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Xïkwembo – Homem que é Homem III

– Ei, Joana, tens de fazer um xikwembo sobre os homens que vão ao salão! Na sexta-feira está cheio deles! Mesmo lá onde que eu vou, a sério! Vem lá ver um dia! No hemisfério Norte é uma luta espalhar um creme na pele, muitas vezes ressessa, de um homem!

Mas aqui em África não existe aquilo que se chamou de metro sexuais – por declarado desconforto para com os hábitos aparentemente afeminados de homens viris, de masculinidade comprovada (como futebolistas com mulheres esculturais e rebanhos de mais que dois filhos) – nada, aqui homem que é homem vai ao salão, arranja as unhas, hidrata a pele… Viajo para Nampula durante um final de semana e comigo viaja um moçambicano preocupado: – Ei, em Nampula onde vou fazer as unhas? Ontem nem tive tempo puxa… E todo o homem que é homem que visita a minha casa passa pelo toucador e pergunta: – Isto é creme? – E mesmo antes da minha resposta recebo um imediato:

– Ya, é de baunilha, tou a sentir, maningue nice! Mas homem que é homem é homofóbico. Não quer ouvir falar de homossexualidade nem em piada! Que não é natural, que não é lugar para essas práticas! Fala mesmo como se não coubesse a cada um a decisão sobre o que fazer com suas partes. E na sua falta de argumentos ainda avança: – Ok, podem fazer o que quiserem mas lá na casa deles, à minha frente não! Homem que é homem fala assim enquanto perfuma de óleo de jasmim o cabelo.

Porque homem que é homem sente que sensibilidade é motivo de vergonha. Homem que é homem não sente. Ou pelo menos não mostra. Homem que é homem não ama, está à espera do segundo filho mas nem tem tempo para o primeiro. Homem que é homem não chora, não partilha, não dá nem recebe. Talvez nalguns casos ele entenda sua dama, seja carinhoso, se lembre dos aniversários e até celebre com flores o dia dos namorados mas hoje… hoje é sextafeira e ele de mansinho vai introduzindo o assunto: – Hi, meu brada ligou-me… ysh já vai insistir para eu sair…

– Eu para mim não entendo, não é a vontade de sair, nem sequer o facto de sair com os bradas significar não sair comigo, até a isso já me habituei, mas as reticências, para que servem? De que vale a justificação de que são os bradas que estão a insistir, de que vai demorar uma, ou duas horas de tempo? – Eu te pedi? Não te pedi. Não me importa o tempo que ficas fora nem na verdade me importa o que fazes com esse teu tempo. – Pois, não soa bem não é? Damo não gosta do desinteresse que parece que esta formulação encerra e por isso eu não o disse, mas pensei.

Vejamos, eu não estou a falar de adolescentes, que facilmente se influenciam e se deixam influenciar pelos amigos, nada, falo de homens feitos, que sabem muito bem tomar decisões, no trabalho, em casa, e de certeza entre bradas. Mas não fica bem… Homem sai com os bradas. Não com a dama. Homem não come xiquento, come sempre da panela a comida acabada de fazer. Homem quando viaja não faz a mala, em casa não fala à empregada, não sabe das ementas, das compras de rancho mensais ou das arrumações. Porque para a maioria dos homens, isso é coisa de mulher.

Mulher serve para lhe organizar a casa e a vida, para lhe dar filhos, para casar, para apresentar à família… Para agarrar tem todas as outras. Para tchilar tem os bradas. Para pensar, discutir elaborar (os que se entregam a essas práticas) tem os colegas de trabalho… No fundo ao homem que é homem não lhe importa o que eu sinto e muito menos o que eu penso ou quais são as minhas considerações sobre política, sociedade, tecnologias ou desporto.

Esses não são assunto de mulher e quanto às temáticas que consideram femininas: saúde, espiritualidade, família, moda, gastronomia… essas não lhes interessam nem um pouco. E a mim a questão surge-me de rompante – interessar-seão mesmo os homens pelas mulheres? Eu tenho as minhas dúvidas. A piada surge, mas é mais digna de lamento que de riso:

“- O senhor casou com a sua mulher por amor ou por interesse? – Bom, deve ter sido por amor porque ela não me interessa para nada.” Isso é ser homem? Um leitor comenta de si para mim que não é por mal, ao homem que é homem falta crescer. Pois sim, nós mulheres aguardamos.

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