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Autárquicas 2013: Monapo, um município num mar de incertezas

Localizada num distrito rico em recursos hídricos e florestais, a vila municipal de Monapo é um dos exemplos acabados da falta de vontade política. Há vários anos, grande parte dos munícipes debate-se ainda com problemas de diversa natureza sem fim à vista, desde a falta de emprego e água potável, passando pelos precários serviços básicos de saúde até ao fornecimento deficitário de energia eléctrica. Porém, acredita-se que a situação possa vir a mudar para melhor, até porque estes são apenas os primeiros anos de municipalização de Monapo.

Geralmente, a época chuvosa representa um momento de satisfação para a maioria da população de Monapo que se dedica exclusivamente à produção agrícola. As chuvas que caíram no princípio deste ano (2013) em quase todo o distrito deixaram os moradores, maioritariamente produtores de culturas alimentares e de rendimento, animados, uma vez que a previsão era de boa colheita nos próximos dias. Porém, para Amisse Mataganha, a precipitação que se fez sentir no mês de Fevereiro provocou dolorosas marcas na sua vida.

Mataganha, de 52 anos de idade, viu a sua pequena habitação de construção precária desabar e a machamba inundada devido às chuvas, deixando-o e à sua família à beira do desespero. O que já era difícil para o agricultor piorou drasticamente nos últimos meses. Com um agregado familiar constituído por 10 pessoas por sustentar, passou a viver na insegurança alimentar, na incerteza do que há-de comer no dia seguinte. A horta, na qual produzia amendoim e mandioca, era o único meio de sobrevivência. “A chuva tirou-me tudo o que tinha, a casa e o meu sustento”, desabafa.

Presentemente, Amisse, a sua esposa e os seus oitos filhos vivem num sofrimento difícil de calcular no bairro de Naherenque, na zona de Monapo-rio, no município de Monapo. Eles moram numa cabana construída de capim. A casa, diga-se de passagem, só ganha essa designação por se tratar de um local onde se escondem do olhar alheio. No interior da habitação, as condições são débeis, porém, o drama é não ter o que comer no almoço e no jantar.

Amisse e a sua família sobrevivem à base do que conseguem obter, de vez em quando, na pequena machamba que se encontra no quintal da sua casa. Ele não sabe quando a situação vai mudar, até porque, até agora, não teve nenhuma ajuda para recomeçar a sua vida. O único apoio que recebeu, depois da desgraça que se abateu sobre si foram 25 metros de oleado para a cobertura da sua modesta habitação. O amparo, que não provocou efeitos significativos, veio da parte da edilidade local.

À semelhança de Amisse, centenas de munícipes vivem num mar de incertezas na vila municipal de Monapo, na província de Nampula. Com uma população estimada em 129.149 habitantes, a maior parte dela (cerca de dois terços) dedica-se à actividade agrícola, até porque o solo (o município tem uma área de 223 km²) oferece condições para a prática de agricultura.

Também se verifica a aposta noutras actividades, como é o caso do comércio informal. Porém, actualmente Monapo é apenas uma autarquia abandonada à sua própria sorte que se debate com dificuldades a todos os níveis. A população queixa-se de falta de transporte, água potável, acesso à saúde, energia eléctrica, dificuldades na comercialização dos produtos agrícolas e degradação das vias de acesso.

Fome e agricultura

A actividade predominante no município é a agricultura de subsistência. Dentre as culturas, destacam-se o milho, a mandioca, a castanha de caju, a mapira e o feijão, cujos níveis de produção tendem a apresentar-se promissores. Ao contrário do milho e da castanha de caju que têm vindo a sofrer uma queda substancial, sobretudo devido ao abandono de alguns produtores, a mapira, o feijão e a mandioca constituem uma das principais culturas de rendimento. Diga-se, em abono da verdade, que a falta de mercado continua a ser a principal dor de cabeça dos agricultores. Aliadas a essa situação, estão as precárias condições em que se encontram as estradas.

Apesar das potencialidades que a vila de Monapo apresenta, já começam a registar-se algumas bolsas de fome. Nos bairros periféricos, dezenas de familiares somente com um golpe de sorte poderão sobreviver à privação de alimentos, que começa a castigar os moradores que presentemente procuram alternativas para ganhar o sustento diário no comércio informal.

Falta de água e emprego

O acesso ao precioso líquido ainda é um problema sério, apesar de a população já não percorrer longas distâncias. Segundo as autoridades municipais, actualmente a cobertura quanto ao fornecimento de água potável ronda nos 55 porcento. Foi aberto um furo com um sistema de pequeno porte para o abastecimento de água aos bairros de Topelane, 28 de Setembro e Muaria. O município conta com poucos fontenários, razão pela qual é comum ver dezenas de pessoas com recipiente nas mãos à procura de água para o consumo.

Apesar de a cada ano haver melhorias no fornecimento de água, todos os dias, sobretudo durante as manhãs e no fim da tarde, a imagem continua a mesma. Nas ruas da autarquia é possível ver homens, mulheres e crianças a circularem com diversos recipientes à procura de água potável.

É, na verdade, um martírio que perdura há vários anos. Mas, de acordo com a edilidade, o cenário tem vindo a mudar de forma paulatina. Antigamente, a situação era caótica. Quase diariamente havia relatos de ataques de crocodilos aos munícipes que se faziam ao rio Monapo em busca do precioso líquido.

