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Animais na Bolada

Nos últimos tempos, temse verificado, em Maputo e na Matola, um aumento quase exponencial na população de cães, fruto de criações, aliás, comércios de fundo de quintal, que não respeitam as regras básicas da fisiologia, genética, nutrição e reprodução animal.

Factores, como a história médica do animal, higiene e condições do ambiente, consanguinidade, idade da mãe, alimentação, etc, são ignorados, resultando em ninhadas pouco homogéneas, com pouca tipicidade da raça e com saúde débil.

As redes sociais da internet contribuiram para o desenvolvimento deste tipo de comércio e, possivelmente, foram o ponto de partida, para a geração de um mundo de negócios ilícitos, baseados na exploração de animais de companhia, unindo grupos de pessoas em pequenas organizações. Nestas, gera-se o seguinte ciclo vicioso de exploração de cães:

1. Criação/reprodução em fundos de quintal?

2. Venda irresponsável de animais, ainda em fase de amamentação, sem cuidados veterinários?

3. Divulgação e prática de procedimentos médicocirúrgicos (ex: amputação do pavilhão auricular [corte de orelha] e caudectomias [corte de cauda] sem qualquer técnica cirúrgica, e, ainda por cima, sem qualquer tipo de anestesia, com grande sofrimento dos animais, administração de esteróides anabolizantes, etc) executados por “pseudoveterinários”, sem qualquer formação?

4. Importação, venda e compra particular de produtos farmacêuticos veterinários?

5. Treinos de agressividade?

6. Organização de lutas de cães e apostas?

7. Cuidados “pseudoveterinários especializados” em tratamentos pós lutas.

A página de Facebook “Animais na Bolada”, é apenas um dos exemplos disponíveis online, onde alguns grupos promovem qualquer um destes negócios. Animais de raça Pit Bull têm sido dos principais alvos destes grupos sedentos de dinheiro, vestidos de ganância e despidos de ética e de respeito pelos animais.

O seu conceito de superioridade, enquanto humanos, relativamente a outras espécies, está enraizado, levandoos a crer que têm direitos sobre os animais. Denotase ao mesmo tempo, um sentimento de amor pelos animais, deturpado e insano. Onde, se criam animais de estimação como membros de família, fazendoos parte do diaadia das suas vidas e dos seus filhos? partilhando com eles momentos de lazer, como brincadeiras no jardim, em casa, passeios na rua e na praia? partilhando álbuns de fotografias suas e destes momentos com amigos e em redes sociais, para, de um momento para o outro, transformarem os seus fiéis amigos e companheiros em autênticas máquinas mortíferas, com o objectivo de fazer dinheiro fácil e de angariação de status social!

De mascote das crianças, estes animais passam a ser objectos da ambição humana e são, então, submetidos a actos cruéis e dolorosos, como a amputação do pavilhão auricular, alteração dos dentes caninos e lutas fatais em arenas.

A saúde psíquica dos animais que sobrevivem é então afectada, o seu comportamento, confiança e auto-estima são alterados. Este é, possivelmente, o ponto de partida, a origem e o motivo de muitos dos acidentes que ocorrem, posteriormente com estes animais. Aqui está, em parte, a origem dos ataques súbitos a pessoas do círculo de convivência destes animais.

Mas, é importante avaliar também o impacto destas vivências nos filhos destes “criadores”, que têm por estes animais, um sentimento de carinho e adoração. Que exemplos se transmitem a estas crianças? Que sentimentos se geram nelas ao ver os seus animais voltar para casa ensanguentados e cheios de cicatrizes? Qual será o reflexo destas imagens na sua formação intrínseca?

A base da resolução destes problemas, que são, na realidade, bem mais preocupantes do que possam parecer, está na elaboração de leis e sua implementação? no controlo fiscal do comércio de animais e de medicamentos e na punição daqueles que exercem este tipo de actividade sem que para tal estejam habilitados.

O Estatuto da Ordem dos Médicos Veterinários de Moçambique (Lei no 13/2011, Boletim da República, I Série, de 21 de Julho de 2011), determina explicitamente, que só um Médico Veterinário, registado na Ordem, é que está autorizado a executar qualquer um destes actos veterinários: qualquer intervenção cirúrgica, a prescrição de medicamentos, incluindo a venda ou dispensa de medicamentos veterinários e biológicos.

Apesar de existirem muitas prioridades no nosso país, é mais que altura do Conselho Municipal, pôr um fim ao comércio de animais nas ruas (a lei já foi publicada) e às lutas de animais? há que pôr fim também à venda de medicamentos veterinários a particulares e há que identificar e punir os que exercem a profissão veterinária sem que, para tal, tenham tido formação veterinária, pondo em risco a saúde animal e criando uma concorrência desleal à classe veterinária.

Enquanto estas medidas não forem tomadas, estamos de mãos atadas e os direitos dos animais estão presos por uma corrente num fundo de um quintal qualquer…

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