Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

A máquina que leva Moçambique a Londres

A máquina que leva Moçambique a Londres

No dia 24 de Setembro de 1988, Lucas Sinoia representou Moçambique nos Jogos Olímpicos de Seul. Cumprem-se 25 anos dessa idade dourada, uma fase em que o boxe despertou paixões e levou enchentes aos pavilhões de todo o país. Actualmente, a modalidade caminha moribunda carregando o archote da ausência de competitividade e exposição mediática.

As medalhas dos Jogos Africanos de Maputo, do Africano do Botswana e, sobretudo, a qualificação aos Jogos Olímpicos de Londres dão um pouco de brilho a um desporto que actualmente é mais secundário do que protagonista.

Juliano Fernando Máquina é o representante de Moçambique nos trigésimos Jogos Olímpicos de Londres, capital do Reino Unido, a terem lugar de 27 de Julho a 12 de Agosto na modalidade de Boxe na categoria “mosca-ligeiro”.

A primeira impressão com que se pode ficar ao falar-se de Juliano Máquina é a de que se trata de um adulto com uma longa caminhada no boxe a ponto de levar Moçambique ao maior palco desportivo do planeta. Podemos afirmar que não, Máquina não passa de um indivíduo com apenas 18 anos de idade.

A sua história de vida no boxe é tão recente como a sua entrada na modalidade já lá vão cinco anos, ou seja, em 2007, pela Academia Parque dos Continuadores. O seu talento tão cedo notabilizou- se se calhar pela influência do irmão mais velho, Gento Máquina que milita no clube Matchedje.

É que, um ano depois de entrar no mundo do pugilismo, Juliano Máquina tornou-se campeão da cidade de Maputo na categoria de amadores (48 quilogramas).

Automaticamente, qualificou-se para o “Nacional” onde, no mesmo ano, se sagrou vice-campeão. As portas do sucesso abriram-se e Juliano Máquina viu-se a correr a partir daí atrás de um sonho: desfilar nos maiores palcos de boxe do mundo.

A contrariedade da fresca carreira surgiu em 2009 quando Máquina não revalidou o título de campeão da cidade tendo ficado com a medalha de bronze e, mesmo assim, não se ter qualificado para o “Nacional”. Esta situação abalou-o muito.

Ambicioso que é, Máquina viu-se obrigado a sair do Parque dos Continuadores passando para as fileiras do Matchedje ao lado do irmão Gento. Entristecido pelo fracasso, fez de 2009 um ano de muito trabalho para melhorar o seu rendimento a fim de transformar 2010 em ano de glórias.

Em 2010 não voltou ao nível cobiçado, contudo, melhorou em relação ao ano anterior: conquistou a medalha de prata da cidade nos 48 quilogramas e foi dispensado do campeonato nacional de modo a participar na competição regional de África denominada SCASA-2010, que decorreu na vizinha Suazilândia.

No SCASA e já nos 49 quilogramas, Máquina conquistou a medalha de prata e sentiu que podia ir mais longe. A sua ambição dilatou-se tanto que já sonhava em um dia ser campeão do mundo e tornar-se numa lenda do Boxe.

Participou nos Jogos Africanos e como anfitrião não soube mandar. Não honrou os moçambicanos e saiu sem medalha. O nível altíssimo do grau de preparação dos adversários foi a desculpa, tendo-se contentado apenas com o título de campeão da cidade.

Neste ano, concentrou os esforços para atacar os Jogos Olímpicos a começar pela sua ida a Marrocos no torneio africano qualificativo onde garantiu a vaga de Moçambique na cidade inglesa de Londres.

Tudo aconteceu na tarde de terça-feira, dia do Trabalhador (01 de Maio), quando Juliano, na categoria “mosca-ligeiro” derrotou um pugilista do Burkina-Faso, em dois assaltos, num combate dos quartos-de-final, e ainda conquistou no mesmo torneio a medalha de bronze.

Ainda neste mês de Junho, Juliano Máquina participou no Campeonato Africano de Boxe que decorreu em Botswana, tendo ficado pelo caminho nos quartos-de-final e falhado a conquista de uma medalha.

A preparação para Londres

A pouco menos de um mês dos Jogos Olímpicos, Juliano Máquina treina em condições deploráveis. Apesar de ter recebido recentemente da Federação moçambicana da modalidade luvas novas, cabeceira e ligaduras, não treina em ringue próprio de boxe.

Escasseia o lanche e água durante os treinos que, apesar de serem bidiários, não são acompanhados de combates de observação com pugilistas do seu nível (49 quilogramas).

A preparação está mais virada para os aspectos de resistência, aperfeiçoamento do aspecto físico e técnico, ou seja, o mínimo para um pugilista que está a caminho de Londres. Juliano Máquina, conforme reconhece, carece de melhores condições de treino para representar condignamente o país.

Algo curioso é que, apesar de os níveis de ansiedade serem altíssimos, o pugilista olímpico não tem tido acompanhamento emocional, muito menos psicológico. Não tem igualmente um médico que possa fazer a monitoria da sua situação clínica, o que o obriga a recorrer aos hospitais públicos para os devidos testes.

Soubemos que Juliano Máquina parte entre os dias 3 e 4 de Julho para a Irlanda, onde vai realizar um estágio pré-competitivo com atletas que possivelmente estarão dos Jogos Olímpicos. De referir que não levará o experiente Lucas Sinóia, seu actual treinador, a Londres tudo porque a Federação contratou há pouco menos de um mês um cidadão cubano para acompanhar o pugilista.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!