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A chuva mantém-se e os fundos para a assistência às vítimas das cheias esgotaram-se

O drama das cheias que assolam Moçambique, desde o início deste ano, ainda está longe de terminar. A chuva continua a cair intensamente, agora com maior incidência nas zonas Centro e Norte do país. Consequentemente, os níveis hidrométricos das bacias dos rios Zambeze, Púnguè, Inkomáti, Limpopo e Maputo mantêm-se elevados.

O levantamento dos danos materiais e das vítimas humanas causados por esta calamidade natural prossegue numa altura em que o Executivo diz que precisa de mais de 100 milhões de meticais para fazer face às inundações.

A Direcção Nacional de Águas (DNA) indicou que a bacia do Zambeze poderá registar subidas dos níveis de água por causa da chuva intensa que cai nos países a montante, nomeadamente na Zâmbia e no Malawi.

Caia e Marromeu estão com níveis acima do alerta. Rute Nhamucho, chefe de Departamento de Recursos Hídricos na DNA, referiu que face à previsão de chuvas em Moçambique, a bacia do Zambeze pode vir a transbordar e agravar a situação calamitosa em algumas zonas por onde passa.

Rita Almeida, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), declarou, na terça-feira (29) passada, que os 120 milhões de meticais alocados ao Plano Nacional de Contingência para mitigar os efeitos das calamidades naturais esgotaram. O Governo lançou um apelo à comunidade internacional, parceiros de cooperação e pessoas singulares para que prestem todo o apoio que for possível.

Por sua vez, João Ribeiro, director-geral do INGC, veio a público rebater esta informação ao afirmar que Moçambique dispõe de capacidade interna para assistir às vítimas das cheias e não precisa de ajuda internacional.

Segundo ele, a situação das enxurradas é grave mas ainda não está esgotada a capacidade interna para lidar com os danos materiais e apoiar as vítimas humanas. Entretanto, esta terça-feira (05), o Governo disse, depois da reunião do Conselho de Ministros, que o país precisa de mais de 100 milhões de meticais para as operações de resgate e assistência às vítimas das cheias.

Não se sabe ainda de onde virá este montante. Refira-se que em Moçambique a época chuvosa dura, habitualmente, até Março e Fevereiro é o mês de ciclones. Enquanto isso, o INGC actualizou a informação relativa às vítimas mortais em consequência das enxurradas no país, indicando que neste momento morreram 91 pessoas.

As últimas três pereceram no distrito de Gilé, província da Zambézia, Centro de Moçambique, devido ao desabamento das paredes das habitações onde se encontravam refugiadas.

Mais 136 mil pessoas resgatadas das áreas de risco

A Unidade Nacional de Protecção Civil (UNAPROC), organismo operativo que age em situações de busca e salvamento, refere que 136.708 pessoas que se encontravam em zonas de risco foram regatadas nas províncias de Gaza, Zambézia, Sofala, Maputo província e noutras partes do país.

O Conselho Técnico de Gestão de Calamidades (CTGC) reuniu-se esta terça-feira (05) em Maputo e apontou que em Gaza perto de 13.464 pessoas foram evacuadas nos últimos 15 dias. Desde Outubro do ano passado os ventos fortes, a chuva e, por conseguinte, as cheias afectaram 212.943 compatriotas em todo o território nacional. Deste número, 151.122 encontram-se nos centros de acomodação.

Na província da Zambézia, as comunidades de Lorela, Sopa, Muquera, Monea, Intabo e Mucoloma, na Maganja da Costa, nas quais vivem 18.385 pessoas, foram afectadas pelas inundações depois do rompimento do dique de protecção de Nante, em consequência da subida dos níveis do rio Licungo. Na mesma província, os povoados de Nhanguo, Muziva e Bate-Muziva, no distrito de Nicoadala, 1.800 pessoas foram resgatadas devido às cheias causadas pela chuva que cai há mais de uma semana.

Onze mil alunos sem aulas em Nicoadala

Mais de 11 mil crianças do ensino primário completo no distrito de Nicoadala, província da Zambézia, Centro de Moçambique, não estudam em consequência da chuva que destruiu 13 salas de aulas e inundou 12 escolas.

Neste momento, os alunos encontram-se refugiados nos centros de acomodação com os seus pais e encarregados de educação. Alguns professores foram igualmente afectados e perderam as suas casas, material didáctico e outros pertences.

Na localidade de Licuar, os alunos não vão à escola desde segunda-feira (28) e as autoridades estão a criar mecanismos para a recuperação do tempo perdido de modo que o cumprimento do calendário escolar não fique prejudicado, principalmente no tocante aos alunos da 7.ª classe que serão examinados no final do ano.

Quinze pessoas mortas em Nampula

Na província de Nampula, 15 pessoas morreram em consequência da chuva. As vítimas foram arrastadas pela água e atingidas por descargas atmosféricas na cidade de Nampula, na vila de Monapo e nos postos administrativos de Muhala, Natiquire, Namicopo e Muatala.

Para além de mesquitas e edifícios públicos destruídas, parcial ou completamente, 1.025 casas foram também atingidas. Por via disso, pouco mais de 781 famílias, o correspondente a cerca 4 mil pessoas, vivem ao relento ou em casas de familiares.

Cortes de estradas e desabamento de pontes condicionam o trânsito

A vias de acesso que ligam a cidade capital da província de Nampula aos distritos de Moma, Mogovolas, Angoche e Mogincual registam um trânsito condicionado devido ao corte de estradas e desabamento de algumas pontes de construção precária, em consequência da chuva intensa que caiu nos últimos dias.

A situação é mais crítica nas vias que ligam a vila-sede de Namitil, no distrito de Mogolas, a Chalaua, em Moma, e entre Namitil e o Posto Administrativo de Boila, em Angoche, onde duas pequenas pontes metálicas desabaram.

A Administração Nacional de Estradas (ANE) em Nampula disse ao @Verdade que para além daqueles troços, cenários idênticos são vividos entre os postos administrativos de Chipene e Lúrio, no distrito costeiro de Memba, onde, também, a ponte metálica desabou. A reposição vai exigir obras de engenharia e investimentos avultados.

As vias de acesso de terra batida, sobretudo as que ligam a capital provincial de Nampula aos pontos da zona sul, bem como a região do interior, como é o caso de Ribáuè, Malema e Lalaua, são as que apresentam problemas sérios de transitabilidade.

De 28 de Janeiro a 01 de Fevereiro, alguns transportadores semicolectivos de passageiros, maioritariamente de carrinhas de caixa aberta, que exploram as rotas Nampula/Moma, Nampula/ Ribáèue e Lalaua, paralisaram as actividades alegadamente porque as condições de transitabilidade nas referidas vias iriam agravar o deficitário estado mecânico das suas viaturas. Os utentes daquele serviço ficaram horas a fio nas paragens, sem transporte.

A ANE assegurou-nos que os troços afectados já estão em obras de reposição provisória dos solos e asfalto arrastados pelas enxurradas enquanto se aguarda pelo abrandamento da chuva para uma intervenção de grande envergadura. Estão disponíveis cerca de 13 milhões de meticais para esse tipo de trabalho.

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