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Algas: combustível, alimento e plástico do futuro

Enquanto os combustíveis tradicionais projectam cada vez mais consequências indesejáveis, as algas, essa sujeira dos reservatórios, oferecem uma alternativa simples, de curto prazo e com muito pouco dos custos escondidos de fontes de energia mais complexas. A primeira e mais simples forma de vida, as algas prometem converter-se num recurso fundamental para o futuro do planeta como base de um biodiesel de grande qualidade que – ao contrário do milho – não desvia alimentos do homem.

E não são apenas combustíveis. São alimento animal e humano – pensemos na proteica e vitamínica spirulina – e o componente essencial de uma ampla gama de plásticos biodegradáveis para substituir os produzidos a partir do petróleo. As algas fazem tudo isso enquanto crescem absorvendo prodigiosas quantidades de dióxido de carbono, o gás-estufa que mais precisamos de reduzir na atmosfera para conter a mudança climática.

Neste momento não são uma prioridade na pesquisa e no desenvolvimento dos países nem das grandes empresas, mas estão a ganhar força no sector privado e académico, na medida em que se revela o seu potencial.

Já há gigantes da energia a pesquisar sobre elas como subprodutos do desenvolvimento do chamado “carvão limpo”, já que absorvem o dióxido de carbono gerado pela queima desse mineral. E o carvão não é mais do que algas de 500 milhões de anos de idade.

Então, porque não deixar de procurar o carvão escavando montanhas e dedicar-se, por outro lado, a cultivar algas de rápido crescimento e grande absorção de dióxido de carbono? Não é um sonho distante. Um factor que coloca as algas acima de quase todas as opções energéticas, convencionais ou alternativas, é a sua simplicidade, omnipresença e disponibilidade. Os pesquisadores afirmam que, embora existam obstáculos técnicos para uma produção em grande escala de baixo custo em vários dos seus usos, nenhum parece intransponível.

Graças à sua capacidade de rápido crescimento, as algas em cultivo não exigem controlo rígido. O seu florescimento é natural, e pode ser induzido com a contaminação química e agrícola.

A eutrofização asfixia rios e riachos e afecta a vida aquática e marinha, pois bloqueia o fluxo de oxigénio, um processo conhecido como hipoxia. É um problema grave, que deve ser considerado nos cultivos de algas em espaço aberto, em lugar de ambientes controlados como os biodigestores, onde se produz biodiesel.

Ao contrário de uma reacção nuclear em cadeia, mesmo se a proliferação de algas se tornar excessiva, as suas consequências não se aproximariam sequer da gravidade de uma fusão atómica.

Numa visita ao ENN Group, firma chinesa de energia que fica a uma hora de carro de Pequim, o autor deste artigo percorreu um laboratório onde os cientistas desenvolvem microalgas para uma variedade de usos, como parte de um projecto de risco partilhado entre o ENN e a Duke Energy, uma das maiores prestadoras de serviços públicos dos Estados Unidos.

Numa ensolarada estufa com paredes cobertas por tubulações de vidro pelas quais circula um lodo verde, o chefe da equipa de algas da ENN, Liu Minsung, apontou para uma fileira de tubos transparentes contendo substâncias de diferentes cores e consistências e levantou uma por uma. “Esta é uma microalga em forma pura. Experimentamos com diferentes formas de microalgas e criando novas variedades para desenvolver aquelas que mais facilmente se adaptam aos nossos propósitos”, explicou.

Então, Liu levantou outro tubo. “Isto é óleo vegetal, muito puro, sem sabor, muito bom para si.” O deixou e pegou outro. “Isto é alimento animal, muito nutritivo”, disse. “Isto é biodiesel. Pode-se usar como combustível de veículos automotores, barcos e jactos”, prosseguiu. As “óleo-algas”, como as chamam alguns, são refinadas num processo muito barato e já estabelecido.

Liu continuou: “E estas são a base dos bioplásicos. Poderiam substituir todos os plásticos que hoje obtemos do petróleo”, disse. E são biodegradáveis. “Quantos anos são necessários para que tudo isto seja viável comercialmente?”, perguntei. Pensou um momento, como se consultasse a sua agenda. “Consulte-nos no próximo ano”, respondeu.

De facto, em 2012 a Marinha de guerra dos Estados Unidos lançará o que chama Grupo de Combate Verde, uma flotilha de barcos que funcionarão com uma mistura chamada diesel hidroprocessado renovável: metade algas e metade combustível naval destilado Otan F-76. Para 2016, a Marinha prevê lançar a Grande Frota Verde, um grupo de combate de porta-aviões formado por navios híbridos eléctricos, aviões movidos a biocombustíveis, inclusive algas, e – já não tão verdes – navios nucleares.

As algas constituem um círculo completo de inovação porque prestam-se a vários usos simultâneos, seguindo uma dinâmica mais biológica do que tecnológica. As soluções técnicas tornaram- -se complexas e caras que, como ocorre com os telefones inteligentes, uma série de aplicações não essenciais acaba por esgotar a capacidade básica.

Como toda a “solução”, as algas têm indubitavelmente lados obscuros que devemos descobrir. Contudo, o maior risco, como o do automóvel eléctrico, é não desenvolvê-las.

Você pode criar as suas próprias algas, já que crescem por todo o lado, menos no Árctico. Se a ciência se dedicar não apenas à grande escala, mas à pequena, as comunidades locais poderão cultivar as suas próprias fazendas municipais de algas e obter novas fontes de renda e combustível para as suas máquinas e os seus motores. A vida na Terra começou com as algas. Elas poderão ajudar-nos a resgatar o nosso dilema energético?

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