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Os eternos rivais

Os eternos rivais

Actualmente, embora não se faça sentir como nos tempos idos, a rivalidade entre o Sporting Clube de Nampula (antigo Namutequeliua) e o Sport Nampula e Benfica (antigo Muhavire) continua em chama nos adeptos quando se defrontam estas duas equipas que militam no Campeonato Provincial de Futebol, conhecido por Nampulense. A paixão pelo clube é descomunal, até porque para eles o que importa não é tornar-se campeão do torneio, mas nunca perder diante do seu eterno rival.

Uma hora antes da partida de futebol entre o Sporting Clube de Nampula (SCN) e o Sport Nampula e Ben ca (SNB), um aglomerado de pessoas sobressaía no portão que dá acesso ao interior do Estádio 25 de Setembro, na cidade de Nampula.

Cânticos, gritos, o barulho de “vuvuzelas” e os trajes dos adeptos anunciavam o “derby” nampulense. Tem sido assim quando estas equipas se encontram no Campeonato Provincial de Futebol de Nampula. O entusiasmo pelo jogo não é de hoje, remonta ao período colonial e quando, por motivos políticos, os clubes se chamavam Namutequeliua e Muhavire, respectivamente.

Quando se ouviu o apito inicial da partida, os adeptos faziam a festa e mandavam “recados” aos partidários da equipa adversária. Jogava-se a 10ª jornada da primeira volta. O ingresso custava 50 meticais – 20 meticais mais caro do que o habitual.

Os que não tinham condições financeiras para pagar aquele valor penduravam-se nas árvores ao redor e outros, aproveitando-se da distracção dos agentes da lei e ordem, trepavam o muro. O estádio não estava lotado, havia no interior perto de mil espectadores. A última vez que as duas equipas deixaram o recinto superlotado foi em 1975.

A bola rolava no campo e os jogadores digladiavam-se, pois o mote era único: não perder diante do seu rival directo. As duas equipas estão no meio da tabela classificativa. E os adeptos não ficaram indiferentes.

Provocações e troca de insultos foram a tónica durante os 90 minutos da partida em que o resultado foi um empate a uma bola. O primeiro a “furar” a baliza adversária foi o SNB, deixando a claque de Namutequeliua com os nervos em franja.

A eterna paixão e a rivalidade aparentemente adormecida

A rivalidade entre os clubes dos bairros de Namutequeliua e Muhavire é invulgar, ou seja, em nenhum outro ponto do país se viu tanta emulação entre os adeptos – e jogadores também – como a que se assiste na cidade de Nampula quando se defrontam o Sporting Clube de Nampula e Sport Nampula e o Ben fica. Para eles, não importa a posição em que estejam na tabela classi cativa, porém, o maior tormento das duas equipas é perder diante o adversário de longa data.

Alguns adeptos são da opinião de que a rivalidade que existia há muito tempo entre as duas equipas presentemente já não se faz sentir com grande intensidade no seio dos jogadores, treinadores e os partidários.

Afonso Lameque, adepto do Sport Nampula e Ben ca, disse que, apesar de os jogadores da sua equipa bene ficiarem de uma formação desportiva, ainda não protagonizam uma disputa futebolística que caracteriza o antagonismo existente.

“Houve tempos em que os adeptos cam revoltados ao ponto de se agredirem com pedras e garrafas, mas hoje isso não acontece porque as equipas proporcionam um péssimo espectáculo”, disse.

Jackson Arnaldo, adepto do Ben ca de Nampula, disse que não entende o porquê de os jogadores não terem a mesma “fúria” da dos atletas dos tempos idos, pese embora, além da formação, tenham algum incentivo dentro do clube. “O Ben fica é o melhor clube desta cidade e também da província, é um clube do povo. Já produziu jogadores que neste momento estão no Moçambola e no estrangeiro”, disse.

Paulo Figueiredo, antigo dirigente do Sport Nampula e Benfifica, afi rmou que é muito triste veri car-se uma fraca qualidade de jogo, principalmente, quando as duas equipas se encontram. Acrescentou que o Ben fica já foi nos tempos idos considerada a melhor equipa da província e com ambições na área desportiva viradas para a busca de resultados (leia-se vitórias) para a satisfação da massa associativa.

“Sinto que a direcção se encontra privatizada pelo actual treinador e presidente do clube, Abdul Hanane, e a gestão é feita sem nenhuma prestação de contas. Por exemplo, a venda das infra-estruturas desportivas constitui uma clara violação dos princípios dos estatutos do clube”, comentou.

