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Arbitragem: Persistem os problemas em Nampula

A Comissão Provincial de Árbitros de Futebol (COPAF), a nível da província de Nampula, entrou na presente época desportiva com um novo elenco, constituído maioritariamente por antigos árbitros de futebol. Aliás, os novos timoneiros da arbitragem em Nampula que, como se diz nos “corredores” desportivos, assumiram o comando desta agremiação por forte imposição dos associados após a saída de Alfredo Chirindza e Asselam Kham no passado mês de Outubro, assumem que têm pela frente uma responsabilidade muita dura.

É em torno deste assunto que nesta semana o @Verdade conversou com André Janna, recém-empossado presidente desta agremiação que, durante a entrevista, deu a conhecer as razões de fundo que fazem com que esta região do país tenha muitos problemas relacionados com os juízes, que muitas vezes culminam em actos de violência e de puro vandalismo.

@Verdade – Qual é o estágio actual da arbitragem em Nampula?

Andre Janna – A arbitragem a nível da nossa província não está tal como se previa que fosse. Ou seja, ela não está bem e continuam os mesmos problemas que forçaram a renúncia do elenco anterior.

@V – Significa então que esses problemas são crónicos?

AJ – Crónicos não diria. Todavia é preciso ressalvar que os problemas não se resolvem colocando o cargo à disposição. Quando há problemas não se pode fugir e muito menos distanciarmo- nos deles; devemos, sim, procurar soluções, razão pela qual aceitei a presidência da COPAF.

@V – E quais são esses problemas que afectam a arbitragem em Nampula?

AJ – Há que destacar, em primeiro lugar, que em Nampula há falta de cultura desportiva por parte dos adeptos de algumas equipas, sobretudo as que se encontram localizadas nos distritos costeiros. Para este grupo, em qualquer falha no jogo, mesmo tratando-se de omissões técnicas, as culpas recaem imediatamente sobre os árbitros, que são acusados de ser subornados por uma determinada equipa.

É por este motivo que assistimos, no ano passado, à invasão constante dos campos por parte do público e o cometimento de actos de puro vandalismo contra os árbitros. Por outro lado, na minha óptica, persiste a deficiência no funcionamento da máquina da justiça, pois é ela que devia punir de forma exemplar os infractores de modo a desencorajar esses actos. Em terceiro, temos o fraco policiamento e protecção dos nossos árbitros, devido ao reduzido efectivo policial que se faz aos campos de futebol.

@V – Qual é o procedimento que se segue para as deslocações dos árbitros em Nampula?

AJ – Este é um outro calcanhar de Aquiles que nos deixa sem sono. Infelizmente, o nosso organismo não tem orçamento próprio. Diria, até, que a nossa associação é um caso excepcional a nível do país. Procurámos, no máximo, escalar os árbitros nos jogos perto das suas zonas residenciais mas, como isto não é possível, toda a logística da arbitragem é suportada pela equipa da casa ou a que recebe o jogo, cujos pagamentos são dependentes das receitas de jogo.

@V – Todos os clubes conseguem arcar com essas despesas?

AJ – Existem clubes que não reúnem o mínimo de condições para que possam alojar os árbitros em pensões e hotéis, daí eles serem obrigados, em último caso, a ficarem em casa de familiares, ou deles, ou dos dirigentes dos clubes, para além de tomarem refeições nas residências dos sócios.

@V – Isto não atropela a verdade desportiva?

AJ – Pode. Mas os árbitros são suficientemente profissionais para não se deixarem levar por este cenário que nos envergonha.

@V – E não será isto que faz com que os adeptos duvidem dos árbitros em Nampula?

AJ – Obviamente, porque eles desconhecem este cenário, e interpretam-no mal, como se de uma situação de suborno se tratasse. É preciso acreditar no profissionalismo da nossa arbitragem. Queria também falar das precárias condições em que os árbitros viajam aos distritos, como, por exemplo, aos de Moma e Angoche, onde os meios de transportes vulgo “chapa cem” são raros, obrigando a que os árbitros viajem “pendurados” em camiões.

@V – Há alguma solução à vista?

AJ – Eu reconheço que o país seja pobre e carente a vários níveis. Mas também penso que se nós quisermos melhorar o nosso desporto a nível da província de Nampula, temos também de melhorar as condições dos árbitros. Numa outra vertente, de modo a acabar com algumas suspeições, avançámos com uma proposta aos clubes para que, aquele que acolher um determinado jogo proceda, dias antes, com um depósito para as despesas inerentes à logística dos árbitros.

Nós, como direcção, apenas íamos dar o devido destino aos fundos. Firmámos, também, um acordo de cooperação com a Associação Provincial de Futebol, que passará a alocar um fundo anual de 20 mil meticais para custear as nossas despesas, o que já é muito bom, sendo a primeira vez na história que isto acontece.

@V – Sobre a iniciativa de os clubes passarem a depositar a taxa de arbitragem nas contas da COPAFG, qual foi a resposta obtida?

AJ – A iniciativa não foi acatada, ou seja, nada mudou. A nossa sorte é que neste ano ainda não registámos queixas dos adeptos, por este cenário de os árbitros andarem a reboque dos clubes.

@V – Quanto ganha um árbitro por um jogo?

AJ – Não posso revelar. Mas, por exemplo, por cada jogo, um árbitro recebe um valor estimado em 300 meticais para custear a deslocação, enquanto a equipa anfitriã é responsável pela alimentação e o alojamento.

@V – A província de Nampula tem quantos árbitros?

AJ – Se até ao ano passado nós tínhamos um défice enorme no que diz respeito ao número, em que de um total de 45 árbitros necessários estavam inscritos apenas 30, dos quais 20 eram principais e 10 assistentes, neste ano conseguimos superar a marca, tendo um total de 50 árbitros, dos quais sete são de nível nacional e uma assistente que foi promovida à categoria internacional.

@V – A COPAF tem escritórios próprios?

AJ – Este é um outro problema. Infelizmente, a COPAF não dispõe de escritórios próprios e trabalha a reboque da Associação Provincial de Futebol de Nampula. Foram eles que nos cederam o pequeno escritório no qual só cabem os nossos papéis.

@V – E como é que adquirem o material desportivo?

AJ – Debatemo-nos, ainda, com o valor elevado do equipamento desportivo que chega a custar cerca de 2000 meticais. É muito para nós. Mas, graças ao apoio de algumas individualidades e do próprio sector privado, temos, a passo de camaleão, conseguido adquirir o material.

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