Na carta que o maior partido da oposição em Moçambique, a Renamo, escreveu ao Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, na semana finda, não se indica, em concreto, o que é preciso para a retomada do propalado diálogo político com o Governo, nem de que forma e o país sairá da crise política e militar a que está mergulhada. Pelo contrário, o líder desta formação política, Afonso Dhlakama, posiciona como um imaculado e defende a si e ao seu partido das acusações da Frelimo em relação à instabilidade e ao clima de terror. O partido no poder, de acordo com o auto-aclamado “Pai da Democracia”, desdobra-se em tentativas insistentes para “acabar com a Renamo através das artificiais reduções dos seus assentos na Assembleia da República”.
Afinal, a carta entregue ao Chefe de Estado lusitano pela sobrinha de Afonso Dhlakama e chefe da bancada parlamentar, Ivone Soares, na última quinta-feira (05), não traz nada de novo relativamente aos passos a seguir para o fim da crise política. A espectativa criada em torno do conteúdo da referida missiva não passou disso.
“A Frelimo procura, a todo o custo, responsabilizar a Renamo pelo fracasso das suas opções políticas e de governação”, afirma a “Perdiz” na carta em que não fala ao estadista português da sua pretensão de governar as províncias onde alega ter ganhos nas últimas eleições, nem procura saber dele como tal desejo pode ser tornado prático. Mas reitera que “continua firme sua luta pelo bem-estar do povo moçambicano, exigindo esclarecimentos sobre a utilização dos recursos públicos, bem como legislando a favor dos interesses dos moçambicanos”.
Num outro desenvolvimento, Afonso Dhlakama diz a Marcelo Rebelo de Sousa que a implementação plena da democracia, a transparência na gestão da coisa pública, a justiça, a liberdade e a realização de eleições livres justas e transparentes são factores essenciais para a estabilidade de Moçambique e garantia de que haja incremento do investimento estrangeiro.
Segundo Dhlakama, a redução Dlakama a redução do investimento directo estrangeiro, a subida do endividamento público para fins não produtivos, a queda do nível de confiança do país são factores que levam o país ao actual estágio e não se pode, de maneira nenhuma, atribuir responsabilidade sobre estes factos à Renamo. Pelo contrário, a Renamo tem estado a proteger importantes infraestruturas económicas de interesse não só nacional mas também regional.
O partido liderado por Dhlakama assegura que jamais promoveria ataques aos empreendimentos que constituem “fontes privilegiadas de receitas para Moçambique e de importância estratégica para a região da África Austral”, nem os “colocaria em risco” porque contribuem para o alcance do bem-estar dos moçambicanos.
“O Governo da Frelimo, usando os meios de comunicação do sector público, tem estado a promover uma campanha de desinformação atribuindo à Renamo ataques a alvos civis. Mais uma vez, estas acusações são contrariadas pelo crescente apoio popular que a Renamo tem conhecido nos últimos tempos e o encorajamento para continuar com a luta pela defesa dos interesses dos moçambicanos. O Governo da Frelimo tem estado a usar viaturas e autocarros civis para transportar militares e armamento nas suas perseguições aos elementos da Renamo e, como seria de esperar, na confrontação esses meios são afectados”, diz Dhlakama na carta dirigida a Marcelo Rebelo de Sousa, publicada na íntegra no “Perdiz”.
A Renamo afirma estar consciente de que o seu conflito é com o Governo da Frelimo e não com o povo, porque este é “fonte de inspiração e a nossa razão de luta pela implementação plena da democracia e promoção das liberdades. A Renamo exige esclarecimentos sobre os gastos dos recursos públicos e a implementação de procedimentos transparentes na alocação dos recursos, inviabiliza a prática de nepotismo e outras que consubstanciam a corrupção”.
Entretanto, o partido no poder, acusa a Dhlakama, pauta pela perseguição e eliminação física de gente que pensa diferente. E “ao perseguir este caminho, a Frelimo acredita facilmente eliminará a própria Renamo”.