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Basquetebol: atletas justificam má prestação no “Afrobasket” a negligencias da Federação

Após a inglória 11ª posição da nossa selecção masculina no “Afrobasket” de Abidjan os protagonista justificaram, nesta segunda-feira (9) em Conferência de imprensa, em Maputo, a fraca prestação com uma preparação improvisada, problemas de logística e ausência de apoio do Presidente da Federação que “não viu nem um jogo de Moçambique”. Os atletas refutam acusação de conduta imprópria e denunciam alegada chantagem de Francisco Mabjaia na hora de pagar os “per diems”.

A presença de Moçambique no “Afrobasket” de Abidjan não foi, de todo, saudável. Aliás, segundo explicaram os jogadores em conferência de imprensa realizada na última segunda-feira (09 de Setembro) em Maputo, o resultado obtido espelha as condições a que estiveram sujeitos, desde a fase de preparação até aos gravíssimos problemas de logística em que a federação, mais uma vez, revelou a marginalização a que está condenada a selecção nacional sénior masculina de basquetebol.

O que não se esperava, para todos efeitos, era que ao insucesso da selecção nacional pudesse se associar, também, um órgão de informação público que, ao que deram a entender os atletas, se infiltrou no grupo de trabalho, já em Abidjan, para desestabilizar, agravando as relações entre a Federação Moçambicana de Basquetebol (FMB) e a equipa técnica.

Uma preparação que não obedeceu ao que foi inicialmente traçado Segundo revelaram os atletas na conferência de imprensa conjunta, como sempre coube à FMB criar as condições para uma preparação condigna da selecção, com vista a participar neste “Afrobasket” de Abidjan. Contudo, o itinerário de estágios não obedeceu às exigências da equipa técnica, o que se tornou numa decisão unilateral e de gabinete de Francisco Mabjaia, o presidente da federação.

“Houve um programa de preparação traçado pelo treinador e entregue à direcção da federação. Mas coube àquele organismo que gere a nossa selecção decidir aquilo que achava melhor para nós. A verdade é que fomos ao estágio da Suazilândia contra o plano da equipa técnica” revelou Custódio Muchate, um dos capitães da selecção nacional, fundamentando que “queríamos ir a um sítio e o que apresentámos não foi aceite pela FMB. A nossa preparação foi deficiente e foi de certa forma ‘ad-hoc’. Até porque nos primórdios da mesma nem todos os jogadores estiveram presentes. Ir a Suazilândia foi uma solução improvisada”.

Muchate referenciou que era pretensão do treinador, Milagre Macome, cumprir um estágio de longa duração em Portugal e na Espanha, não estando no seu pensamento ir a Suazilândia. “Queríamos ir a Turquia também. Mas calhou num período em que decorria o Campeonato Mundial de Basquetebol” sustentou.

Recordado pelos jornalistas presentes sobre o projecto que havia sido apresentado pela federação e com a devida antecedência, prevendo um período de preparação na província de Manica, Muchate respondeu que “estava previsto, sim, ir a Manica. Mas a tensão política na região centro do país não nos deu possibilidades. Tínhamos de viajar de autocarro e acho que não fica bem uma selecção nacional passar por estes riscos”.

Segundo afirmaram os jogadores, mesmo depois de se ter ido à Suazilândia, Egipto seria a próxima etapa da preparação de Moçambique, não tendo sido possível devido a razões que só a federação conhece, o que obrigou a selecção a ter de permanecer em Moçambique sem treinar, antes de rumar a Espanha.

“Atrasámos o voo por falta de sapatilhas”

Terminado o estágio na Espanha, a selecção nacional tinha de se deslocar a Portugal, como via de encontrar um voo para Abidjan, ainda que com escala em Marrocos. Contudo, mesmo estando em Lisboa, a selecção nacional perdeu o avião, factor que fez com que a federação desembolsasse outros valores monetários para garantir a ida de Moçambique em Abidjan.

Como explicação, os jogadores revelaram que não tendo conseguido comprar sapatilhas na Espanha, visto que as que levavam de Maputo estavam danificadas, decidiram adquirir aquele material no próprio dia de embarque para Abidjan naquele país lusófono. Foram a uma estância comercial na companhia de um dirigente federativo, a 40 quilómetros do local em que estiveram hospedados e a 20 do aeroporto.

Contudo, quando se aperceberam que se aproximava a hora marcada para o embarque, decidiram regressar ao hotel para levar os restantes membros da comitiva moçambicana que por lá haviam ficado, o que lhes custou a perda do voo.

“O basquetebol masculino é negligenciado” “Tudo o que aconteceu só prova que o basquetebol masculino em Moçambique está sendo negligenciado” disse Muchate, ao defender que se houvesse trabalho, investimento e respeito por parte dos dirigentes federativos, esta modalidade desportiva a nível dos seniores masculinos podia ir mais longe a médio e longo prazo.

Nostálgico, Muchate recordou os décimos Jogos Africanos de Maputo, em 2011, que na sua óptica tiveram uma preparação de grande nível, o que valeu a conquista da segunda posição por Moçambique. “Infelizmente estamos a regredir, olhando para o que aconteceu naquele ano” sentenciou.

