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“25 de Setembro” pretexto para lançamento de livro “Tchanaze”

O 25 de Setembro, Dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e da Revolução, não só foi assinalado no pais e em Lisboa, Portugal, mas também em Luanda, a capital angolana. Este ano o 25 de Setembro coincidiu com o 45/º aniversário do desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional, que conduziu Moçambique à Independência em 1975. 

Com efeito, em Luanda, a data serviu de pretexto para o lançamento do romance “Tchanaze – A Donzela de Sena”, do escritor moçambicano Carlos Paradona Rufino Roque, evento que decorreu na sede da União dos Escritores Angolanos (UEA).

O lançamento contou com a presença de cerca de 50 pessoas, incluindo membros de direcção da UEA, o escritor, o embaixador de Moçambique em Angola, António Matonse, comunidade moçambicana e angolanos. Intervindo na ocasião, António Matonse sublinhou que o evento espelhava “eloquentemente a amizade e irmandade” que sustentam as relações entre a Associação dos Escritores Moçambicanos e a União dos Escritores Angolanos e testemunhava os laços de fraternidade e colaboração existentes entre escritores dos nossos países irmãos”. “Temos novamente em território angolano um escritor moçambicano que vai proceder ao lançamento da sua obra mais recente.

Ele vai fazê-lo quando a classe de escritores angolanos acaba de perder um dos seus melhores escribas – o escritor Costa Andrade “Ndunduma we Lépi”, disse o embaixador de Moçambique em Angola. O diplomata moçambicano, para além de expressar os agradecimentos ao Dr. Carmo Neto e à União dos Escritores Angolanos por acolherem o lançamento de tão interessante livro, aproveitou a ocasião para expressar “as sentidas condolências” pela morte daquele que foi um dos mais activos escritores da pátria de Agostinho Neto. Paradona Roque “traz-nos” o romance “Tchanaze – A Donzela de Sena”, uma história de morte e ressurreição de Tchanaze, “uma bela adolescente das terras de Manica, região central de Moçambique.

É uma estória fantástica, que combina a ressurreição, a encarnação e reencarnação, numa narrativa fluída que nos conduz aos meandros da sociedade rural moçambicana”, acrescentou Matonse. A estória, segundo ele, “é obviamente fictícia”, mas ela reflecte o universo sócio-cultural da sociedade rural moçambicana, quiçá urbano, constituído por uma teia de crenças e mitos, no qual o bruxo, o curandeiro e o feiticeiro desempenham um papel preponderante. Talvez a estória contada em duzentas páginas neste livro não se assemelhe à realidade, mas ela reflecte um passado histórico no qual os médium ou líderes espirituais da dinastia Makombe do Reino do Bárué ocuparam um lugar importante e agregador na organização política e militar do reino.

Como refere o historiador Domingos Artur do Rosário, no seu livro sobre Makombe, na alusão à encarnação: “Todos os Makombe tinham a virtude de se transformar ora em perdiz, pássaro, leão, em outro objecto segundo as circunstâncias e perigos em face. Temos, adiantou a fonte, pois, perante nós, um livro que penetra nas profundezas da nossa sociedade, evidenciando as suas crenças, filosofias e intrigas”. Nascido na Vila ferroviária de Inhaminga, província Central de Sofala, tendo iniciado ali a sua educação, Paradona transporta-nos ao longo da sua profícua imaginação através do poderoso e mítico Rio Zambeze – cujo leito é depositário de tudo o que o livro reflecte – relações humanas, guerras, catástrofes provocadas pelas cheias, destruição do tecido social, etc.

Este, de acordo com o diplomata, “é um bom livro, escrito por um escritor da chamada geração da Charrua – revista literária moçambicana editada e publicada nos anos 80 em Maputo, por jovens escritores idealistas e inconformados. O seu percurso passa pela Charrua, mas ele tem origens nas páginas literárias do Notícias da Beira, hoje Diário de Moçambique, o segundo maior diário moçambicano, publicado na Beira – a segunda maior cidade de Moçambique, que partilha a longa linha férrea que nos leva à Inhaminga, a sua terra natal, e ao interior do Vale do Zambeze”. Paradona assume no romance o papel de narrador, num texto de enredo tenso, onde o diálogo é escasso.

Ao longo da estória somos colocados perante um antigo dilema, que ainda perdura nos nossos tempos: da existência da vida para além da morte, do conflito entre o bem e o mal, entre anjos e demónios. “É um livro que vale a pena lê-lo, nem que não seja só para conhecer melhor o seu autor ou um pedaço da realidade do país irmão do Índico”, aconselhou Matonse. Por seu turno, a UEA, na voz de Carmo Neto, diz que o lançamento do romance foi uma oportunidade para levar aquilo que se escreve no Vale do Zambeze, do lado moçambicano, para o Atlântico. É também uma retribuição ao facto de se ter acolhido, em Moçambique, o lançamento de escritora angolana Isabel Ferreira, uns anos atrás.

“Eu sinto que este será ainda o momento para confirmar as vivências do Vale do Zambeze e as vivências das margens do mesmo rio, do lado angolano”, sabido que o Zambeze também passa por aquele país da Africa Austral, diz a UEA. Para Paradona, acrescenta, é ainda uma forma de transportar o delírio que a Tchanaze desperta nos mancebos do Zambeze de Moçambique para o outro lado. “Trata-se de perfumar as terras angolanas com o aroma das missangas da Tchenaze. É uma forma de levar ao público angolano os sonhos, as crenças do Vale do Zambeze”, adianta.

Esta ida de Paradona a Angola circunscreve-se também numa estratégia traçada pela Associação dos Escritores Moçambicanos e a União dos Escritores Angolanos, para que os escritores de ambos os países efectuem lançamentos regulares de um e do outro lado. “Os moçambicanos e angolanos convergem em muitos pontos na sua história e também na literatura”. Tchenaze é um romance surpreendente, onde Paradona desafiou-se a si próprio e em cerca de 200 paginas “faz-nos discorrer severamente pelo Vale do Zambeze inspirado em histórias contadas à volta da fogueira, nas demandas regulares que se faziam às margens do rio e seus confluentes, nas armadilhas de peixes e noutras histórias carregadas de mistério”.

È um livro – que também – não só exalta o deslumbramento do grande rio, assim como se curva perante a beleza da mulher personificada em Tchenaze.

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