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Alberto Mamba: Um inconformado que “arrasa” nas pistas de atletismo

Alberto Mamba: Um inconformado que “arrasa” nas pistas de atletismo

Quando, durante uma conversa, se fala da terceira edição dos Jogos da Lusofonia é inevitável referir-se ao facto de a delegação moçambicana que viajou a Goa, de pouco mais de cem pessoas, ser composta, desnecessariamente, por três dezenas de dirigentes. Ninguém se esquece, por exemplo, do facto de as selecções nacionais seniores terem competido e perdido jogos diante de adversários amadores e de escalões de formação. Todos estes comentários ofuscam, por completo, o que de positivo aconteceu naquele país asiático como, por exemplo, a conquista de duas medalhas de ouro por Alberto Mamba, nos torneios de atletismo.

Alberto da Conceição Mamba foi o grande destaque nos terceiros Jogos da Lusofonia ao tornar-se o moçambicano mais premiado, com duas medalhas de ouro nas corridas de 800 e 1500 metros. O seu talento é sobejamente conhecido nas maratonas, também chamadas de provas de estrada, em que é tido como uma referência. Nasceu na cidade de Maputo, distrito urbano de Ka Tembe, onde reside actualmente, a 10 de Novembro de 1994.

Teve uma infância alegre e cheia de sonhos como qualquer outra criança naquela fase. Brincava ao raiar do sol e ajudava a família nos deveres de casa ao meio-dia. Viveu muito tempo no bairro Xalí, em Ka Tembe, onde é popular pelo seu talento no futebol. Por motivos familiares, Mamba mudou-se, a dada altura, para Licuacuene, povoado onde mora actualmente, ainda naquele distrito urbano da cidade de Maputo. Estudou na Escola Primária Completa de Catembe de onde terá descoberto que, para além do futebol, tinha talento para o atletismo.

“Estava a jogar na escola. Peguei na bola e comecei a correr em direcção à baliza contrária. Ninguém conseguiu parar-me. Infelizmente, não marquei golo”, lembra-se Alberto Mamba. Com nostalgia, o atleta conta um dos episódios que se deu durante a infância, ainda na escola primária, e que pesou bastante para a escolha do atletismo como modalidade de eleição, em detrimento do futebol. “No período de férias eu ia ficar em casa dos meus avós. Eles criavam galinhas e, quando chegasse alguma visita ou fosse uma data especial, mandavam-me perseguir as aves para abate. Eu era o mais veloz entre os meus primos”, revela.

Foi com base nestes episódios que Alberto Mamba decidiu, finalmente, abandonar o futebol para competir nas pistas de atletismo. Em 2004, na altura treinado por Lázaro Loló, estreou-se nos Jogos Desportivos Escolares. “Não guardo boas recordações desses jogos, sobretudo do Festival Nacional que decorreu em 2007, na província da Zambézia. Treinei bastante mas não fiz parte da comitiva da cidade de Maputo por falta de documentos de identificação. Foi muito triste para mim”, explica Mamba.

Resolvido o problema, em 2009 foi seleccionado para ir competir em Niassa. Não ganhou nenhuma medalha pois correu com atletas muito mais velhos do que ele. Mamba tinha apenas 15 anos. Essa injustiça fez-lhe pensar em desistir do atletismo. Mas o seu treinador encorajou-o a continuar, na esperança de dias melhores. “Ele disse-me que desistir é uma saída dos fracos. Que Alberto Mamba era forte demais para tomar uma decisão tão desastrosa. Motivou-me a continuar”, partilha com o @Verdade as palavras proferidas pelo seu treinador.

