Com a escassez de transportes semicolectivos, vulgo chapas, em algumas rotas da urbe, as motorizadas ganham terreno na cidade de Nampula e arredores, tornando-se no principal meio de locomoção da população. Este negócio que a edilidade pretende fiscalizar, centenas de moto-taxistas olham para actividade como uma alternativa ao desemprego, e uma forma honesta de garantir o sustento diário das suas respectivas famílias, ainda que informalmente.
Ainda não são 7h00 da manhã, porém, Filipe Estêvão, de 34 anos de idade, estaciona a sua mota à beira da estrada nas proximidades do emergente mercado informal que cresce a olhos vistos sobre a linha férrea no bairro de Carrupeia, arredores da cidade de Nampula. Há um mês que aquele local se tornou no seu posto de trabalho. Ele ganha o sustento diário para a sua família como moto-taxista, uma actividade que abraçou depois de anos sem ocupação.
Estêvão nunca teve um tra- balho formal, ou seja, desde sempre ganhou a vida no mercado informal. Durante muito tempo, dedicou-se à comercialização de produtos alimentares dentro das carruagens do comboio que faz o percurso Nampula-Cuamba e vice-versa. Porém, mais tarde, o seu negócio tornou-se insustentável e desistiu daquela actividade ambulante.
Sem uma fonte de rendimento – nem perspectiva de um emprego – e com uma família constituída por nove pessoas, ele decidiu transformar a sua motorizada pessoal em táxi. Adquiriu a mota na época em que se dedicava ao comércio de produtos no comboio. Para comprar o veículo, ele preciso de poupar quase todo o seu lucro e foram necessários aproximadamente nove meses. Mas o que Estêvão não imaginava é que hoje a mesma lhe seria útil para sustentar o seu agregado familiar.
Ele sai de casa para o trabalho às 6h30 e só regressa às 21h00. Por dia, em média, amealha 250 meticais, valor com o qual ga- rante o sustento da sua família.
“Não ganhamos quase nada, pois um litro de combustível custa entre 50 e 60 meticais e, para trabalhar durante o dia inteiro, são necessários pelo menos quatro litros. E como se não bastasse, a Polícia camarária vem extorquir-nos por não dispormos de licença”, desabafa.
O caso de Estêvão não é isolado. Na mesma situação estão outras centenas de pessoas que ganham a vida sobre duas rodas nas artérias de Nampula. Martinho Nicolau é um exemplo. Com o dinheiro que amealhou do trabalho de garimpeiro na província da Zambézia, adquiriu uma motorizada que presentemente é a sua fonte de rendimento.
Nicolau, de 22 anos de idade, tem a 12a classe concluída e uma família por sustentar. Sem emprego, usar a sua motorizada para fazer táxi foi o único caminho que encontrou para ganhar dinheiro. Obtém por dia, em média, 300 meticais, dos quais 150 se destinam à compra de combustível.
Um fenómeno Subitamente assistiu-se a um número cada vez mais crescente de moto-táxis. Todos os dias, centenas de taxistas circulam com as suas motorizadas pela cidade de Nampula, de lés a lés, tanto no período de dia como à noite.
Não há falta de clientes, até porque é mais prático para os munícipes que andar de “chapa” que, muitas vezes, rareia nas principais rotas. Os principais pontos são locais de grande aglomeração de gente como os mercados informais. Os preços variam. O mínimo que se cobra é cinco meticais.
Uma actividade ilegal
A nossa reportagem contactou Abdul Paulo, porta-voz do Con- selho Municipal da Cidade de Nampula, para perceber se a actividade dos moto-taxistas é legal, tendo o nosso interlocu- tor afirmado que o assunto já é do conhecimento da edilidade. “Existem muitos motociclistas a operar a nível da cidade de forma ilegal, mas com alguma razão, visto que o pelouro de Transportes ainda não tomou nenhuma medida diante do fe- nómeno”, disse.
Paulo afirmou que presente- mente decorre um processo de identificação do número de motociclistas que operam na cidade de Nampula de modo a fazer-se o registo e, depois, es- tipular-se o valor das taxas que serão aplicadas aos praticantes dessa actividade.
“A nossa postura camarária tem um artigo que aborda a necessidade de os praticantes da actividade pagarem impostos. Espera-se que se tenha um número considerável de moto-taxistas para o início da actu- ação por parte das autoridades municipais”, disse.
O nosso entrevistado afirmou que o município de Nampula tem conhecimento da perda que tem vindo a registar com a falta de actuação, mas tudo está a ser feito no sentido de reverter a situação. Enquanto isso não acontece, os agentes da Polícia Municipal vão extorquindo os moto-taxistas.