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Actor moçambicano brilha em Bollywood

Actor moçambicano brilha em Bollywood

O actor moçambicano Vipinno protagoniza – a par dos indianos Vinod Khanna e Suniel Shetty, estrelas do Bollywood – o filme indiano A Máfia do Carvão, em rodagem, em Maputo. Entretanto, se partirmos do princípio de que, na Índia, para apenas um papel, na contratação do elenco, existem mais de três mil candidatos, ter um compatriota nosso a cintilar nos meandros do Bollywood é um grande feito. O artista foi bem sucedido. Mas como ele transpôs as barreiras? Descubra a resposta a seguir…

@Verdade: Como é que começa a sua relação com a sétima arte?

Vipinno: A possibilidade de ser actor do Bollywood é um sonho que me acompanha desde os meus cinco anos de idade. Desde criança sempre quis ser actor de cinema – o que, por várias razões, não aconteceu antes. Só nos últimos quatro anos é que tenho estado a participar em filmes indianos. Portanto, A Máfia o Carvão é a segunda obra cinematográfica em que participo. A primeira, que foi produzida há quatros anos, embora não tenha corrido mal, para mim, foi uma experiência má porque eu não tinha nenhum conhecimento sobre a área.

Não conhecia a base e a técnica para se ser actor. Além da parte de expressões sentimentais, o cinema possui uma componente que tem a ver com as regras de como se deve enfrentar as câmaras – faltava-me esse domínio. É certo que – com a referida produção – aprendi muito em relação ao cinema, mas, não se tratou de uma boa experiência. Quando estamos a actuar temos de ter o prazer do que fazemos. Na altura, eu não senti prazer no trabalho que estava a fazer porque me senti atrapalhado e perdido.

Houve algumas vezes, até, em que me perguntava o que eu estava a fazer naquele sector. Em resultado disso, decidi que não devia fazer mais filmes até ter algum treinamento cinematográfico específico – em relação à actuação. A partir daí fui aos Estados Unidos, na cidade de Nova Iorque, a fim de fazer um treinamento no New York Filme Academy. Depois do curso, consegui participar no filme A Máfia do Carvão, o meu segundo filme, como Karua.

@Verdade: Como é que se chama o primeiro filme?

Vipinno: O filme não correu cá, então, não foi traduzido para português. Mas o seu título significa Só Tu e Mais Ninguém.

@Verdade: Que barreiras teve de superar para se inserir no contexto do cinema indiano, tendo em conta o aspecto cultural?

Vipinno: A primeira barreira que enfrentei foi a língua. Não é fácil trabalhar numa indústria em que não se fala o nosso idioma ou que não estejamos habituados a falar. O segundo aspecto tem a ver com o facto de a nossa cultura ser totalmente diferente da indiana. Felizmente, tive a sorte de trabalhar com pessoas que fizeram de tudo para que eu me sentisse confortável. De todos os modos, a minha maior dificuldade foi a língua.

@Verdade: O aspecto linguístico marca-lhe grandemente…

Vipinno: Marca-me, sim, porque para dialogar em hindi tenho de ter o script, o guião, com muito tempo de antecedência em relação à data das filmagens, a fim de memorizar os conteúdos – o que não é fácil. O segundo exercício tem a ver com o facto de que – a par da memorização – vem a componente da inclusão dos aspectos emocionais, o que também implica muito trabalho.

@Verdade: Como é que foi a sua aculturação na Índia, tendo em conta que a maior parte das suas experiências culturais ocorreu num contexto diferente do que está a trabalhar?

Vipinno: Para mim, o que funciona é a valorização do diferente. Eu sou originário de Inhambane, a minha família mudou-se para Maputo – outro contexto social diferente do inicial, apesar de ser o mesmo país onde falamos a mesma língua. Por outro lado, entre Maputo e Bombaim existem maneiras de ser e estar completamente diferentes. É como se se estivesse a comparar o céu com a terra.

O que me ajudou, mesmo na produção do filme A Máfia do Carvão, tem a ver com o facto de que sempre que tenho de participar numa obra cinematográfica costumo visitar os locais onde serão feitas as filmagens, alguns dias antes, a fim de viver o ambiente, saber como é que as pessoas vivem, a sua maneira de ser e estar, a sua alimentação, incluindo aspectos culturais típicos. Capitalizo esta maneira de ser e estar aplicando-a na minha actuação durante a realização do filme.