Já os adeptos do Sporting Clube de Nampula consideram que a equipa de Namutequeliua possui um plantel animador e tem realizado partidas bastante interessantes, mas reconhecem que a falta de atletas com a necessária capacidade de nalização está a difi cultar a obtenção de resultados satisfatórios nos embates que tem realizado contra o Ben fica.

Alfane Assane disse que a questão da rivalidade entre as duas equipas já está a perder o protagonismo, sobretudo, nas partidas que envolve as duas equipas.

Entretanto, justi ficou o facto dizendo que se deve à má qualidade dos jogos, aliado à falta de jogadores com capacidade de marcar golos. Disse, igualmente, que a nível dos adeptos a paixão pelo desporto tem vindo a esmorecer, razão pela qual está a desaparecer a rivalidade entre as duas formações desportivas.

Bistoli Namalica, antigo chefe do departamento de património do Sporting Clube de Nampula, disse que a prestação dos jogadores no campo tende a reduzir, mas não avançou as reais razões desta baixa no seio dos atletas.

Porém, a título de exemplo, referiu-se à partida realizada no dia sábado passado (23), em que as duas equipas fizeram um jogo que não foi do agrado dos seus adeptos e o público em geral no que respeita aos resultados obtidos.

Por seu turno, Daudo Chale referiu que a nível da sua equipa, Sporting de Nampula, vive-se um ambiente que não motiva a obtenção de melhores resultados devido ao comportamento de alguns atletas que se consideram veteranos e decidem boicotar certas partidas na tentativa de reclamar o pagamento de salários e prémios de jogos.

Comparativamente ao passado, a rivalidade entre os clubes tem vindo a esmorecer. Antigamente, quando as equipas se encontravam, os adeptos atacavam-se violentamente.

Hoje, essa situação já não acontece, até porque numa sessão do governo provincial de Nampula os dirigentes dos “eternos rivais” foram convidados a participar, tendo sido acusados de promover violência no desporto-rei, além de obrigados a acabar com as escaramuças.

Historial do Sporting Clube de Nampula

Não se sabe ao certo os nomes dos cidadãos portugueses que teriam criado a equipa leonina em Nampula, porém, sabe-se que o Sporting Clube de Nampula foi fundado no dia 6 de Fevereiro de 1948, no período colonial, por um grupo de adeptos do Sporting Clube de Portugal, que queria desenvolver o desporto a nível da região.

Depois da criação da equipa dos leões, vários foram os avanços dados pelo clube. Naquela altura, era uma colectividade de elite e não havia negros na equipa principal. À semelhança dos tempos que ocorrem, os adeptos e a massa associativa, assim como os jogadores, não aceitavam perder diante de Sport Nampula e Benfica, tal como acontecia (e acontece) em Portugal.

De Sporting para Agricon

Quando Moçambique ficou independente, residências, lojas e empresas passaram para as mãos dos moçambicanos, e o mesmo aconteceu em relação ao SCN. O Governo decidiu que os clubes deviam ser apoiadas pelas empresas estatais, além de terem sido obrigados a abandonar o nome das equipas portuguesas.

Neste âmbito, o Sporting passou a chamar-se Agricon de Nampula, tendo permanecido este nome até 1985. Nessa altura, o clube era apoiado por várias empresas ligadas ao ramo agrícola e porque as mesmas foram falindo, a massa associativa reuniu-se e mudou o nome para Namutequeliua.

“A única equipa que saía da capital do país para jogar e ganhar Namutequeliua era o Desportivo de Maputo. As vitórias naquele tempo surgiam não porque o clube dispusesse de muito dinheiro, mas existia muita paixão pelo desporto e as pessoas identificavam-se no que diz respeito à província e ao clube”, disse o presidente do clube, António Uaqueia.

Na época em que o clube chamava-se Namutequeliua, formou diversos atletas que fizeram história no futebol moçambicano, com destaque para Babai, Rui Évora, Duda, entre outros. A década de 90 foi o momento em que o clube leonino começou a passar por um aperto financeiro, e numa assembleia-geral decidiu voltar a adoptar o nome de Sporting Clube de Nampula com o intento de atrair apoio do clube lisboeta.

Desde que o Sporting Clube de Nampula marcou uma presença no Campeonato Nacional de Futebol, nunca mais repetiu tal proeza. Presentemente milita no Campeonato Provincial, apesar de não obter bons resultados.

