A maior parte dos adolescentes e jovens dos distritos de Muecate, Meconta e Monapo, na província nortenha de Nampula, tem vindo nos últimos dias a abandonar a escola para se dedicar ao negócio de amêndoa de castanha de caju ao longo da Estrada Nacional Número 8, apesar dos perigos a que está exposta.
Nos últimos dias, a comercialização de amêndoa da castanha ao longo da Estrada Nacional Número 8 tem vindo a atrair cada vez mais um maior número de pessoas, desde adolescentes, jovens e até os idosos, devido aos lucros imediatos que o negócio proporciona aos vendedores. Todos os dias, cresce o número de alunos que abandonam a escola para se dedicar àquela actividade.
Ao longo da EN-8, principal via que dá acesso aos distritos de Muecate, Meconta, Monapo, Ilha de Moçambique e Nacala-Porto, é notório um movimento invulgar de pessoas, de diferentes faixas etárias, principalmente adolescentes e jovens, a venderem a amêndoa.
Salimo Risik, de 23 anos de idade, vende amêndoa da castanha de caju há sensivelmente 12 anos. Estimulado pelo seu próprio pai, no princípio vendia tomate, galinhas, piri-piri, entre outros produtos de primeira necessidade, e, mais tarde, tendo descoberto que a castanha de caju tinha bastante procura, mudou de negócio.
Risik é um jovem como tantos outros que lutam para ganhar a vida mas classifica o negócio que faz de grande risco, pois está exposto ao atropelamento. “No ano passado, dois amigos meus foram atropelados mortalmente quanto tentavam angariar clientes a partir da janela de um autocarro de transporte de passageiros”, conta.
Este jovem afirma que, apesar da morte, não pensa em desistir da actividade porque, por um lado, não sabe o que poderá fazer posteriormente e, por outro, pelo facto de que é o único meio que tem de garantir o sustento dos seus três filhos e esposa, para além de ajudar alguns dos seus parentes.
Graças à venda da amêndoa da castanha de caju, Salimo Risik comprou uma motorizada, construiu uma casa, além de ter colocado a esposa na escola. Neste momento, o seu maior desafio é melhorar a vida dos seus progenitores. “O meu objectivo é cobrir com chapas de cinco a casa dos meus pais e sei que vou conseguir”, afirmou.
O nosso entrevistado disse que os acidentes de viação que têm acontecido naquela via e que têm ceifado a vida de muitos cidadãos devem-se à falta de observância das regras de trânsito por parte dos automobilistas.
Armando Mário, residente no posto administrativo de Namaita, distrito de Nampula-Rapale, diz que desde que começou a vender a amêndoa da castanha de caju nunca assistiu a nenhum atropelamento e muito menos alguém a perder a sua mercadoria. Além disso, os vendedores perdem os seus produtos em situações em que os passageiros esperam o momento da partida da viatura, e fingem querer comprar, acabando por levar sem pagar.
Entretanto, a nossa reportagem ouviu a administradora do distrito de Meconta, Rosa Vianeque, que revelou que decorre a nível distrital uma campanha que visa sensibilizar os vendedores de amêndoa da castanha de caju no sentido de criarem bancas para a venda dos seus produtos, não o fazendo na estrada.
Vianeque lamentou a maneira como tem sido vendida a castanha de caju na via pública e diz que não tem conhecimento das mortes que ocorrem em tais locais. “Se prestou muita atenção, eles já não vendem nas vilas porque já estamos a proibir”, disse a administradora.