Ao nível do distrito, verifica-se que na sua maioria a população é abastecida por furos e poços artesianos e cerca de 18 porcento recorrem aos rios e lagos. No entanto, ao contrário de água potável cujo acesso tem vindo a aumentar, o mesmo não pode se dizer relativamente à oportunidades de emprego. Os munícipes, principalmente os jovens, continuam a desesperar.

Américo Chunze, de 28 anos de idade, afirma que, apesar de Monapo ser a vila sede do distrito com o mesmo nome e dispor de condições favoráveis para o crescimento económico local, não lhe é dada a devida atenção. “Temos fábricas que poderiam empregar muita gente, mas encontram-se quase todas paralisadas. Não há investimentos, que poderiam permitir desenvolver mais o município, uma vez que tem condições para isso”, diz e acrescenta que as autoridades locais não estão preocupadas em proporcionar boa qualidade de vida à comunidade, razão pela qual o índice de desemprego tende a subir.

Para fazer face à situação, as autoridades locais fazem apologia ao empreendedorismo, incentivando os jovens a apostarem no associativismo de modo a beneficiarem do famoso Fundo de Iniciativas Locais, vulgarmente conhecido por “sete milhões”.

Rede eléctrica, lixo e estradas

A expansão da rede eléctrica no município de Monapo ainda acontece de forma tímida. Quase metade dos munícipes não tem electricidade nas suas respectivas casas. Os que dispõem dela, esta não chega nas condições desejáveis. No entanto, têm sido levadas a cabo actividades de renovação da linha ou a substituição dos cabos eléctricos de modo que a energia abranja a todos.

De forma gradual, assiste-se à expansão da rede eléctrica para diversas zonas rurais da área municipal de Monapo, como é o caso de Napacala. “A qualidade de energia eléctrica ainda não é das melhores, mas acreditamos que, num futuro próximo, os munícipes passarão a ter corrente de boa qualidade, além de uma cobertura mais abrangente”, afirma João Luís, presidente de Conselho Municipal da vila de Monapo.

O saneamento do meio também preocupa a edilidade e os munícipes de Monapo. O lixo, principalmente resultante do comércio informal, tem vindo a tomar de assalto a autarquia, pondo a olho nu a ineficiência das autoridades municipais locais. Embora o município conte com um carro basculante e um tractor, o processo de recolha de resíduos sólidos ainda é problemático.

A construção desordenada de habitações também é uma das preocupações. Apesar de a edilidade dispor de um projecto de estrutura urbana, nota- -se que ainda não existe um plano de ordenamento eficaz dos bairros, razão pela qual se assiste a um índice crescente de construção anárquica de moradias.

Algumas vias de acesso ainda não foram asfaltadas, e outras continuam esburacadas e de terra batida. Criminalidade No município Monapo vive a maior parte da população do distrito, porém, a questão da criminalidade é quase inexistente. Os casos mais comuns nas comunidades estão relacionados com a violência doméstica, furtos e agressão física.

Transporte público e acesso à saúde

O transporte público ainda é insignificante em Monapo. A título de exemplo, os munícipes que se queiram deslocar de/para Monapo-rio têm de esperar os chapas que fazem a ligação entre a Ilha de Moçambique e o Monapo. E nem sempre tem havido carros. Como alternativa, os moradores recorrem às moto-taxis. O único autocarro de que o município dispõe garante o transporte de estudantes da vila para a zona de Carapira, que dista oito quilómetros, e vice-versa.

O acesso à saúde ainda é uma preocupação, apesar de o distrito contar com 12 unidades sanitárias. Presentemente, o desafio é melhorar o atendimento e aumentar o serviço, de modo a incrementar o acesso da população aos serviços básicos de saúde, que neste momento se configura insuficiente. A malária e as doenças diarreicas têm sido as principais causas de internamento.

Breve historial do distrito de Monapo

O distrito de Monapo foi buscar o nome a um dos rios que o atravessa. Devido ao tamanho do seu caudal, nos tempos idos atraiu diversas companhias agrícolas e industriais. Porém, actualmente, a situação mudou, ou seja, grande parte dos projectos implantados deixou de existir. Os primeiros habitantes da sede foram as populações de Nareva, Mossuril e contratados oriundos de outros país e colónias portuguesas para trabalhar nas companhias que se dedicavam à produção de sisal.

A primeira administração foi construída em Malutine, e as primeiras escolas erguidas em Monapo-sede atendiam apenas os filhos de assimilados e trabalhadores da Companhia de Caju. Os proprietários dos primeiros estabelecimentos comerciais eram de nacionalidade indiana. Em 1914 foi construída a linha férrea para Lumbo e, no posto administrativo de Itoculo, os portugueses, na sua maioria atraídos pelas condições favoráveis do solo, construíram a primeira pista de aterragem de avionetas.

Monapo em números

População: 129.149 habitantes

Acesso a água potável: 55 porcento

Água canalizada: 24 porcento

Electricidade: 12 porcento

Escolas: 16

Unidades sanitárias: 12

Gado bovino: + 337

Receita anual: 34 milhões de meticais

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