Neste momento o clube tem tido problemas de falta de fundos para o seu funcionamento. O único dinheiro que tem resulta do arrendamento das suas infra-estruturas. Poucas empresas apoiam os clubes a nível da província.

Rivalidade com Benfica

Segundo António Uaqueia, presidente do Sporting Clube de Nampula, a rivalidade que existe entre este clube e o Sport Nampula e Benfica é salutar, e equipara-se a dois irmãos que marcaram o desporto-rei nos tempos já idos pelos feitos alcançados na cidade capital de Nampula.

“Os adeptos procuram médicos tradicionais e dormem nos cemitérios para a equipa vencer o jogo. Grande parte prefere perder o campeonato mas não perder diante do Sport Nampula e Benfica e esta situação não é de hoje, mesmo no tempo colonial isso acontecia”, conta.

O clube, cuja massa associativa vive na expectativa de dias de glórias, precisa, no mínimo, de um milhão de meticais para concluir a construção do seu campo. Além disso, o sonho do conjunto é voltar ao Moçambola.

Em média, por mês, o Sporting Clube de Nampula gasta 250 mil meticais e o dinheiro é proveniente do arrendamento das infra-estruturas. E, segundo presidente do clube, para o mesmo ser estável precisaria de 400 mil meticais. Os eternos rivais Texto e fotos: Redacção (Nampula)

Historial de Sporting Nampula e Benfica

O clube nasceu no dia 6 de Fevereiro de 1954, fundado pelos colonos portugueses, na pessoa de Francisco Carvalho Durão. Quando Moçambique ficou independente, havia a necessidade de mudança de nome. Porque o clube tem as suas infra-estruturas no bairro de Muhavire passou a ser designado Clube de Desportos de Muhavire.

A gestão passou a ser empresarial, abandonando o seu carácter associativo, à semelhança de outros. O então Clube de Desportos de Muhavire ficou nas mãos das empresas públicas do ramo da construção civil e, consequentemente, o património passou para o Ministério das Obras Públicas.

Com a falência das empresas, o clube deixou de receber fundos do Estado, tendo precipitado o divórcio entre as instituições públicas e o Sport Nampula e Benfica. O clube estava falido, desorganizado e sem uma equipa de direcção.

Não dispunha de equipamentos. Em 1998, começa uma nova história. Foi nomeada uma comissão, na qual foi eleito Abdul Hanane como presidente do clube, tendo assumido também o posto de treinador. Montou uma equipa sénior e uma escola de jogadores.

“Porque o Clube de Desportos de Muhavire não tinha estatutos e não podia continuar a ostentar um nome que nos foi obrigado a aceitar por razões políticas, decidimos mudar de designação para Sport Nampula e Benfica nem que nos chamassem saudosistas”, explica Hanane.

Em 1998 a equipa participou no campeonato de juniores na Beira, onde ocupou a terceira posição, e tinha sido campeão provincial. Mais tarde, foi vice-campeã nacional e, em 2000, o Sport Nampula e Benfica estreou-se no Moçambola, mas por razões financeiras acabou por ficar de fora. “Não tínhamos dinheiro para subornar os árbitros”, justifica-se Hanane. Em 2007, foram elaborados novos estatutos.

Aposta na formação

Actualmente, o clube abdicou da alta competição, optando por apostar na formação de atletas. O Sport Nampula e Benfica melhorou o campo, os balneários, o muro de vedação, construiu uma infra-estrutura no recinto do clube e os jogadores passaram a ter salários.

“E também caímos no erro de continuar a apostar na alta competição que nos custou muito caro. Gastamos muito dinheiro e hoje estamos a precisar desse valor para construir infra-estruturas”, disse o presidente e treinador do clube.

Novamente, o clube está a apostar na formação de jogadores e o fruto são os cinco atletas na selecção nacional de sub-20 e outros cinco na selecção sub-17, além de outros emprestados a alguns clubes de Maputo. “Estamos a tentar mudar de clube para uma academia de futebol, estamos a adequar os nossos estatutos”, revelou.

O clube já está a construir uma academia, a primeira a nível de clubes nacionais, que vai contar com um estádio de futebol, o mais moderno do país e com todas as infra-estruturas de qualidade internacional. O actual desafio é obter relva sintética.

O Benfica de Nampula não tem patrocinadores, sobrevive do esforço dos seus dirigentes, uma vez que a massa associativa deixou de pagar as quotas. Apesar de os jogadores não aferirem salários, o clube gasta por mês 30 mil meticais para fornecer aos atletas alguns produtos de primeira necessidade.

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