamentou.

Sem criticar profundamente a introdução da nova época desportiva, que para ela trará benefícios para as selecções nacionais tal como defende Valerdina Manhonga, Ana Flávia julga que os clubes terão de ajustar os seus orçamentos para o basquetebol, passando a pagar 15 meses sem competição, ao contrário dos nove habituais com rodagem dos atletas.

“Este modelo devia ser comunicado no arranque de época. Não faz sentido que se marque um Campeonato Nacional de Basquetebol para Dezembro e no mesmo mês se decida pelo adiamento. E tem de estar bem claro que nós temos outras actividades para além do basquetebol”, alertou Ana Flávia, explicando que o novo calendário ignorou muitos aspectos da vida académica e profissional dos praticantes desta modalidade em Moçambique.

“O novo calendário é bem-vindo”

Os treinadores moçambicanos ouvidos pelo @Verdade são peremptórios em afirmar que o basquetebol vai sair a ganhar com a entrada em vigor, a partir de Março próximo, do novo calendário desportivo nacional. O conceituado treinador da Liga Muçulmana, Nazir Salé, centra-se nas provas internacionais e afirma que “é uma mais-valia para os clubes e para as selecções nacionais que vão representar o país além-fronteiras”.

Aquele treinador usa como exemplo o facto de a selecção nacional sénior feminina ter sido obrigada a efectuar estágios no estrangeiro que tinham por objectivo devolver o ritmo competitivo às atletas, o que a partir do próximo ano passará a ser opcional. “Com este novo modelo, todos os atletas vão entrar nessas competições internacionais bastante rodados, o que de certa forma vai permitir que possamos ombrear de igual para igual com os nossos adversários”, frisou.

Nazir Salé vai ainda mais longe ao afirmar que os resultados dessa mudança não serão vistos no presente momento, dando uma resposta directa aos críticos. “A primeira fase será naturalmente de adaptação. A segunda é que será para colher os resultados em que, na minha opinião, as selecções e os clubes nacionais se vão impor a nível internacional”. Ao contrário do seleccionador nacional, o treinador adjunto do Ferroviário de Maputo, Gerson Novela, é da opinião de que esta mudança de calendário foi anunciada tardiamente e que, por sua vez, peca por lesar os clubes que estavam preparados para disputar o Campeonato Nacional de 10 a 22 de Dezembro na capital do país.

Novela entra na “vida” dos clubes para revelar que “há colectividades que contratam jogadores estrangeiros para disputar as provas nacionais. E com esta mudança, as direcções deixam de ser sérias na óptica desses atletas e, quando voltarem a solicitá-los, eles estarão indisponíveis. E quem sai a perder é o basquetebol moçambicano”. Ainda assim, o antigo jogador esclarece que não é contra a introdução do novo modelo de época mas, no seu ponto de vista, “não devia significar o adiamento do campeonato nacional face ao investimento feito pelos clubes”.

O treinador do Núcleo da Bela Rosa, uma colectividade em ascensão na cidade de Maputo e que aposta bastante na formação, Narciso Nhacila, revela-se bastante satisfeito com a chegada da nova época desportiva pois, na sua óptica, “já não teremos o problema de falta de ritmo competitivo nas provas internacionais. Vamos entrar de igual para igual com as outras equipas e não haverá desculpa para os possíveis fracassos”. “Esta mudança veio ajudar o basquetebol moçambicano”, reiterou. Contudo, Nhacila junta-se às vozes dos que condenam o anúncio tardio da introdução da nova época e que originou o adiamento do Campeonato Nacional de Basquetebol.

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