Alberto Mamba na Universidade Pedagógica

Reza a história que, em 2010, Alberto Mamba tornou-se atleta profissional. O seu primeiro clube, em que milita até aos dias que correm, foi a Universidade Pedagógica. Foi nesta casa onde conheceu o seu actual treinador, de nome Bento, que jogou um papel preponderante na progressão da sua carreira. Em 2012, Mamba foi campeão nacional das corridas de 800 e 1500 metros pela primeira vez, triunfos que tem vindo a conquistar desde aquele ano até à última edição do Campeonato Nacional de Atletismo, que teve lugar no passado no Estádio Nacional de Zimpeto. “Entendo que o país atravessa enormes dificuldades. Mas o meu clube de coração tem feito de tudo para me fazer feliz. Sinto-me deveras valorizado”, garante Alberto Mamba.

“Em Moçambique há muito talento. Falta apenas investimento”

De acordo com Alberto Mamba, de 20 anos de idade, o país tem muito talento para levar avante o atletismo. Prova disso, de acordo com aquele atleta, é Creve Machava, do Clube Ferroviário de Maputo, que tão cedo despontou e é tido como o “futuro” desta modalidade. Ainda assim, entende que há falta de pessoas dispostas a apostar no atletismo.

“Esta geração que hoje é tida como uma referência nacional, falo de mim, de Creve, de Sílvia Panguane, entre outros, vai perder-se por falta de seriedade de quem gere o atletismo”, alerta. Para Mamba, não deve constituir motivo de admiração a ninguém se o atletismo, definitivamente, deixar de existir em Moçambique “mesmo depois de ter ‘dado à luz’ uma heroína nacional, Maria de Lurdes Mutola”.

 

A falta de pistas de corrida é outra razão invocada por Mamba para explicar o estado moribundo em que se encontra o atletismo. O Estádio Nacional de Zimpeto, apesar de moderno, “não serve para nós. As portas estão sempre fechadas e os guardas dizem que não têm ordens para nos deixarem entrar”. “Temos a pista do Parque dos Continuadores que está sempre disponível. Ali é a nossa casa. Mas nos últimos anos tem servido mais para a realização de espectáculos que enchem os bolsos dos dirigentes”, anota. Alberto Mamba exige, de forma urgente, a reabilitação daquele recinto desportivo de modo a praticar-se, como era antigamente, o atletismo.

“Não estou feliz com as medalhas de Goa”

As duas medalhas de ouro conquistadas por Moçambique nas provas de 800 e 1500 metros não agradam, nem tão pouco, ao Alberto Mamba. O atleta da Universidade Pedagógica não conseguiu melhorar o seu tempo, o principal objectivo que definiu para os jogos de amizade que tiveram lugar, recentemente, em Goa. Mamba vai ainda mais longe ao afirmar que poderia estar feliz por ter levantado, bem alto, a bandeira de Moçambique. “Mas ganhar sem melhorar os tempos pessoais é como colocar água num recipiente furado”. Este desabafo surge em virtude de o atleta não poder qualificar-se para as provas internacionais chanceladas pela Federação Internacional de Atletismo.

“Quero ir aos Jogos Olímpicos, mas”

Todos os atletas sonham em estar presentes nos Jogos Olímpicos. Alberto Mamba não foge à regra. Quer ir ao Rio de Janeiro, no Brasil, em 2016. “Mas não quero ir a convite ou por pena do Comité Olímpico de Moçambique, como tem acontecido nos últimos anos”, sublinha. Mamba quer atingir os tempos mínimos estabelecidos, dentro da pista, e sentir-se capaz de representar o país de forma condigna. Sonha, igualmente, em ver cumprido o projecto de capitalização de talentos através da oferta de bolsas olímpicas.

Refira-se que Alberto Mamba, para além das inúmeras conquistas nacionais, conta, até ao momento, com um total de cinco medalhas internacionais, quatro das quais de ouro e uma de prata. Venceu as provas de 800 e 1500 metros nos terceiros Jogos da Lusofonia, de 800 metros no Torneio Internacional de Atletismo da Noruega e também de 800 metros numa prova regional que teve lugar na Namíbia. Nos últimos Jogos do Scasa terminou na segunda posição, na corrida de 1500 metros.

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