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Toma que te Dou: Artur Semedo quer que o sol nasça mais depressa

– Joaquim João, estás na “Terra da Boa Gente” a treinar o Ferroviário local. Qual é a avaliação que fazes do desempenho da tua equipa e do futebol que se pratica em toda a província de Inhambane?

– O nosso problema é ter medo de dizer as coisas da forma como elas são, é por isso que o nosso futebol não anda, ou seja, está a andar para trás. E não te espantes se te disser que o nosso desporto-rei está cheio de caranguejos, que estão permanentemente a puxar para baixo aqueles que querem progredir.

Eu não sei que resposta é que queres de mim! Se o próprio futebol do nosso país inteiro, personificado na selecção nacional não tem cheiro, ou melhor, cheira mal, como é que queres que o futebol desta zona tenha um bom nível? O futebol aqui é uma desgraça absoluta, assim como é uma tragédia o nosso futebol inteiro, que não tem eira nem beira.

– E como é que continuas aqui, sabendo que o teu trabalho está condenado, logo à partida, à inglória?

– Querias que eu fosse para onde? Todos aqueles que saíram daqui voltaram. A minha terra é Moçambique e daqui não quero sair. Estou em Inhambane por uma questão de patriotismo, por uma questão de amor por aquilo que eu sempre gostei de fazer. Vou continuar nesta senda mesmo sabendo que nunca vou colher nada.

– Mas já colheste, com pernas de ouro, muitos louros na tua vida futebolística!

– É verdade! Esse era o tempo em que todos nós tínhamos vontade de vencer e vencíamos as batalhas. E como deves saber, a maior força motriz, mais do que o vapor e a electricidade, segundo Albert Einstein, é a vontade. Hoje, o que me parece é que ninguém tem vontade de fazer seja o que for. É por isso que continuamos pobres, sobretudo de espírito.

– Na tua opinião, porque é que as pessoas não têm vontade?

– Porque não são valorizadas. Naquele tempo nós éramos acarinhados, amados, adulados. Sentíamo-nos bem com isso. E hoje já não acontece esse gesto. Passa por exemplo por um lugar um jogador como Dário Monteiro ou Dominguez, e ninguém se mexe.

Naquele tempo não, passava um Joaquim João, um Chinguia, um Chico João, um Ângelo Jerónimo, um Dover, um Zé Luís, um Nuro Americano, um Gil Guiamba e tantos outros pertencentes à grande legião de jogadores de ouro que terminou com Chiquinho Conde, e as pessoas levantavam-se e pronunciavam os nossos nomes. Sentíamo-nos extremamente valorizados.

Os jogadores que hoje temos não têm nome, é como os ministros, a maior parte deles não tem nome. Estamos a viver uma grande estiagem de espírito.

– Parece-me que o próprio Artur Semedo não está a ser tomado em conta, nem pelos jogadores, muito menos pelos dirigentes!

– Artur Semedo é um treinador moderno. É daqueles homens que ficam excitados quando demora a amanhecer. Ele quer que o sol nasça mais depressa para ir à guerra. A vida de Semedo é o futebol, ele já demonstrou em várias ocasiões que é um batalhador, é guerreiro e, como todos os verdadeiros guerreiros, diz as coisas de frente, e os medíocres não gostam de ouvir as palavras cruas, reais.

O nosso futebol, infelizmente, está cheio de medíocres, de inúteis, de insignificantes, e que nem deviam estar no nosso seio, incluindo muitos dirigentes que pululam na arena futebolística como mabecos, e cumprem muito bem o seu papel de arautos do diabo.

* Joaquim João, ex-jogador da selecção nacional de Moçambique

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