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XÏKWEMBO – Homem que é homem I

É sexta-feira, e homem que é homem na sexta-feira sai. Sozinho. Quero dizer, sem a sua dama. Porque moçambicano que é homem sai com os bradas, vai apreciar, ver uns rabos, agarrar umas boas, apanhar game, recolher contactos, vai sair! Eles damam há pouco tempo mas ela já sentiu. Por vezes saem juntos mas invariavelmente em determinado momento ele desaparece: – Venho já.

E dama fica. É suposto ficar. E como estiver! Sozinha, com conhecidos, família, anónimos, bradas ou manos, ela fica. Ele já vem. O “já” pode ter duração variável. Depende do lugar, das companhias, da ocasião, depende, mas acontece sempre, ele foi. Quando a saída é do tipo programa de final de semana, com os bradas e suas damas, ela e as damas ficam. Ficam por ali, juntas. Claro que por vezes não se conhecem. Olham-se. Conversam, mas a conversa não é interessada, animada, sequer justificada, a conversa é aquela mesma que se faz quando o damo baza. Quando ele baza para bater papo de homens, para chekar cenas, para gamear, para smokar, para beber. Por alguma razão, óbvia para muitos mas desconhecida para mim, há momentos impartilháveis. Final de semana seguinte damo quer viajar à África do Sul.

Chega a casa e informa do seu plano, ela entusiasma-se com as perspectivas de passeio, começa a pensar nas compras do mês, nas montras, talvez numa ida romântica ao cinema. Mas homem que é homem avisa logo que vai viajar com os bradas! Ok, ela reformula os planos, talvez então para cinema não dê, mas começa já a pensar que bolsa vai levar quando o damo esclarece que ELE vai à África do Sul com os bradas, ELE. E ela? Ela? Não sei, fica, né? Discutem, dama não quer aceitar, e é aqui que o damo usa o argumento inquestionável, irreparável, para ela inaceitável:

– Mas vês mais alguma mulher a ir? Assim não podemos falar à vontade! Porque constroem os homens relações com mulheres com as quais não estão à vontade é que eu não entendo, dama também não. Dama é como eu, estamos juntas, mas dama é jovem, ainda faita. Não aceita, discute, faz confusão, grita, esperneia. Ele? Ele fechalhe em casa à chave e, acreditando nas propriedades terapêuticas de uma porta fechada, vai embora! Mais tarde volta ela já ligou à mãe dele, à irmã e até à tia, já recorreu às vizinhas e ligou mesmo para o estrangeiro:

– Porque eu sei que ele foi para lá com os amigos só para andarem atrás das gajas. Sim, ela tem razão, mas homem que é homem é assim que faz. Dama não sabe, mas homem entende. Dama precisa de mais tempo mas não é de tempo para se inserir, é de tempo para se submeter, para observar bem à sua volta e ver que ninguém discute, que quando estão os bradas Moçambicano fica com bradas, e dama vai fazer suas coisas: cozinhar (mesmo que não saiba como); tratar das crianças (mesmo que não seja mãe); bater papo com as mulheres (mesmo que não as conheça), eu sei lá! Na hora da refeição a mulher serve o homem, um prato de comida – no qual ele em geral nem toca – um copo com bebida, que necessita de ser cheio várias vezes. Dama tem de entender, é assim.

Pelo menos quando os amigos estão por perto.

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