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Toma que te dou: A luta continua! (2) *

Está a cair granizo na cidade de Maputo, contrariando toda a lógica atmosférica. O céu está limpo na sua plenitude e o sol, no crepúsculo do amanhecer, ergue-se devagar. Chove! Uma chuva fininha que brilha como os cristais e o granizo acompanha, em enormes pedregulhos, esse chuvisco. Os habitantes de determinados bairros problemáticos como Xipamanine, Chamanculo, Mafalala e outros tantos que abraçam a grande e anárquica cidade celebram, paradoxalmente, o cair dos blocos disformes de gelo, que produzem, ao desabarem por sobre as chapas metálicas de zinco, um som que nos recorda o ribombar dos últimos tiros disparados para a cordilheira de Gorongosa pelas FADM, contra os nossos próprios irmãos. Parece o anúncio de uma tragédia, de uma hecatombe sem precedentes.

No lugar de se esconderem debaixo dos seus tectos, todos saem para as ruas e para os becos, repetindo as palavras de ordem que ouvem de alguém invisível. Caminham, aos magotes, para a mesma direcção com os punhos erguidos. Os homens apertam os cintos e as mulheres fortificam as capulanas e ajeitam os lenços de cabeça.

Ouvem-se, em todos os lados, canções antigas de revolta, de liberdade e de vitória na mesma cadência sincronizada por um maestro misterioso. E o destino parece agora estar mais do que claro, é a Praça da Independência. Todos vão para lá. Repetem-se “vivas” e “abaixos”, como nunca. Quando a multidão invadiu a cidade, debaixo do granizo e da chuva fininha que continuam a cair, os moradores das flats desceram para fazerem parte da procissão. As mulheres e os homens que ainda se encontravam na tarefa de arrumar os seus produtos abandonaram o trabalho e seguiram a voz que não parava de apelar.

– Abaixo a tirania!

– Abaixoooooooooooooooooo!

– Abaixo o despotismo!

– Abaixooooooooooooooooooo!

– Viva o povo unido do Rovuma ao Maputo!

– Vivaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

– Viva Moçambique para todos!

– Vivaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Parou de chover e, em pouco tempo, já não havia qualquer vestígio do granizo, nem do nevoeiro que despertaram a Grande Maputo. Os “vivas” e os “abaixos” são agora mais nítidos. Mais vigorosos, e a Praça da Independência está mais cheia de gente do que nunca. As canções são cada vez mais retumbantes. E no palanque, onde desfilam muitas personalidades, avulta uma mulher que fala com sotaque nyungwe, excitando a multidão a unir-se, esquecendo as cores dos partidos.

– Viva a Unidade Nacional!

– Vivaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

– Abaixo o enriquecimento ilícito!

– Abaixoooooooooooooooooooooooooooooooo!

– Abaixo o nepotismo!

– Abaixooooooooooooooooooooooooooooooooo!

Nos mastros que se erguem no lugar, só se vêem bandeiras nacionais. Não há símbolo de nenhum partido. Apesar de se reconhecerem figuras da Renamo, da Frelimo, do MDM e de tantos outros, rodeando a mulher que sorri com franqueza ao dirigir-se à multidão que continua a entoar as canções de liberdade, de revolta e de vitória.

– Moçambique hoye!

– Hoyeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!

– Os tiranos, ziiiiiiiiiiiiiii!

– Ziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

– Os ladrões, ziiiiiiiiiiiiiiii!

– Ziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

– Moçambicanas, moçambicanos, hoje é o dia da nossa libertação. Viva a liberdade!

– Vivaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

– A luta continua!

– Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

– Muito obrigada!

* Este texto é da pura imaginação do autor

Alexandre Chaúque

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