Alguns clãs líbios disseram, esta quarta-feira, que não reconhecerão o novo governo do país, cuja divulgação na véspera reavivou rivalidades regionais que ameaçam a ainda frágil estabilidade nacional após a deposição e morte de Muammar Khadafi.
Ao montar o novo gabinete sob o comando do primeiro-ministro Abdurrahim el Keib, o Conselho Nacional de Transição (CNT, o governo provisório) tinha a necessidade de equilibrar os interesses das diversas facções tribais, regionais e ideológicas, que tentam ocupar o vácuo deixado pelo fim dos 42 anos do regime Khadafi.
Em princípio, as principais facções não mostraram discordâncias com o novo gabinete. Até mesmo os políticos islâmicos, privados de qualquer cargo importante, não se queixaram. Mas os grupos menores mostraram-se negligenciados.
Pela manhã desta Quarta-feira, cerca de 150 pessoas ligadas às tribos Awagi e Maghariba protestaram em frente a um hotel de Benghazi (leste) que serve de sede para o CNT, segundo testemunhas. “Não a um governo de forasteiros!”, dizia um cartaz.
O autointitulado Conselho Amazigh Líbio pediu a suspensão de todas as relações com o CNT, em protesto contra o novo governo. Os amazighs (ou berberes) são uma minoria étnica perseguida no regime de Khadafi, e que agora pleiteiam um maior reconhecimento do seu idioma e da sua cultura.
“O congelamento temporário será efectivo até que o CNT reconcilie as exigências dos amazighs líbios”, disse o grupo em nota. As nomeações para o novo gabinete pareceram colocar as afiliações regionais acima da experiência de cada cargo.
A chancelaria, por exemplo, foi entregue ao obscuro diplomata Ashour bin Hayal, oriundo de Derna (leste), um tradicional reduto anti-Khadafi.
Havia uma ampla expectativa de que o posto seria ocupado por Ibrahim Dabbashi, embaixador-adjunto na ONU, que rompeu com Khadafi no começo do ano.