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Toma que te dou: A realidade é pior que a imaginação, segundo Mel Gibson

Criticaram o realizador Mel Gibson pelo seu filme Apocalipse, por ter explorado até a náusea a dor, e trucidado, segundo eles, a sensibilidade das pessoas. Mas Gibson disse-lhes que a realidade é pior que a violência e a crueldade presentes na sua obra. E hoje trago-vos a entrevista imaginária que fiz a um compatriota, com a indicação de que, como em todas as entrevistas fictícias que já fiz, qualquer coincidência com a realidade é pura coincidência. E se acharem algum exagero, adianto-vos que a realidade pode ser bem mais trágica.

– Tem acompanhado os desenvolvimentos políticos do nosso país?

– Assim-assim! – Qual é o seu partido?

– Não tenho partido.

– Porquê?

– Quem te disse que para se viver em paz neste país é necessário que se esteja filiado a alguma agremiação política?

– Não tem sofrido por causa dessa sua abstenção?

– Não acho que seja uma abstenção não pertencer a um partido político. Tenho o meu trabalho, oriento a família com o meu suor, pago os impostos, respeito as pessoas e nunca entrei em confronto com a Lei. Por isso não vejo que haja alguma abstenção porque os impostos que pago ajudam a construir o meu país. Tu devias estar preocupado com essa gente que não paga os impostos e está na proa deste barco que está prestes a naufragar. E o que me admira sabes o que é? É o general Khálau vir cá fora dizer que a situação da segurança no nosso país está sob controlo. Todavia, quando lhe perguntei se estava sob controlo de quem, enervou-se ostensivamente.

– Onde é que o senhor trabalha?

– O que importa não é onde trabalho. Mais do que isso, é a honestidade que está à frente de tudo o que faço. Trabalho é trabalho. Limpar fossas também é trabalho. Os que vivem da gandaia também são trabalhadores. O que eu quero é voltar para casa, com as poucas migalhas que consigo amealhar, e dormir em paz com a minha consciência. Nunca roubei. Nunca burlei. Nunca enganei. Nunca pisei ninguém. Ou seja, faço toda a minha vida à luz do dia, respeitando as pessoas. Isso é que é de grande valor para mim.

– Como é que tem sido a sua vida no bairro onde vive?

– Na verdade há pessoas que tentam colocar-me obstáculos. Um deles é o próprio secretário, que chega a tentar imiscuir-se na minha privacidade. Tenho pago muito caro por não ter cartão da Frelimo, mas eu não fui educado para servir os caprichos das pessoas. A minha formação ensina-me a respeitar a Lei e é o que tenho feito. Não consta em nenhuma alínea da Constituição da República que para se viver neste país é necessário que se seja da Frelimo. Eu sou cidadão, conheço os meus direitos e não venha aqui um secretário qualquer tentar ameaçar-me.

– Já se recenseou?

– Esse é o meu dever cívico. Vou exercer o meu dever de voto mesmo que não faça parte de nenhum partido. Há pessoas que ainda pensam, infelizmente, que só se pode viver bem em Moçambique quando se pertence à Frelimo.

– Aparentemente, é isso que está a acontecer!

– Sim, é isso que está acontecer, meu irmão! Mas tudo isso vai acabar um dia. – Acredita?

– A esperança é a última coisa a morrer.

Alexandre Chaúque

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