Nós não fomos bêbados aos jogos: merecemos o respeito”

Octávio Magoliço, outro atleta da selecção nacional, não deixou de mostrar a sua total indignação com as acusações proferidas pelo presidente da Federação Moçambicana de Basquetebol, Francisco Mabjaia, na Televisão de Moçambique.

“Nós não entendemos como e onde é que as pessoas tiraram essa questão do consumo de álcool. Penso que devia haver respeito pelos jogadores até porque, antes de sermos atletas de uma selecção nacional, somos indivíduos com famílias. Não fica bem esse tipo de informações falsas surgirem em público” disse Magoliço.

Ainda sobre o suposto consumo de álcool por parte dos atletas antes dos jogos, usado como desculpa para o desaire de Moçambique na prova de Abidjan, Custódio Muchate rebateu: “nós não bebemos álcool. Cada um de nós enverga a camisola da selecção nacional com muito respeito. Ademais, somos maiores de idade e responsáveis. Nós viajámos e estivemos em Abidjan para representar o país e estávamos cientes dos nossos objectivos”.

Outra voz de protesto que se juntou a Octávio Magoliço e Custódio Muchate foi a de Samora Mucavel, que para ele “é muito triste as pessoas dizerem, de ânimo leve, que nós consumimos álcool antes dos jogos. Nós não fomos ao ‘Afrobasket’ para beber e/ou para nos divertir. Fomos para competir”.

“O presidente da federação não viu nem um jogo de Moçambique”

O presidente da Federação Moçambicana de Basquetebol, Francisco Mabjaia, logo após o certame de Abidjan, foi à Televisão de Moçambique a convite daquele órgão público de informação fazer o balanço da participação da selecção nacional naquele “Afrobasket”.

Contudo, os atletas não encontram razões para a iniciativa daquela estação televisiva, visto que o dirigente não viu nenhum jogo da equipa de Milagre Macome.

Ademais, os basquetebolistas estranham o facto de Mabjaia não ter acompanhado o conjunto até Abidjan.

“Qual é o pai que não é importante numa casa? O que sabemos é que o presidente da federação não viu nenhum jogo da nossa equipa. Lembro-me que durante a viagem para a Costa do Marfim, já em Marrocos, calhámos no mesmo voo com a selecção angolana devidamente acompanhada pelo respectivo presidente. Quando chegamos a Abidjan, nos foram cobrados cartões de ‘febre-amarela’ que nós não possuíamos. Foi necessária a intervenção do presidente da Federação Angolana de Basquetebol que pediu a compreensão às autoridades de Abidjan para que nós prosseguíssemos” revelou Magoliço.

“Um jornalista intrometeu-se em assuntos da selecção e fomos penalizados”

É um facto que a selecção nacional de basquetebol não recebeu os ordenados prometidos pela federação durante a prova. Segundo soube o @Verdade, o “diário” dos jogadores estava fixando em 50 dólares norte-americanos, cerca de 1500 meticais.

Contudo, volvidos os 15 dias, a equipa técnica não viu nem um “centavo”. Não houve também explicação pelo cenário, o que terá gerado um mal-estar no seio conjunto. E não obstante, à última hora, os atletas souberam que teriam o valor em Maputo, mas com uma penalização de 10 dólares por dia a cada membro da delegação moçambicana.

Ou seja, cada um dos atletas, dos treinadores e outros membros da comitiva teriam um desconto de 150 dólares. Tudo por causa de um artigo jornalístico assinado pelo escriba Narciso Nhacila, do jornal desportivo Desafio, que fez menção, de entre muitos assuntos inerentes à selecção, a falta de pagamento de honorários e da inexistência de um equipamento alternativo branco de Moçambique.

“Não recebemos o valor na totalidade. Sofremos um corte de 150 dólares por pessoa, como penalização por um artigo jornalístico publicado no jornal Desafio, escrito pelo seu sub-chefe de redacção, Nhacila” afirmou Muchate, acrescentando que “por meia verdade que seja, somente no que diz respeito à falta de pagamento do ‘pocket-money’, essas informações não foram dadas ao jornalista por nenhum dos jogadores.

A federação assim não entendeu, e por via disso, decidiu descontar toda a equipa”. “Nós podemos ter de volta o nosso dinheiro se o Nhacila revelar quem foi o indivíduo que lhe facultou essas informações. E desde já, em nome dos atletas, quero apresentar o nosso distanciamento com tudo aquilo que foi escrito naquele artigo” desabafou Muchate, vingando a ideia de que o jornalismo moçambicano também prejudicou, sobremaneira, a prestação da selecção nacional no Afrobasket.

“Apesar de tudo, vamos continuar a representar o país” “Nós representamos a selecção nacional e não a pessoas da federação. Estamos aqui pelo país e não por pessoas. Estaremos sempre disponíveis para vestir as cores da bandeira nacional” manifestou Samora Mucavele.

“Há muito trabalho por se fazer. Mas entendo que é preciso, para o efeito, se apostar no basquetebol masculino. Estamos a morrer, é um facto. Se tivéssemos uma preparação podíamos ter feito muito mais” defendeu Custódio Muachate.

“Os jogadores são unidos. Neste ano a preparação não foi boa, por ter havido problemas na sua gestão. Há jogadores que foram ao Afrobasket sem rodagem, sendo que outros fizeram um a dois jogos” concluiu Octávio Magoliço.

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