@Verdade: Gosto da comparação entre o céu e a terra, tendo em conta que há aspectos que se podem sublimar num lugar e detrimento do outro. Onde é, especificamente, o céu e a terra?

Vipinno: (Risadas). Corta! Não me obrigue a responder a esta pergunta. Não vou respondê-la. Nós temos culturas diferentes. Isto é suficiente. Mas devo dizer que estou muito agradecido à Índia e à Bollywood por me terem acolhido bem. É preciso compreender que na Índia, só em cada papel, existem mais de três mil actores a concorrer. Em Hollywood a situação é bem pior. Existem milhões de pessoas a tentar convencer os realizadores para fazerem um papel de cada produção cinematográfica. E neste caso, se um moçambicano conseguiu espaço, significa que estamos diante de algo interessante. Um feito. Por tudo isso, eu agradeço os indianos.

@Verdade: Por quanto tempo será rodado este filme em Maputo?

Vipinno: Em princípio, a Lusomundo abriu as portas à Bollywood a partir deste filme – por causa da minha presença, como moçambicano, na Índia. O filme vai correr nos próximos dias.

@Verdade: Este filme acaba por reatar as culturas moçambicana e indiana, a partir do cinema. Que planos há, sob o ponto de vista de produções cinematográficas, para o futuro?

Vipinno: Espero, muito bem, poder trazer a indústria de Bollywood a Moçambique, a fim de realizar algumas produções. É claro que Moçambique não possui infra-estruturas para este tipo de realização passar por cá. Haveria a necessidade de se trazer os equipamentos da África do Sul, incluindo os técnicos sul-africanos. Moçambique tem espaços lindos. A nossa natureza é muito bonita.

Há muita coisa a explorar e a mostrar, neste país, através do cinema, aplicando-se os exemplos de países como a Suíça e a Inglaterra cujos governos subsidiam os realizadores indianos para mostrar – através do cinema – a realidade dos seus países. A ideia desses governos é disseminar pelo mundo as mensagens da necessidade de se visitar os seus países. O nosso país não tem condições para o efeito, mas se pudéssemos trazer esse movimento turístico para cá seria muito interessante.

@Verdade: Quem é, afinal, Vipinno?

Vipinno: Sou um moçambicano que nasceu na província de Inhambane. A minha família mudou-se para Maputo há muitos anos. Desde a infância, tinha o sonho de fazer cinema. No entanto, por causa de várias circunstâncias da vida, por algum tempo, tal sonho foi protelado. Na vida, temos de nos dedicar a alguma actividade profissional – foi o que aconteceu comigo. Interrompi a corrida rumo ao meu sonho, mas agora, embora tarde, criaram-se as condições para o efeito. Como se diz, mais vale tarde do que nunca.

@Verdade: Um sonho realizado tardiamente de facto. Que factores concorreram para o efeito?

Vipinno: Foram dificuldades de vária ordem. Eu era muito jovem e dependia do meu pai que tinha as suas empresas a experimentar dificuldades. Por isso, ele não tinha como enviar-me para a Índia. Depois casei-me e as minhas prioridades mudaram.

@Verdade: Porque optou pelo Bollywood e não Hollywood?

Vipinno: É preciso compreender que, primeiramente, em Moçambique se viu muito o cinema indiano, antes de desaparecer a favor do americano. Se calhar, por causa disso criei este gosto pelo Bollywood.

@Verdade: Quem são os seus actores favoritos no cinema?

Vipinno: Se falarmos do Bollywood, diria que o meu actor preferido é Amitabh Bachchan. Em Hollywood podemos falar da Al Pacino, Sylvester Stallone e muitos outros. Em Moçambique, sou fã de Gilberto Mendes. Acho que ele está a fazer um trabalho espectacular.

@Verdade: Para si, o que significa A Máfia do Carvão tendo em conta a sua primeira experiência cinematográfica?

Vipinno: Se for em termos comparativos, em alguns momentos do primeiro filme eu interrogava-me sobre o que estava a fazer durante a produção. Em A Máfia do Carvão, estive envolvido em todos os momentos da sua realização. Por isso foi algo muito prazeroso. Esta é uma grande diferença.

O segundo aspecto é que neste filme trabalhei com dois actores veteranos na indústria do Bollywood. Um deles tem 24 anos de carreira e o outro tem acima de 40. Eles foram pessoas que me trataram muito bem confiando-me a responsabilidade de realizar o trabalho cujos resultados estão plasmados em A Máfia do Carvão. Embora ela seja contínua, com A Máfia do Carvão tive uma sólida aprendizagem.

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