A entrevista que se segue foi-nos concedida por Marcelino dos Santos, no seu gabinete de trabalho instalado na sede do Comité Central da Frelimo, em 01 de Abril do corrente ano, em Maputo, a nosso pedido.
– Senhor Marcelino dos Santos, pela afinidade literária que nos une, permita-me que lhe trate na primeira pessoa, pelo seu pseudónimo Lilinho da Micaia.
– Eu sei que gostas de me tratar por esse nome que funciona como meu amuleto eterno.
– O mote que me trouxe aqui é o senhor Zeferino Martins, a exercer actualmente as funções de ministro da Educação.
– Vamos perder tempo com esse irresponsável? Eu acho que temos coisas muito mais importantes para abordar, do que estar aqui a falar de um indivíduo que não pensa antes de falar. Zeferino Martins é um primitivo.
– Então não o demitem porquê?
– Há muitos ministros neste governo que nunca deviam tê-lo sido. Zeferino Martins não é, infelizmente, caso único. Ayuba Cuereneia é outro exemplo: dá-se ao desplante de vir a terreiro insultar os infectados pelo HIV-SIDA, esquecendo-se de que ele faz parte de um governo que devia ter responsabilidades sobre o seu povo.
Se os criminosos merecem ser tratados com dignidade, como é que um seropositivo é insultado por um indivíduo que, no mínimo, a assumir aquela descompostura, só pode ser um sacripanta?
– Já lhes disseste na cara alguma vez que eles nunca deviam ter sido ministros?
– Eu nem sequer olho para eles, pois julgam-se no pedestal. E se eles se julgam no pedestal, eu aonde é que estou? Na verdade quando eles morrerem amanhã, nunca ninguém se lembrará deles. Estão a passar por aqui sem que ninguém se aperceba de que estão a passar.
Estamos a falar do Zeferino Martins e do Ayuba Cuereneia, mas há muitos piolhos a assumirem cargos ministeriais. É por isso que nenhum deles tem nome, porque os piolhos nunca tiveram nome.
– Suponhamos, hipoteticamente, que o teu partido ganhe as eleições de 2014. Qual vai ser o destino destes ministros que só nos exasperam?
– É devolvê-los para onde sempre estiveram: no anonimato. Moçambique precisa de dirigentes que pensam, que agem, e não que andem no regaço do Presidente.
– Lilinho, tenho a impressão de que a tua postura como dirigente político mudou muito.
– Para o pior ou para o melhor?
– Agora me pareces ser um homem mais realista, mais pragmático, mais perto do chão, e até certo ponto revoltado contra muitos dos teus camaradas!
– O problema é que muitos desses camaradas a que te referes ainda não perceberam que a roda nunca mais voltará para trás. Não entendem que vão a tempo de sair da linha férrea para evitarem ser trucidados. O comboio está a uma velocidade esmagadora, e só os estúpidos é que se podem espantar diante deste percurso irreversível e avassalador da História. E querer travar este comboio como o corpo é, com certeza, uma grande estupidez.
– Lilinho, tu já saíste da linha férrea?
– (Risos).
– Se o Presidente Guebuza abandonar o poder, quem será, na tua óptica, o seu sucessor na Frelimo?
– Eu já não quero saber de nada. Eles que se mordam. E se já não tens mais perguntas a fazer-me, então deixa-me ir comer camarão.
– Para quando o teu livro de memórias?
– Nem Deus sabe, pá! (Risos).
* Entrevista fictícia